Cratera do meteoro de Barringer

 

 

 

 

 

 

 

A.M. GALOPIM DE CARVALHO


Há cerca de 50 000 anos, no Pleistocénico, ainda a calote gelada da glaciação Wisconsin (Würm, na Europa) cobria as latitudes do norte da Califórnia e da Pensilvânia, um asteroide com cerca de 50 metros de diâmetro, deslocando-se à velocidade de cerca de 13 km/s, colidiu com a Terra, no planalto desértico do Arizona (EUA), abrindo uma cratera com cerca de 1200 m de diâmetro e 170 m de profundidade. O local do impacto, cerca de 60 km a leste de Flagstaff, dista 3 km para leste do Canyon Diablo, nome do arroio que ali corre num vale profundo, em canhão.

 

Esta estrutura foi primeiramente referenciada pelos colonos americanos que, na segunda metade do século XIX, estabeleceram ali a comunidade de Canyon Diablo, hoje uma cidade fantasma, dado que se extinguiu no início do século XX. Embora a não soubessem explicar, foram eles que a deram a conhecer.

Em 1902, o geólogo e empresário mineiro americano, Daniel Barringer (1860-1929), teve conhecimento desta cratera e sabendo da existência de milhares de fragmentos de ferro parcialmente oxidados e espalhados nas redondezas, foi o primeiro a interpretá-la, com argumentos válidos, como tendo sido produzida pelo impacto de um grande meteorito férrico. Os ditos fragmentos, designados oficialmente como sendo do meteorito do Canyon Diablo, permitem supor que se separaram do corpo principal antes da colisão. Diga-se que, muito mais tarde, em 1960, geólogo e astrónomo dos EUA, Eugene Shoemaker (1928-1997) descobriu coesite e stishovite em rochas com quartzo do interior da cratera. Estes dois minerais polimorfos de sílica só ocorrem em rochas sujeitas às enormíssimas pressões geradas neste tipo de ocorrências, confirmando, assim e de vez, a interpretação de Barringer. Uma outra descoberta importante atribuída a este investigador foi a do chamado quartzo de choque ou de impacto. Em 1959, Shoemaker descobriu que, sob pressões suficientemente intensas e instantâneas (como são as desenvolvidas pelas explosões nucleares em ensaios subterrâneos) a estrutura cristalina do quartzo se deforma segundo certos planos no interior do cristal, criando como que lamelas, ditas de choque ou de impacto que, ao microscópio, são visíveis como linhas paralelas.

A cratera do Meteoro está cercada por um rebordo saliente 45 m acima da planura circundante. Este rebordo já foi mais elevado, dado que se estima ter perdido, por erosão, 15 a 20 m de altura, desde a sua formação, como parte constituinte da estrutura da cratera. Diga-se, no entanto, que ela é o astroblema terrestre mais bem conservado e estudado. A sua idade relativamente jovem (em termos geológicos), os atrás referidos 50 000 anos, e o clima seco do Arizona, permitiram que permanecesse com uma imagem muito próxima da que teve na origem.

Acreditando que a maior parte do asteróide se encontrava enterrada no interior da cratera, Daniel Barringer obteve, em 1903, licença de mineração numa área até 2,6 km em redor do centro da cratera. Criou, então, a “Standard Iron Company” que fez perfurações entre 1903 e 1905, mas não encontrou quaisquer vestígios de ferro.

Ele não sabia que a maior parte do meteorito se vaporizara no calor resultante da colisão. No caso do ferro, a temperatura para que tal aconteça é de 2861 ºC. Só anos depois, o astrónomo americano, Forest Ray Moulton (1872-1952), com base em cálculos sobre a energia desenvolvida no impacto, concluiu que a parte do asteróide que atingiu o solo se vaporizou no preciso momento da colisão.

O interior da cratera está preenchido com material do subsolo brechificado e transformado pela pressão e calor decorrentes da colisão, sobre o qual se depositaram alguns metros de sedimentos resultantes da erosão das paredes.

Em 1906, o Presidente Roosevelt autorizou o estabelecimento de uma nova estação dos correios na proximidade da cratera, com o nome de Meteor e, daí, o nome de Cratera do Meteoro (Meteor Crater, na versão original). O nome Cratera Barringer, por que é igualmente conhecida, preferido pela comunidade científica, representa uma homenagem ao atrás referido geólogo e empresário mineiro, o primeiro a interpretá-la correctamente como um astroblema.

Não há um, mas milhares de fragmentos do que podemos designar por meteorito de Canyon Diablo, encontrados nas proximidades. Aconteceu que, momentos antes do impacto, o meteoro se desintegrou parcialmente, espalhando os respectivos fragmentos numa área em redor da cratera.

O seu estudo mostrou tratar-se de um siderito, quimicamente composto por 92,28% de ferro; 7,1% de níquel; 0,46% de cobalto; 0,26% de fósforo; 1,0% de carbono; 1,0% de enxofre e 1,9 ppm de irídio, entre outros elementos-traço. No seu interior há nódulos com grafite, troilite e diamantes nanométricos. Em 1905, o químico francês Ferdinand H. Moissan (1852-1907), observou e descreveu aqui a presença de carboneto de silício, espécie mineral a que, em sua homenagem, foi dado o nome de moissanite.

Em 1953, o geoquímico norteamericano, Clair Cameron Patterson (1922-1995), calculou com base no estudo do meteorito de Canyon Diablo, o valor de 4550 milhões de anos, para a idade da Terra, um valor muito próximo do actualmente aceite (4540 milhões de anos ± 1%).

O maior de entre os milhares de meteoritos de Canyon Diablo, é o Holsinger, com 1,2 m de comprimento e cerca de 639 kg de peso, exposto no Centro de Visitantes localizado no bordo da cratera.