Outra referência alquímica liga-se às cores da Obra. Na sequência apresentada, as cores são respectivamente: Verde, Branco, Vermelho, Amarelo, Negro.
Parece-me óbvia a simbologia alquímica.
Os metais são : Estanho, Cobre, Ferro, Chumbo, Mercúrio. Em termos astrológicos temos : Júpiter, Vénus, Marte, Saturno, Mercúrio.
Falemos agora dos “ CICLOS “
O CICLO CHENG ou da gestação – geração
A Madeira alimenta o Fogo // O Fogo gera a Terra // A Terra engendra o Metal // O Metal produz a Água // A Água alimenta a Madeira
Assim a cada dinamismo correspondem duas situações, a de “mãe” do consequente e a de “filho” do precedente.
No traçado de linhas equinociais e solsticiais, as obras antigas representavam a Terra no centro, ou seja no cruzamento das linhas, indicando com isso que a Terra era o dinamismo de referência. A Madeira situava-se a Leste, o Fogo A Sul, o Metal a Oeste e a Norte a Água, respectivamente Primavera, Verão, Outono e Inverno, cabendo à Terra a 5ª estação anual.
O CICLO KO ou de controlo
A Madeira submete a Terra cobrindo-a // A Terra submete a Água represando-a //
A Água submete o Fogo apagando-o // O Fogo submete o Metal fundindo-o //
O Metal submete a Madeira cortando-a.
Ao ciclo de controlo ainda é necessário acrescentar dois processos de domínio :
TCHÂ que é o domínio da “avó” sobre o “neto” através do processo TCHWAN
e
K’UN que é a inibição do dinamismo original na sua 3ª geração. O neto inibe a avó
O traçado geométrico representativo é aqui o do pentagrama.
Nestes dois ciclos que encerram geometricamente o simbolismo de muitas tradições ocidentais, está contido toda a doutrina que serve para a Medicina externa como para a interna, ou melhor dizendo para as duas Alquimías.
O CICLO HUAN – coesão da terra
Este ciclo vai permitir as (trans)mutações, ou seja a transformação de um dinamismo noutro, o que acontece na Terra
O CICLO RAÊ - É o ciclo da revolta, em que o “neto” agride os seus “avós”
A Madeira insulta o Metal // O Metal insulta o Fogo // O Fogo insulta a Água //
A Água insulta a Terra // A Terra insulta a Madeira.
Falemos agora do CHI ou KI, a energia vital no Homem. No modelo ocidental de Medicina, nunca houve o conceito que agora é enunciado. No Ocidente nada há que se lhe assemelhe, já que a interdependência bio-electro-magnética dos diferentes orgãos não é reconhecida. O CHI é uma componente do “ sopro “ que já foi referido ( Ching Sheng Li/ Wu Chi ) e divide-se em cinco aspectos todos eles interligados e interdependentes :
CHI – é energia vital recebida do Cosmos, da Terra.
XUE – ( Sangue ) – O sangue actua como o suporte do Chi e é assim, acompanhando a circulação sanguínea que se dá a circulação energética por todo o corpo humano
JING – ( Essência ) – A essência Jing é a energia que recebemos dos nossos pais, acrescida com a que se obtém dos alimentos e da respiração.
SHEN – ( Espírito ) – É a energia que activa os processos mental e emocional. É “armazenada" na esfera energética do coração.
JIN YE – ( Fluidos ) – É a energia que circula em todos as secreções do corpo humano.
JIN – é o aspecto de maior natureza Yang que através do “ Pulmão “ vai alimentar e “humedecer” a pele e os músculos
YE – é o aspecto de maior natureza Yin que é elaborada no “ estômago” e no sistema “ baço-pâncreas “, vai alimentar e “humedecer” os orgãos internos, os ossos, o cérebro e os orifícios.
Se imaginarmos um cabo de sisal com a madre e os cordões teremos uma imagem do Chi e das suas 5 funções primordiais :
1) crescimento
2) controlo da temperatura
3) defesa contra as agressões patogénicas e psicológicas
4) controlo do Xue e dos Jin Ye
5) metabolização do próprio Chi, do sangue e dos fluidos
A circulação desta energia, tal como acontece com a circulação sanguínea e não sendo coincidente com esta, processa-se através da ligação entre muitos pontos que definem trajectos virtuais, sendo uns principais e outros secundários,
Estes trajectos virtuais, no Ocidente, são chamados “ meridianos “, dando-se-lhes o nome de uma das “entranhas” ou “orgãos” onde a energia sofre maior transmutação.
Quando anteriormente falei do Pulmão, do Estômago e do Baço-Pâncreas não me referia às vísceras em si, no conceito ocidental, mas ao conceito energético nelas sediado, que é o conceito chinês. Assim um determinado modelo energético dum determinado orgão ( TZANG ) ou entranha ( FU ), terá um nome específico, como por exemplo, orgão SIN – coração que “ responde ao fogo e tem uma dupla função “ e entranha WEI – estômago que é o “ mar da nutrição “.
Depois desta introdução aos conceitos mais elementares para se poder perceber o paradigma filosófico chinês, vejamos agora o processo de transmutação das duas alquimias, a externa e a interna. Antes porém convirá relembrar alguns dados nem por todos conhecidos.
O Homem comum ( Tsong Jen ) procurará o equilíbrio e a individuação e ao atingi-las será Tchong Jen, aquele que irá optimizar as condições que se lhe deparam para a perpetuação da espécie e para a sua própria longevidade. Tchong Jen quando é desperto pelo Recto Caminho, pode procurar através da via Alquímica atingir o estado de Jenren, o Homem Verdadeiro ou Homem Autêntico.
