VIAGENS NA CIMBEBÁSIA / O RIO CUNENE
PADRE CHARLES DUPARQUET
28-07-2003 www.triplov.com
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Sexta-feira, 30 de Julho - Logo de manhã vou examinar o vau, mas este só pode ser atravessado em piroga. Creio que, verdadeiramente, só há três ou quatro meses no ano em que se pode atravessar o rio de carro, de Setembro a Janeiro. Encontro aí Portugueses que vêm visitar-nos. Passam o dia no acampamento e dão-nos muitas informações sobre Moçâmedes. São precisos oito dias para ir do Humbe à Huíla e quinze dias da Huíla a Moçâmedes, mas os carregadores levam ordinàriamente quinze dias a fazer esse trajecto. Gastam quatro dias da Huíla e Ongambué, quatro dias de Ongambué ao Hai e dois dias do Hai à Huíla. Seguem sempre o rio Caculovar.

Os Portugueses do Huambe não têm vagões; todos os transportes daqui para Moçâmedes se fazem com o auxílio dos carregadores. Estes levam 2.500 reis fortes (cerca de 12 frs. 77 c.) para transportar 2 arrobas (60 libras) de Moçâmedes ao Cunene.

De Moçâmedes a Capangombe há uma boa estrada para carros. Nesta localidade cultiva-se agora muito algodão, café e cana de açúcar. Com este último produto fabrica-se aguardente, muito procurada pelos indígenas.

O único comércio do Humbe com Moçâmedes consiste em gado e algum marfim. A importação dos escravos está realmente proibida na Colónia Portuguesa; nenhum escravo pode actualmente ser vendido em Moçâmedes. Os Portugueses do Humbe compram ainda alguns nas tribos vizinhas, mas cedem-nos aos indígenas do Humbe a troco de gado. Compram cada escravo por um barril de aguardente (cerca de 60 frs.) e revendem-nos por três cabeças de gado aos indígenas do Humbe.

Estes portugueses são, na sua maioria, pobres e trabalham por conta de dois negociantes de Moçâmedes, os snrs. Narciso e Bastos, aos quais mandam o gado em troca de mercadorias e provisões enviadas por eles.

Há um outro caminho mais curto para ir a Moçâmedes através dum povo vizinho, chamado Chavícuas, da raça dos Cimbebas. Daí seria fácil alcançar Porto Alexandre, mesmo com vagões; mas estes Chavícuas recusam-se a deixar passar os Portugueses pelo seu território.

Os Portugueses tinham trazido consigo uma carta do snr. Ferreira de Almeida, governador de Moçâmedes, para os Boers. Era dirigida ao snr. Bawer, um boer da nossa expedição, que o ano passado tinha tomado parte na guerra contra os Humbes e que os Portugueses logo reconheceram, assim como o snr. Botha, cujo criado fora devorado por um crocodilo quando atravessava o rio agarrado à cauda dum cavalo. Pediram-me para entregar a carta ao snr. Bawer, o que fiz. Abrimo-la logo para conhecer o seu conteúdo. Nesta carta o governador português concedia aos Boers o território da Huíla para ali se estabelecerem. Isentava-os de qualquer imposto durante um certo número de anos, permitia-lhes que gerissem por si próprios os seus negócios; mas deviam reconhecer a suserania de Portugal e submeter-se à legislação portuguesa. A carta foi em seguida remetida ao snr. Jordan, que a fez chegar à mão dos Boers, recomendando-lhes que enviassem imediatamente uma comissão à Huíla, para ultimar este negócio. Os Portugueses do Humbe tinham, por seu lado, recebido outra mensagem: era-lhes ordenado que ajudassem os Boers quando chegassem ao rio e que os guiassem até à Huíla. O governo português encarregava-se de os indemnizar das despesas que esta viagem ihes ocasionasse.

O snr. d'Almeida, um rapaz mulato, originário de Caconda, disse-nos que há muitos elefantes entre o Humbe e o Ongambué, na tribo dos Chavícuas. Uma parte da expedição foi designada para ir explorar esta região com o snr. Almeida, pedindo-se para tal autorização ao régulo, que logo a concedeu. Nessa mesma noite partiram para essa expedição os snrs. Bawer, Bussel e Almeida.