..COLÓQUIO INTERNACIONAL "A CRIAÇÃO". CONVENTO DE S. DOMINGOS. LISBOA. 2001 | |
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Introdução |
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As hipóteses que pretendem explicar a formação das espécies biológicas agrupam-se, tradicionalmente, em dois conjuntos: evolucionistas e criacionistas. As primeiras pressupõem a produção de descendência com modificações, as quais, desviantes ou cumulativas durante muitas gerações, poderão originar uma nova espécie, ou seja, um sistema geneticamente isolado de todos os outros, incluindo a espécie ancestral. Estas hipóteses postulam como início da biodiversidade a formação de uma única espécie (ou poucas espécies: protótipos de Darwin), que, por divergência progressiva ao longo de milhões de gerações, terá originado todas as espécies fósseis e actuais. Tais hipóteses creditam o ambiente como factor essencial do processo evolutivo, embora o seu papel seja diferentemente interpretado: alteração ambiental suscitando a modificação biológica, que seria hereditária e aditiva (Lamarquismo) ou ambiente seleccionando a variabilidade (genética) aleatória mais adequada às circunstâncias geracionais (Darwinismo). Ainda que nunca se tenha observado a formação de uma nova espécie, pois a evolução é um fenómeno histórico, lento e gradual1, o conhecimento que temos dos processos genéticos e dos factos biogeográficos, taxonómicos, morfológicos, embriológicos e paleontológicos e as inferências que as interrelações deles consentem, apontam a teoria sintética, ou síntese moderna - forma actualizada do neo-darwinismo -, não como hipótese, mas antes como teoria evolutiva comprovada dia a dia. As hipóteses criacionistas não aceitam a capacidade de as espécies evolverem. Consideram-nas constantes e imutáveis (fixismo) até à sua eventual extinção. Perante isto, o processo de origem das espécies seria o da sua criação. Mas, criação por quem e como ? Por Deus, directamente (criacionismo bíblico conforme ao relato do Génesis) ou por delegação em poderes da natureza (geração espontânea, na versão de Santo Agostinho), ou por heterogonia (o germen de uma espécie produziria outra espécie). O criacionismo bíblico, descrito no primeiro livro do Antigo Testamento e, frequentemente, tomado como efectivo, representa a perspectiva fundamentalista do criacionismo. Durante muitos séculos, recusou-se a visão liberal de Santo Agostinho, que considerava o relato bíblico como alegórico e admitia que Deus concedera à natureza o potencial para produzir organismos a partir do inanimado (Mayr, 1982). Nestas condições, a ideia de geração espontânea era repudiada por herética e ficaram célebres as experiências de Redi, Spallanzani e Pasteur, que demonstraram, em diferentes tempos e para distintos níveis de organização, a sua impossibilidade nas circunstâncias ambientais actuais. Na versão tradicional do criacionismo, que predominou mais de milénio e meio, o centro de dispersão das espécies criadas por Deus teria sido o local em que encalhou a Arca de Noé por via do abaixamento progressivo da inundação diluviana. Foi nos Montes Ararat, na Arménia, que a arca pousou, dela emergindo um casal de cada uma das espécies que Noé recolhera conforme instruções divinas. Se esta versão pudera aceitar-se literalmente, embora com dificuldades, enquanto o homem só conheceu o Velho Mundo, a sua inverosimilhança tornou-se evidente quando ele acedeu ao continente americano. Na realidade, o bloco Eurásia/África exibe certo grau de contiguidade entre os continentes que o formam. O Novo Mundo, porém, encontra-se isolado de todos os outros continentes por vastíssimos oceanos. Assim, faziam-se necessários aditamentos ou alterações que contemplassem a realidade dos factos histórico-naturais progressivamente conhecidos, sobretudo aqueles que o estudo dos fósseis, incipiente mas prometedor, ia revelando. Criações múltiplas em vez de uma única, sucessivas em vez de simultâneas, catástrofes aniquiladoras compensadas por migrações ou novas criações, etc., tudo se chamou à colação para preservar o criacionismo bíblico. Em vão. As novas dificuldades que cada emenda vinha suscitar anulavam rapidamente o seu valor justificativo. Para quê, então, insistir se a teoria Darwinista satisfaz com simplicidade e economia as questões sobre a origem, evolução e dispersão das espécies ? É esta a perspectiva que persiste e se avoluma em provas desde há século e meio. Todavia, no século XVI, quando os primeiros 'naturalistas' começaram a interrogar-se sobre as faunas e floras da América do Sul, só então descoberta e colonizada, as certezas eram bem diferentes. No que segue, tentar-se-á penetrar no entendimento deles. |
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A natureza neotropical |
