JOSÉ GEMA: Urban shades / Urban shades, por Sílvia Câmara
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03-02-2008
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URBAN SHADES
ou a cidade sob o olhar De Chirico
 

«Lembro-me de um vívido dia de Inverno em Versailles. O silêncio e a calma reinavam, supremos. Tudo me olhava misteriosamente, com olhos indagadores. E então percebi que todos os cantos do palácio, todas as colunas, todas as janelas possuíam um espírito, uma alma impenetrável (…). Nesse momento, percebi o mistério que leva a o homem a criar certas formas estranhas.»*

Giorgio de Chirico, “Mystery and Creation”

«(…) a arte, hoje mais do que nunca, deixa atrás de si um sombra, um perfil menos luminoso, que retrata o que de mais inquietante e enigmático lhe pertence.»

Mário Perniola, “A Arte e a sua Sombra”

 

«Ideia da Luz

Acendo a luz num quarto escuro; é um facto que o quarto iluminado já não é o quarto escuro, que perdi para sempre. E no entanto: não será ainda o mesmo quarto? Não será o quarto escuro o único conteúdo do quarto iluminado? Aquilo que não posso ter, aquilo que, ao mesmo tempo recua até ao infinito e me empurra para diante, não é mais que uma representação da linguagem, o escuro que pressupõe a luz; mas se renuncio a captar esse pressuposto, se volto a atenção para a própria luz, se a recebo – então aquilo que a luz me dá é o mesmo quarto, o escuro não hipotético. O único conteúdo da revelação é aquilo que é fechado em si, o que é velado – a luz é apenas a chegada do escuro a si próprio.»

Giorgio Agamben, “Ideia de Prosa”

 

Que horas são numa tela de Giorgio de Chirico? Que tempo nos é dado numa das suas cidades? Que luz rasa é essa que geometriza e abstracciona? O céu, augurando uma tempestade, parece sobressaltado por um sol que monumentaliza. As Sombras, de substância arquitectónica, agudizam os objectos. As Sombras são avatares que pressentem na treva. É este o Tempo e a Luz, são estas as Sombras materializados nas fotografias de José Manuel Gema.

Sílvia Câmara
Mestranda em Arte Contemporânea

 
*Tradução livre da autora.