MARIA ESTELA GUEDES
Este ano, o Festival Internacional de Poesia “POETRY NIGHTS”, realizado em Curtea de Arges, na Roménia, teve aspetos inusitados, enriquecedores culturalmente. Acontece que Lana, filha dos presidentes da Academia Oriente-Ocidente, Dumitru M. Ion e Carolina Ilica, organizadores do evento, casou com Tiago Miranda, músico português. Entretanto o casal teve um filho, Ion, cujo batizado fez parte das atividades, e muito bem, pois boa parte dos poetas, de educação religiosa católica, islâmica, hinduísta ou nenhuma, nunca tinha assistido, e ainda menos participado, em cerimónias religiosas numa igreja ortodoxa.
Foi uma hora de belos cantos e belas imagens, na igreja bizantina do século XVI, de Curtea de Arges, com alguns momentos mais emocionados, quando vimos despir o bebé, numa antecipação de que a água da purificação e da iniciação não se limitaria a uma cruz na testa com os dedos molhados na pia batismal. Com efeito, o menino mergulhou três vezes, de corpo inteiro, entre gritos, suponho que devidos ao choque térmico.
O festival de Curtea é muito importante, não só por promover o encontro e a permuta entre escritores de línguas maternas e culturas muito diversas, como por editar e traduzir. A Academia Oriente-Ocidente, segundo palavras de Dumitru M. Ion, é das mais produtivas da Roménia. Não somente se publicam e traduzem os poetas estrangeiros para romeno, como todos os anos sai uma antologia, multilingue, com as contribuições de cada participante, na sua língua materna e sempre em tradução romena. Para este ano, em vigésima terceira edição do Festival, eis a referência completa:
POESYS 23. Antologia Festivalului International Noptile de Poezie de la Curtea de Arges 2019. Editura Academiei Internationale Orient-Occident. Volumes 1 e 2.
O festival atribui prémios em várias modalidades. Este ano, o prémio Oriente-Ocidente foi para um poeta marroquino, Abdelouahhb Errami; o Grande Prémio de Poesia Europeia foi para um nascido em Cuba mas cidadão europeu, Omar Obregón-Garcia, e o mais cobiçado de todos recaiu sobre a obra de um mexicano, Roberto Resendiz Carmona.
Oxalá as Poetry Nights durem ainda muitos anos, é fecundo o abraço entre poetas, aprende-se a vida no contacto com os diferentes e também nos sentimo felizes na convivência com familiares linguísticos.