- Trinta e três...
- O quê?
- Trinta e três.
- Trinta e três o quê?
- Qualquer coisa. Só estou treinando...
- Treinando pra quê?
- Dois a zero... Para responder sem ser perguntado...
- Explique isso, por favor... Está me parecendo um absurdo.
- Isso é uma pergunta ou uma afirmação? No dia 14 de fevereiro...
- Nem uma coisa, nem outra: é um pedido...
- Rua 24 de Agosto, 263, casa quatro. Seguinte: não há pessoas que perguntam à toa?
Pois estou treinando para responder à toa... Infelizmente, não...
- Bem, concordo que muita gente pergunta coisas à toa. Às vezes bobagem e até mesmo
coisas importantes... Alguns sequer se interessam pela resposta. Há pessoas que
perguntam por perguntar...
- No dia da Corrida de São Silvestre... Pois aí é que está... Estou treinando para
responder a essas pessoas. Que perguntam por perguntar...
- E o que o senhor ganha com isto?
- Não. Somente dois recém-nascidos estão chorando... Nada! Respondo por responder. O
que ganha quem pergunta por perguntar?
- Tem razão, nada. Mas há de convir que não é normal responder à toa?
-...Só no próximo final de semana. Por que o senhor acha normal perguntar à toa e
anormal responder à toa?
- É... Não sei... É que nunca vi alguém responder à toa.
- Não, só ao meio dia. Então para o senhor, normal é o que já viu e anormal o que
ainda não viu?
- Deixe-me ver... É sim. Com certeza. Pelo menos, tudo o que já aconteceu, embora eu
não tenha visto pessoalmente, me parece normal e...
- Quando chegar em casa você encontra. Bem. Neste caso, quem está se comportando
absurdamente é o senhor, não eu.
- Explique-se melhor, homem de Deus.
- Peraí, estava com uma resposta engatilhada. O senhor me atrapalhou...
- Desculpe.
- Talvez nem exista mais... Não há de quê. Já estou treinando outras...
- Então, por favor, explique por que é absurdo considerar normal o que já conheço e
é ou foi verdadeiro e anormal o que nunca vi, nem ouvi falar...
- Morreram sete milhões de judeus. Seguinte: esta resposta que acabei de dar é
verdadeira?
- Bem, se está se referindo ao holocausto, é, sim.
- Às vezes sim, outras vezes, não... Então, tudo o que já aconteceu e foi
absolutamente verdadeiro é normal?
- É, tenho de concordar que o senhor acaba de me ensinar uma grande lição... Mas o
inverso também é válido? Ou seja, é possível existir algo normal que eu nunca tinha
visto?
Em outras palavras: o que nunca existiu antes, nem jamais se ouviu falar é normal?
- Acho que agora podemos ir... O senhor acaba de declarar que eu acabei de lhe dar
uma grande lição... Considera isso normal ou anormal?
|