MEDITANDO SOBRE O PARAÍSO
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O PARAÍSO MÍSTICO REENCONTRADO |
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Tendo Aristóteles, na Ética a Nicómaco, alertado para a distinção entre o amor próprio – philautia, termo que ele próprio criou – segundo a razão – kata ton logon – e segundo a paixão – kata ton pathon –, para concluir sobre o perigo de as paixões tudo destruírem e subverterem o amor próprio em egoísmo que cega e provoca exclusão de outrem; tendo Aristóteles demonstrado, na Poética, que a tragédia tinha como objectivo a purificação - catharsis- das paixões, seria de esperar que o pensamento cristão dos primeiros séculos viesse trazer novas achegas a questões atinentes a paixões e procura de proximidade de Deus. Convém notar desde o início que o exercício da apatheia não é físico mas espiritual e segundo a virtude – kat’ areten - . Não se trata de separar o espírito das paixões do corpo, como em certas asceses filosóficas. A apatheia é a vida espiritual ou sobrenatural na alma humana. O exercício ou ascese tem como objectivo afastar as paixões e os pecados capitais que impedem o desenvolvimento da vida divina na alma humana.. A vida ascética é “regresso ao paraíso”. Para se regressar ao paraíso é preciso o despojo do que foi acrescentado ao estado inicial e restaurar o estado de origem – eis to archaion – da imagem de Deus – tou eikonos to theou – escondida em Adão, com confiança – parrhesia – em Deus. Gregório de Nissa foi o autor que na sua época mais desenvolveu a meditação sobre a necessidade de o homem cristão regressar ao paraíso, libertando-se da escravidão, através da parrhesia ou confiança filial que permite a proximidade e familiaridade com Deus. A confiança filial tem uma relação profunda com toda a sua doutrina sobre a liberdade que é, segundo comenta Jean Daniélou (p. 87) “o traço essencial da semelhança com Deus” e vem inequivocamente sublinhar o carácter cristão da apatheia. |
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