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Graças a uma separação muito antiga dos outros continentes, provavelmente desde o Cretácico Inferior (c. 140 milhões de anos), a natureza evolveu na América do Sul em completo isolamento. Apenas há cerca de três milhões de anos (Pliocénico Superior) o istmo centro-americano estabeleceu a conexão entre as Américas do Norte e do Sul, verificando-se desde então a migração de algumas espécies terrestres de um para outro continente. A evolução das espécies vegetais e animais durante tão longo isolamento conferiu um carácter muito particular à flora e à fauna sul-americanas, destacando-as das restantes. Botânicos e zoólogos reconhecem, por isso, o continente sul-americano como uma região biogeográfica distinta das outras, a Região Neotropical. Mais precisamente, devido à zonação climática e às migrações atrás referidas, esta Região estende-se, a norte, até ao sul do México. Na sua globalidade, é condicionada por climas tropicais e subtropicais na maior extensão do seu território, que, naturalmente, influenciam a flora e a fauna. Os traços mais conspícuos das formações vegetais predominantes conferem uma fisionomia particular a cada zona climática. Assim, ao abordarem e penetrarem na Região Neotropical, os colonizadores depararam com vegetações distintas de acordo com a latitude, a pluviosidade, a humidade e outros factores: a pluvisilva tropical (por exemplo, na bacia do Amazonas), com enorme diversidade vegetal (60 a 100 espécies arbóreas por hectare), estratos sucessivos, raízes superficiais e tabulares, abundantes lianas e epífitas; a floresta semiperenifólia (litoral centro-norte do Brasil, por exemplo), de menor diversidade, com árvores mais baixas e raízes mais extensas, queda das folhas na época seca (mais de dois meses) e renovação delas na estação pluviosa; o cerrado (centro do Brasil), savana de gramíneas xeromorfas e árvores e arbustos isolados ou em grupos; a caatinga (Argentina), savana de vegetais espinhosos e suculentos; semidesertos (pluviosidade inferior a 500 mm anuais) e desertos (inferior a 200 mm) do Chile. Formações vegetais semelhantes, reconhecidas pelos mesmos ou diferentes nomes, encontram-se noutras regiões do globo em que a zonação climática é idêntica. As espécies que as constituem são, porém, distintas. Na Região Neotropical, a grande maioria das plantas são próprias e exclusivas desta divisão biogeográfica, embora muitas tenham afinidades com espécies de outras regiões tropicais. A fauna neotropical é relativamente bem conhecida desde a segunda metade do século XIX, graças às muitas expedições que percorreram a América do Sul. Com um número impressionante de espécies endémicas (Wallace, 1876), algumas lembrando espécies holárcticas ou africanas, outras muito diferentes, não podia deixar de surpreender quem, primeiramente, a observou. Nos relatos dos colonizadores do século XVI vê-se que a maioria foi, naturalmente, atraída pelas formas mais exuberantes e desconhecidas na Europa. Mas, também houve os que, curiosamente, abordaram a fauna como se espécies não diferentes das europeias ou africanas a constituíssem. Entre as muitas espécies peculiares, chamaram primeiramente a atenção as maiores, mais conspícuas ou estranhas: macacos de septo nasal alargado (platirríneos) e cauda preênsil; vampiros (morcegos hematófagos); puma e jaguar, que os colonizadores tornaram homólogos do leão e do tigre, respectivamente; manatins, ou peixes-bois, de carne tão saborosa que foram quase extintos; tapires; pecaris, "com um umbigo nas costas"; guanacos, os camelídeos do Novo Mundo; chinchilas (Andes); cobaias, ou porcos da Índia; preguiças, tatus, ursos-formigueiros, sarigueias, etc.. Nas aves, um número enorme de famílias exclusivamente neotropicais e outras não exclusivas, mas de extraordinária exuberância na América do Sul. Ao todo, só no Brasil, mais de 1650 espécies! Entre outras, magníficas araras e papagaios, colibris, surucuás, uirapurus, dançarinos, anambés, arapongas, arapaçus, tucanos, araçaris, bicos-de-brasa, arirambas, udus, mutuns, jacus, inhambus, ciganas, seriemas, jacamins e muitas mais. As jibóias enormes, serpentes venenosas variadas, iguanas, jacarés, diversas tartarugas e rãs, sapos e relas, bem como grande variedade de peixes dulciaquícolas, entre os quais diferentes raias (grupo que, noutras regiões, é apenas marinho ou estuarino), a arapaima (que pode atingir vários metros), a enguia-eléctica, dipnóicos (grupo compartilhado com a África e Austrália), etc., completam o quadro no tocante a vertebrados. Quanto aos invertebrados, um universo de estonteante diversidade: maravilhosas borboletas, escorpiões e aranhas venenosas, mosquitos temíveis pelo incómodo das suas picadas, térmitas devastadoras de casas e culturas, crustáceos e moluscos, alguns comestíveis e apetecidos, etc. Enfim, também neste caso um mundo diferente e novo. |