A Alquimia externa ( Vaidan ) andou sempre de braço dado com a Medicina e a preparação de elixires acompanhou a da herbologia e da aplicação externa de dinamizadores ou redutores equilibrantes do Chi ( Moxabustão, Acupunctura, Massagem, Magnetização, Ventosas, Compressas de unguentos, Nutrição, etc. ).
A Alquimia interna ( Neidan ) posterior à externa , já vai procurar um modelo de circulação energética interna que gere esse elixir no próprio alquimista.
Utilizando o mesmo tipo de linguagem metafórica que mais tarde o Ocidente veio a adoptar, verifica-se desde logo assimilações da Alquimia interna em relação à externa. Para a Vaidan, o chumbo ( Yin do Yin ) é preparado com o Mercúrio ( Yang do Yang ) para preparar a Obra. Na Neidan, chama-se chumbo ao verdadeiro conhecimento do Dao ( Yang do Yang ) que se encontra escondido no indivíduo e que deve sofrer o Solve et coagula até ser liberto. Mercúrio refere-se à mente individual.
O cinábrio ( Yang ) é outro dos elementos fundamentais para a Vaidan já que contém em si o mercúrio ( Yin do Yang ) que extraído é preparado com o Enxofre numa série de nove ( número mágico, do Oriente e do Ocidente ) operações até que se possa obter o Yang do Yang ou o Yang Puro.
Tanto na Vaidan como na Neidan se afirma a obtenção do magnífico elixir do Retorno ( Huan dan ), que não é mais do que o regresso dos elementos tratados alquimicamente em sucessivas operações até ao seu estado primordial. E isto tanto vale para o cinábrio como para o Homem. E ao pensar nesta busca do Adepto chinês, como por encanto surge-nos o célebre V.I.T.R.I.O.L.
Para terminar falemos agora da acupunctura.
Dos 12 Tching Tcheng ou Jing Lo (“meridianos principais”) um existe chamado San Jião Jing ou Shu Shao Yang, traduzido na maioria das vezes no Ocidente por “ Triplo Aquecedor “. Este meridiano tem o mesmo nome que uma divisão tripla do tronco humano que define a existência dum triplo ATANOR.
Estes Atanor que na sua forma esotérica são os TanTien (campos de cinábrio), representam os Três Tesouros que são : Ching, a Essência do corpo e a energia sexual ; Chi, a energia vital; Shen, a energia espiritual. Vão do mais denso ao mais subtil.
O Atanor superior abrange a cabeça e a caixa torácica, onde se encontram o coração e os pulmões até ao diafragma. O médio que tem como parte superior o diafragma situa a sua base num plano de intercepção logo abaixo do umbigo, limita-se pelo estômago e o baço. O inferior, onde se situam os rins, a bexiga, os intestinos grosso e delgado, bem como as vísceras reprodutivas.
Ora é neste conjunto de “ fornos alquímicos “ que se dá a transmutação das energias de que temos vindo a falar.
Vinda do céu a energia Ieung Chi é captada pelos pulmões ( Fei ) e pela pele que está intimamente ligada a Fei. Esta energia além de transportar o oxigénio traz todas as vibrações subtis necessárias ao homem.
Os alimentos vão produzir, nas vísceras deste atanor, a energia Ku Chi.
Os órgãos dos sentidos e a pele recebem inúmeras informações energéticas que por sua vez são transmitidas às vísceras.
Há ainda a energia ancestral, recebida geneticamente e que se chama Iuene Chi.
A mistura de Ieung Chi com Ku Chi sofre uma transmutação devida à acção de Iuene Chi obtendo-se Tsong Chi que é a energia essencial. Nova transmutação é obtida pela acção da energia ancestral de que resulta a energia Tcheung Chi, chamada de verdadeira ou autêntica. Esta energia é então transportada por uma conduta central ( Tchong Mo ) que vai fazê-la passar junto de cada orgão que efectuará troca de informações específicas, transformando o indiferenciado em individualizado ( no caso do pulmão, irá receber as informações do tipo Metal ) e armazenará o que restar dessas informações na entranha que lhe corresponde com o objectivo da procriação. Esta energia armazenada e retém da procriação chama-se Tsing Chi. O excedente da energia verdadeira transportada por Tchong Mo e desnecessária aos orgãos e às entranhas, servirá para outras duas energias que são o resultado de nova transmutação : a energia Yong , que servirá de reserva quantitativa, e a Wei que será a energia defensiva.
Posto isto será fácil conceber a acção externa de elixires, de moxabustão ou de agulhas ( de ouro e de prata ) na condução operativa de transmutações destas energias procurando levá-las de retorno à energia original que circularia no corpo humano.
Acresce que a Alquimia interna se processa pela intensificação da circulação do Tsing Chi nos Jing medianos e longitudinais, Du Mai e Ren Mai, chamados meridianos curiosos, duma forma semelhante ao Kundalâni, só que a circulação é forçada num movimento ascendente do Yang e descendente do Yin, por forma a rectificá-la e a purificá-la constantemente. A esta operação dá-se o nome de “ Circulação da Luz “ que se opera na “ Órbita Microcósmica “
Finalizarei transmitindo que toda esta Alquimia ainda hoje é bem viva na China e no Japão, ignorando o que se passa noutros países orientais e que é fruto de vasta investigação Universitária.
Oxalá vos tenha despertado alguma curiosidade e desfeito alguns condicionamentos que algumas corporações ocidentais insistem em produzir. |