O AMOR TEM CÓDIGOS
Na sequência dos dois volumes sobre José do Telhado, José M. Castro Pinto apresenta a obra "Amor, Beleza & Companhia", antologiando textos literários e históricos da mesma época ou relativos àquela em que viveu o famoso salteador: primeira metade do século XIX. Segue também a estrutura de "José do Telhado", simulando algo como um almanaque, em que a autoria de José M. Castro Pinto se dilui, sob o peso do texto alheio, assomando, de uma forma pedagógica, nos esclarecimentos e nas interpretações.
Apesar de o período ser rico em acontecimentos políticos e militares - o Brasil torna-se independente, a guerra civil traz D. Pedro do Brasil para se instaurar em Portugal o regime liberal, etc. - o autor escolheu para título o que evoca mais a vida social, com as suas frivolidades, bailes, petiscos, anedotas, fado e a codificação dos jogos amorosos. O amor está sempre codificado, podem é os sinais variar no tempo de acordo com a maior ou menor abertura outrora concedida pela Igreja, nos países católicos, como é o nosso caso. Todos conhecemos os sinais ou a espécie já seria extinta, simplesmente só os identificamos como elementos de código, uma vez passados à história, ou uma vez passada a fase de enamoramento. Rimo-nos deles então, porque, se os identificamos como códigos, é porque notamos neles uma artificialidade que se torna kitsch, como a moda dos cabelos compridos dos rapazes e engomados das raparigas nos anos sessenta do século XX. O nosso kitsch - melhor diria: o vosso, o dos jovens de agora - só daqui a uns vinte anos será motivo da vossa risota. Quem sabe hoje o que era namorar de estaca, por exemplo? A quem se interessar pelo assunto, recomendo, além deste livro de J.M. de Castro Pinto, o de Júlio Dantas sobre o amor no século XVIII.
Maria Estela Guedes