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Naturalistas do século XVI na Região Neotropical |
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A abordagem do continente sul-americano por colonizadores e missionários, iniciada no século XVI, reveste-se de aspectos muito interessantes. Sobretudo, o contacto com a fauna bravia, abundante na época a crer nos seus relatos, mas também a observação das árvores e plantas em geral. Uns reconheceram na biodiversidade diferenças importantes relativamente às espécies europeias ou africanas com que estavam mais familiarizados. Outros, talvez menos bons observadores, identificaram as espécies como se europeias fossem ou por contraste com estas. Homens da Igreja na maioria, conheciam Aristóteles e Plínio, na melhor das hipóteses, embora um ou outro revele algum contacto com obras coetâneas de zoologia, por exemplo as de Pierre Belon e Guillaume Rondelet. Como reagiram perante uma natureza tão exuberante e diferente da que conheciam? Alguns exemplos mostrá-lo-ão (ver também Almaça, 2002). Numa posição fundamentalista, distante da de Santo Agostinho, afirma-se o calvinista Jean de Léry (1534-1611). Estupefacto pela magnificência de certas aves, como por exemplo a arara-canindé (Ara ararauna), escreveu (Léry, 1580, p.150): "... quanto à plumagem, não se acredita que em todo o universo possam encontrar-se aves de mais maravilhosa beleza; assim, ao contemplá-las, há boas razões para glorificar o excelente e admirável criador delas e não a natureza, como fazem os profanos."2. Criacionismo divino, estrito e indiscutível. Os católicos portugueses não cogitaram dentro das mesmas linhas. Perante o exotismo e estranheza do mundo tropical não hesitaram em recorrer à geração espontânea. Acerca dos muitos animais venenosos encontrados no Brasil, diz Gândavo3 (1958, p. 38) que "... pela disposição da terra e dos climas que a senhoreiam nem pode deixar de os haver... porque como os ventos que procedem da mesma terra, se tornem inficionados das podridões das ervas, matos e alagadiços, geram-se com a influência do Sol ... muitos e mui peçonhentos, que por toda a terra estão esparzidos ..." Fernão Cardim (1548? - 1625), jesuíta que permaneceu longamente no Brasil e visitou todas as capitanias, compartilhava a opinião de Gândavo. Com efeito, em manuscrito redigido em 1584 e, posteriormente, impresso por mais de uma vez, Cardim (1997, pp. 49-50) escrevia, a propósito dos animais venenosos: "Parece que este clima influi peçonha, assim pelas infinitas cobras que há, como pelos muitos Alacrás, aranhas, e outros animais imundos, e as lagartixas são tantas que cobrem as paredes das casas, e agulheiros delas." Cardim, no entanto, também atribuía ao clima a grande beleza das aves, pois "... parece influir formusuras nos pássaros, e assim como toda a terra é cheia de bosques, e arvoredos, assim o é de formosíssimos pássaros de todo género de cores." E ainda José de Anchieta (1534-1597), outro jesuíta, que foi para o Brasil com dezanove anos e aí viveu o resto da vida. Consagrou-se como o primeiro grande naturalista do Brasil, embora as suas observações e reflexões apenas constassem de informações enviadas ao geral da Companhia de Jesus. Na sua informação de 1585 (Anchieta, 1933b) sublinha que o clima "parece influir peçonha nos animais e serpentes e assim cria muitos imundos, como ratões, morcegos, aranhas muito peçonhosas." Contudo, para além desta forma de criação a partir da água, matéria orgânica em decomposição e influência do clima, também os nossos missionários-naturalistas acreditaram na transformação de uma espécie noutra - heterogonia. Não se trata, neste caso, de qualquer modo de evolução saltacionista, pois as espécies implicadas já existiam anteriormente e ambas se reproduziam também normalmente. Assim, Cardim (1997, p. 88) afirma que o guainumbig (um colibri) " ... tem dois princípios de sua geração; uns se geram de ovos como outros pássaros, outros de borboletas, e é cousa para se ver, uma borboleta começar-se a converter neste passarinho, porque juntamente é borboleta e pássaro e assim se vai convertendo até ficar neste formosíssimo passarinho." E o próprio Cardim distingue a heterogonia da geração espontânea, ao dizer " ... cousa maravilhosa, e ignota aos filósofos pois um vivente sem corrupção4 se converte noutro." Anchieta, na sua primeira informação ao geral dos jesuítas, em 1860 (Anchieta, 1933a ), já dava crédito à crença da heterogonia: um dos 'géneros' de guainumbi, segundo se afirmava, gera-se da borboleta. Talvez Cardim, que passou alguns anos em Roma (1598 a 1601), tenha colhido a novidade dos papeis de Anchieta. Este, contudo, fora mais longe, pois, a propósito do bicho-da-taquara5, ou rahú, acreditou numa heterogonia múltipla: "Destes insectos uns se tornam borboletas, outros saem ratos, que construem a sua habitação