Podemos comparar a esperança de obter novidades, na exploração de um novo continente, à que se tem hoje com uma grande experiência científica, onde são implicados vários países e muitos milhões. Embora o principal valor intelectual da ciência seja o conhecimento, o seu grande trunfo é a descoberta. Era assim no século XVIII e continua a ser assim na transição entre o XX e o XXI.
Nos nossos dias, o desejo de inventar e descobrir é um dos grandes motivos de atracção, dos jovens, pela profissão de cientistas. A ambição de descobrir coisas novas tem levado alguns cientistas, até mesmo actualmente, a falsificar resultados. Essa questão é referida, por vezes, tanto na imprensa diária como na de divulgação científica. Não é de espantar pois, que também no séc.XVIII, houvesse falsificações dos objectos científicos, sobretudo dos que tinham visibilidade, para as autoridades e para o público em geral. E com esta afirmação voltámos ao ponto de partida, o bloco de cobre, depois de uma digressão sobre os objectos científicos.
Antes de continuar com o Bloco, não queria deixar de referir que ele serviu para abordar esta questão dos objectos científicos mas não para a tratar com a profundidade que ela merece. Por outro lado, muitas outras questões, aqui levemente afloradas, encerram uma complexidade, impossível de destrinçar numa comunicação deste género. Entre outras cito o problema da visibilidade das descobertas científicas, o da honestidade dos homens que lhes dão origem, o da divulgação do trabalho e dos resultados da ciência, o da relação da natureza com o conhecimento que dela se tem e deste com o poder.
Partindo do pressuposto que a falsificação de um objecto como o bloco de cobre, não está fora de causa e até tem a sua lógica, poderíamos tentar articular os dados que actualmente se possuem para fazer algumas perguntar e tentar dar as respostas.
1. As contradições sobre as dimensões e peso do bloco querem necessariamente dizer que ele foi falsificado?
Parece-me que elas podem resultar de incapacidade dos meios da época para avaliar esses dados e falta de preocupação de rigor da parte de quem fez avaliações. Podem também resultar da sua vontade de exagerar num sentido ou noutro conforme as conveniências.
2. É possível, com os meios da ciência actual analisar a origem do bloco?
Penso que sim, a ciência geológica dispõe que inúmeras técnicas, mas é aos geólogos que compete confirmar.
3. Vale a pena, tendo em conta o que custa (não sei quanto), analisar o bloco e determinar a sua composição? Ou seja, actualmente, o bloco é ou não um objecto científico, do ponto de vista da geologia?
Acho que não! Penso que nada do que está ali contido, é novidade para a geologia e o facto de ser nativo ou manipulado não tem interesse no estado actual dessa ciência. Poderá ter interesse para a história da ciência pois vai de encontro a uma das suas vocações, Ciência e Sociedade.
4. Vale a pena, doutros pontos de vista, analisar o bloco e determinar a sua composição?
Acho que sim, pois mesmo que não seja interessante do ponto de vista geológico, o bloco é um objecto representativo da história da ciência em Portugal. Embora passe por nativo em vários documentos da época, tendo havido manipulação quem foi o responsável? E quem colaborou na mistificação? Quais os interesses que estavam em jogo? Quais as suas consequências que advieram da falsificação?
Estas são apenas algumas das questões levantadas por este objecto e que podem servir para caracterizar a ciência em Portugal.
Para além das questões científicas e de história das ciências, há ainda outras, sugeridas pelo Evoé, como a natureza literária que o facto da falsificação constitui. Se não fôr possível esclarecer o mistério, por não haver elementos suficientes, então é indispensável fazer uma ficção em que, usando os personagens da época, se dê uma explicação "lógica" para a falsificação.
Parece ser esta a melhor saída para a questão do tão famoso Bloco de Cobre.
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