Neste último ano desloquei-me três vezes a Paris, de onde regressei há apenas alguns dias. Infelizmente, o motivo da minha deslocação foi uma questão de doença, que me vi obrigado a tratar lá.
Mas vamos falar do que nos interessa: como estou especialmente voltado para assuntos da Língua Portuguesa - sou licenciado em Filologia Românica - procurei ver o que se ia por lá passando em questões de língua materna.
Acontece que nos meios escolares franceses houve ataques em massa ao Ministério da Educação, porque os ingleses já há anos puseram de parte a aplicação da Nomenclatura Linguística nas escolas, onde fora substituir a Gramática tradicional. (Os ingleses procederam a uma atenta análise sobre o que se estava a passar.) Diziam esses ataques que não se compreendia como é que em França tardavam a corrigir a calamidade.
Foi nessa ordem de ideias que o ministro da Educação francês, Gilles de Robien, deu uma entrevista, publicada por Le Figaro em 4 de Setembro de 2006. Dela citamos algumas passagens que consideramos mais importantes:
"Eu conto modificar a aprendizagem do cálculo e da gramática ainda este ano: os programas serão mudados em 2007. No sixième, numerosas crianças sofrem de discalculia e têm dificuldades na matemática, ainda que sejam maiores as dificuldades encontradas no domínio da gramática. (...) O cálculo mental, destronado pelas calculadoras, deve ser reabilitado. Quanto à gramática, ela tornou-se ininteligível. O vocabulário que utilizam certos manuais mais parece ensino universitário! (...) É preciso simplificar e voltar ao fundamental: conjugação de verbos, lições de gramática, e se necessário ditados."
Pela nossa parte, não compreendemos como é que em Portugal é agora apresentado como modernidade aquilo que os franceses agora, e os ingleses já há anos, consideram como um desastre no Ensino: ou seja, a Nomenclatura Linguística Universitária aplicada no Ensino Básico e Secundário.
A trapalhada é tão grande, que se procura impingir o pronome relativo cujo como um quantificador. (Cujo não quantifica nada, meus senhores, basta perguntarem aos matemáticos!) É tão grande a confusão nos Quantificadores, que se procura fazer passar a "mensagem" que certos determinantes são quantificadores, mas os correspondentes pronomes não o são. Pode lá ser uma coisa dessas?! Isso não tem ponta de rigor científico. Basta ler estas passagem da English Grammar, da Didáctica Editora, em tradução da Prof. Isabel Casanova:
"Note-se que a maior parte dos quantificadores pode ocorrer quer como determinante quer como pronome."
"Os quantificadores much, many podem ser determinantes e pronomes." A few significa 'alguns mas não muitos'; a little significa 'um pouco mas não muito'. Podem ocorrer como determinantes ou como pronomes."
A razão de ser de tanta confusão é que, enquanto os nomes, os adjectivos, os pronomes, os determinantes, etc, são classes gramaticais de palavras, os quantificadores não são: os quantificadores quantificam, não são uma classe gramatical.
Quanto à Sintaxe, Pragmática, classificação de Advérbios, achamos que são teorias muito discutíveis e absolutamente incompreensíveis para os alunos do Básico e Secundário.
O que de facto gostaríamos era que os alunos não fossem sacrificados, não sabemos em nome de quem e para quê. Seria oportuno que as pessoas apropriadas se deslocassem a Inglaterra e França para verem o que por lá se passa. É que, aquilo que se pretende apresentar em Portugal como modernidade, é uma coisa antiquada e posta de parte em países mais adiantados - depois de uma catastrófica experiência.
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