--Não! exclamei de repente.
--Não quê?
Tinha havido alguns minutos de silêncio, durante os quais refleti muito e acabei por uma idéia; o tom da exclamação, porém, foi tão alto que espantou a minha vizinha.
--Não há de ser assim, continuei. Dizem que não estamos em idade de casar, que somos crianças, criançolas,--já ouvi dizer criançolas. Bem; mas dous ou três anos passam depressa. Você jura uma cousa? lura que só há de casar comigo?
Capitu não hesitou em jurar, e até lhe vi as faces vermelhas de prazer. Jurou duas vezes e uma terceira:
--Ainda que você case com outra, cumprirei o meu juramento, não casando nunca.
--Que eu case com outra?
--Tudo pode ser. Bentinho. Você pode achar outra moça que lhe queira, apaixonar-se por ela e casar. Quem sou eu para você lembrar-se de mim nessa ocasião?
--Mas eu também juro! Juro, Capitu, juro por Deus Nosso Senhor que só me casarei com você. Basta isto?
--Devia bastar, disse ela; eu não me atrevo a pedir mais. Sim, você jura... Mas juremos por outro modo; juremos que nos havemos de casar um com outro, haja o que houver.
Compreendeis a diferença, era mais que a eleição do cônjuge, era a afirmação do matrimônio. A cabeça da minha amiga sabia pensar claro e depressa. Realmente, a fórmula anterior era limitada, apenas exclusiva. Podíamos acabar solteirões, como o sol e a lua, sem mentir ao juramento do poço. Esta fórmula era melhor, e tinha? a vantagem de me fortalecer o coração contra a investidura eclesiástica. Juramos pela segunda fórmula, e ficamos tão felizes que todo receio de perigo desapareceu. Éramos religiosos, tínhamos o céu por testemunha. Eu nem já temia o seminário.
--Se teimarem muito, irei; mas faço de conta que é um colégio qualquer; não tomo ordens.
Capitu temia a nossa separação, mas acabou aceitando este alvitre, que era o melhor. Não afligíamos minha mãe, e o tempo correria até o ponto em que o casamento pudesse fazer-se. Ao contrário, qualquer resistência ao seminário confirmaria a denúncia de José Dias. Esta reflexão não foi minha, mas dela.
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