Conglomerados

A.M.GALOPIM DE CARVALHO
Conglomerado, uma palavra vulgar com importância no vocabulário geológico


Substantivo ou, como alguns gostam de dizer, sintagma nominal, a palavra conglomerado, construída a partir do adjectivo verbal do verbo conglomerar (do latim “conglomerare”, com o significado de aglutinar, aglomerar, agregar ou juntar), em que o elemento aglutinador pode ser uma cola, um cimento, uma vontade expressa, um acordo ou outro, é uma expressão vulgar da língua portuguesa com um significado geral, o de elementos unidos numa massa ou corpo coeso, e múltiplos significados particulares, como, por exemplo, conglomerado de estrelas, conglomerado de madeira ou conglomerado de empresas.

No discurso geológico corrente entre profissionais, o vocábulo conglomerado, em sentido restrito, dito ou escrito isoladamente, refere uma rocha sedimentar coesa, resultante da aglutinação de calhaus arredondados ou rolados, em que o elemento aglutinante é um cimento natural, que tanto pode ser de natureza argilosa, como siliciosa, carbonatada ou ferruginosa.

Por convenção entre sedimentólogos e em termos de sistemática, na petrografia sedimentar, o termo conglomerado tem um sentido mais amplo, o de uma subclasse no conjunto das rochas sedimentares terrígenas, ditas conglomeráticas, caracterizadas pela dominância de fenoclastos (do grego phainós, visível, e klastós, quebrado), no sentido de fragmentos, clastos ou detritos rochosos ou minerais, maiores dos que os grãos de areia, ou seja, por convenção, de diâmetro superior a 2mm, independentemente do seu carácter coeso (consolidado) ou incoeso (mobilizável) e do grau de arredondamento dos ditos fenoclastos, variando, como se disse, entre muito bem arredondados e angulosos.

Para a rocha consolidada, de natureza sedimentar vulcânica, tectónica ou impactítica, em que os fenoclastos são angulosos, foi criado o vocábulo brecha, que fomos buscar ao francês brèche, radicado no verbo alemão brechen, que significa, fender, abrir brecha, partir. Assim sendo, este vocábulo tem sempre de ser complementado pelo termo que refiara a sua proveniência sedimentar, vulcânica, tectónica ou impactítica (do impacto de um meteorito). Em petrologia sedimentar, especificam-se assim: conglomerados, numa só palavra, e brechas sedimentares.

Em 1873, o geólogo alemão, Karl Friedrich Naumann (1797-1873), propôs, para esta subclasse, o termo Psefit, psefito, em português (do grego psephós, que significa calhau ou seixo rolado). Quarenta anos depois, em 1913, o americano Amadeus William Grabau (1870-1946) deu-lhe o nome de rudite, rudito, em português, (do latim rudus, alusivo a rude e rudimentar), termo que, de início, envolvia a ideia de material detrítico grosseiro, pouco trabalhado, tosco, isto é, calhau pouco ou nada boleado pelo transporte.

Psefitos e ruditos, dois termos antigos que interessa manter vivos, não só como nome de uma subclasse, referente às citadas rochas conglomeráticas, mas também, em muitos casos, como nome dos próprios fenoclastos que, individualmente, as constituem. Nesta óptica, o termo psefito ou o rudito, tanto podem ser usados para referir um conglomerado (no dito sentido restrito) ou uma brecha sedimentar, como um seixo bem rolado ou um qualquer clasto anguloso.