REFLEXÕES EM TORNO DE UM BLOCO DE COBRE*
Isabel Cruz

Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa
 
3. Um pouco de história

Os professores de Ciências sabem disto há muito. Já no século passado clamavam pela necessidade urgente do ensino prático (primeiro manipulações pelo lente ou preparador, depois manipulações pelos próprios alunos) quando o tédio e o estupor das plateias que seguiam as dissertações lidas como que de um missal se corporizou de forma insustentavel.

Os químicos dizem que um químico «pensa com as mãos»; rapidamente a experiência, de apoio comunicacional eficaz, passou a elemento fulcral de formação de uma classe profissional em ascendência social. A prática surgiu assim como parte da disciplina, ou melhor dizendo, a prática também era disciplina.

Qualidades como destreza manipulativa, coordenação e precisão de movimentos, domínio, controle, concentração e argúcia, vieram reunir-se, pedagogicamente, ao antigo universo de saber literário, tanto mais próximo do conceito de «sábio em Química» quanto distanciado do conceito de «Químico».

Afirmava Júlio Máximo de Oliveira Pimentel, o primeiro lente da cadeira de Química Geral e noções das suas aplicações às artes, criada em 1837 na Escola Politécnica de Lisboa, no livro que elaborou para apoio às lições do dito curso, em 1850, que somente quando as mãos dos alunos se achavam «habituadas às manipulações químicas e a sua inteligência à interpretação dos fenómenos», então se encontravam em condições de «completarem os seus conhecimentos científicos pela leitura dos bons tratados e memórias de Química, e principalmente pela sua própria reflexão». E rematava: « É só então que se pode dizer que estes alunos passam a ser químicos».

Os laboratórios escolares proliferaram, forçados pelas necessidades pedagógicas e reforçados pela imensa credibilidade nos avanços da Ciência e no progresso da Indústria. Eram verdadeiros locais de culto. Culto da ciência, do espírito, da ascese e do aperfeiçoamento, (uma herança alquímica?) da excelência e maestria. Nos cursos práticos, o professor era o mestre que observava as qualidades e acompanhava os percursos. Uma certa aura de mistério reforçava a respeitabilidade que o envolvia. O mestre detinha sempre um segredo . Um mestre representava a perfeição. Os laboratórios eram locais de comunhão.