MEDITANDO SOBRE O PARAÍSO
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Breve meditação sobre a Árvore da Vida |
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Passando a uma breve meditação sobre a Árvore da Vida, comecemos por um comentário de Lanza del Vasto: A Árvore da Vida estava no meio do jardim; era o coração e a vida do jardim. Essa árvore era a graça de Deus e a graça era a “alma da alma” ( na expressão de Santo Agostinho), ou seja, a vida da nossa vida. O seu fruto era a um tempo delicioso e nutritivo: “belo para os olhos e bom para comer”, ou seja: não havia nada de fútil nem de ilusório nas delícias do Jardim… A felicidade de Adão era a de ser e estar como a Árvore do Meio, fortemente enraizada no coração da criação e dominando-a da altura. Era estar em harmonia com todos os seres terrestres e impregnado das leis do céu. Era viver plantado no meio de si próprio, era ter no seu centro um eu transcendido e uno; todas as partes e todos os aspectos da sua natureza complexa, todas as plantas, todos os animais, todas as águas e todos os astros em suspenso na natureza humana mantinham-se unidos nesse uno; esse uno semelhante e unido ao Único Uno que é o Senhor Deus (La Montée desÂmes Vivantes, p. 200) No seu conjunto, Lanza del Vasto comenta que o homem antes do pecado original vivia em união profunda consigo próprio, com a terra e o céu, com Deus. Vivia em estado de graça, tinha um centro dentro de si próprio. A Árvore da Vida é também símbolo de imortalidade, ligada à ideia de incorruptibilidade. Após a expulsão do paraíso, no Génesis, Deus encarregou os serafins de, com espadas de fogo, se tornarem guardiães da entrada do paraíso para que Adão e Eva não fossem tentados a comer o fruto da Árvore da Vida que lhes conferiria imortalidade. Ficaram privados da imortalidade de que usufruíam no Paraíso, uma vez que podiam tocar em tudo e comer de tudo excepto comer o fruto da árvore da Ciência do Bem e do Mal; podiam assim comer o fruto da Árvore da Vida. Adão e Eva ficaram privados de imortalidade e também da vida profunda com a terra, com o céu e o próprio Criador de que a Árvore da Vida é símbolo. A humanidade tem de assumir o sofrimento e a mortalidade. A literatura grega, da epopeia de Homero à tragédia de Ésquilo, Sófocles ou Eurípides, à literatura clássica do Renascimento, por exemplo na obra de Camões, está impregnada de meditação sobre a condição, a liberdade e o destino do homem, a travessia, a viagem da própria vida, a compreensão e meditação aprofundadas sobre os limites da natureza e da vida humanas e da procura de conhecimento, reiterando o que acabámos de comentar sobre a demarcação dos limites do espaço sagrado. A imortalidade da vida profunda e espiritual do homem foi restaurada , segundo a tradição cristã, pela vinda de Jesus Cristo, pela sua Ressurreição. No livro simbólico do Apocalipse de São João (2,7), Cristo promete a quem o seguir: “dar-lhe-ei a comer da árvore da Vida que está no Paraíso de Deus”. Ainda no Apocalipse, no caminho para o Paraíso reencontrado que ficou aberto e perto da Nova Jerusalém, estará a Árvore da Vida (22,2), à qual acederão os justos, os homens com rectidão de espírito, “os que lavam as suas vestes” (22, 14) |
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