debaixo das mesmas taquaras, outros porém se transformam em lagartas, que roçam as ervas." É interessante verificar que estes jesuítas faziam fé em ideia muito antiga, dos tempos de Aristóteles e Teofrasto. A heterogonia é referida, sob várias formas, pelos filósofos-naturalistas nos escritos que se lhes atribuem: transformação de uma espécie de peixe noutra, também já conhecida, para além da reprodução normal de ambas; germinação da semente de uma planta, originando outra de espécie diferente. José de Acosta (1539? - 1600), também jesuíta, missionário no Peru, foi mais profundo e completo nas suas reflexões sobre a natureza neotropical. Escreveu e publicou em 1590 a conhecida obra História Natural e Moral das Índias, em castelhano. Neste livro insere várias observações e reflexões sobre os animais neotropicais. Assim, no capítulo sobre os animais 'europeus' que os espanhóis encontraram nas Índias (Acosta, 1606, pp. 182-184), escreveu6: "Aí [nas Índias Ocidentais] se encontraram animais da mesma espécie que [as que conhecemos] na Europa, sem que tivessem sido transportados pelos espanhóis. Há leões, tigres, ursos... não sendo verosímil que tivessem alcançado as Índias pelo mar, dado ser impossível atravessar o Oceano a nado, e sendo loucura pensar que os homens os tivessem embarcado consigo, conclui-se que este mundo [a Europa] é contíguo ao novo em algum lugar por onde estes animais passaram e povoaram, pouco a pouco, o Novo Mundo: na realidade, sabe-se das Escrituras que estes animais se salvaram na Arca de Noé e dela saíram e se multiplicaram." Refere depois formas e hábitos de animais americanos, citando lugares como Cusco, Charcas, Tucuman e Cartagena. É evidente que Acosta se iludiu com os nomes atribuídos a espécies morfológica ou comportamentalmente parecidas com as do Velho Mundo. E insiste na identificação onomática ao tratar das aves das Índias, dizendo (p. 184): "Aí existem da mesma espécie das daqui [Espanha], como as perdizes, rolas, pombos, codornizes e diversas espécies de falcões, que se enviam da Nova Espanha e do Peru aos senhores de Espanha ..." Todavia, no capítulo 36 (1606, pp. 185-186), interroga-se sobre a possibilidade de existirem nas Índias algumas espécies que não se encontram em mais nenhum lugar: "É mais difícil de mostrar e provar o começo de várias espécies que vivem nas Índias, mas que não existem neste continente [Europa]. Pois, se o Criador as produziu nesses lugares, nem vale a pena recorrer à Arca de Noé, nem havia, portanto, necessidade de salvar todas as espécies animais se outras deviam ser criadas de novo. Por outro lado, não se poderá dizer que o mundo foi feito e acabado nos seis dias da criação se havia ainda novas espécies a formar, principalmente de animais perfeitos, e não menos excelentes do que as que conhecemos." No entanto, se porventura todas as espécies foram mesmo na Arca de Noé, como passaram aos outros continentes ? Acosta responde à sua própria interrogação (p. 185): "É, na verdade, uma questão que há muito me deixa perplexo. Por exemplo, se os carneiros do Peru e aqueles que chamam Pacos e Guanacos não se encontram noutras regiões, quem os levou para o Peru ou como lá foram parar, uma vez que, tanto quanto se sabe, não existem em mais nenhum lado? Se não vieram de outro lugar, como se originaram lá? Terá Deus feito, porventura, outra nova criação de animais?" Só um instinto natural e a providência poderiam distribui-los assim ao abandonarem a Arca, conclui Acosta. São de grande lucidez, como se vê, as interrogações de Acosta. Antes de qualquer outro naturalista, Acosta pôs a hipótese das criações múltiplas, forma de não contradizer, mas sim de complementar e acordar o Génesis com os factos observados. Esta versão seria ressuscitada muito mais tarde, no século XIX, na tentativa de resolver os problemas suscitados pelo criacionismo bíblico à investigação sobre a dispersão das espécies. Todavia, como geralmente tem acontecido, os desenvolvimentos ou hipóteses científicas dos naturalistas ibéricos são completamente silenciados, atribuindo-se tais propostas a autores do centro e norte da Europa. Assim aconteceu com as criações múltiplas, bem como se ignorou a participação dos colonizadores do Brasil na defesa da geração espontânea e da heterogonia. |
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NOTAS |
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1 Exceptuam-se os casos, ao que parece muito raros, de especiação instantânea (por exemplo, a formação de espécies alopoliplóides). |
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS |
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Acosta, José de, Histoire naturelle et morale des Indes, tant Orientales qu'Occidentales, traduite en François par Robert Regnault Cauxois, Paris, 1606. |
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