|
|
JOSÉ CASQUILHO
Cáusticas de luz |
|
|
|
envelope da elipse |
Caustica é o nome de uma curva, ou superfície,
definida como o envelope dos raios de luz reflectidos, ou
refractados, por uma dada curva, a partir de um foco radiante, emissor.
Em matemática, um envelope de uma família de variedades é
uma variedade que é tangente a cada membro da família em
algum ponto. Banchoff (1990) mostra que os raios emergindo dos pontos
focais de uma elipse formam uma caustica, e, acrescentando mais uma
dimensão constrói a superfície de catástrofe da aplicação normal,
o desdobramento espacial do envelope. |
|
superfície de catástrofe da elipse (Banchoff) |
O
conceito matemático de envelope como variedade, vem da abstracção de
fenómenos ópticos, pois a palavra caústica vem do termo grego καυστός
que significa queimar, através do latim causticos, e aplica-se na
descrição de imagens formadas pela luz, quando atravessa um vidro ou
água. |
|
cáustica de luz |
Nas
causticas aparecem pontos de cúspide de que o diagrama seguinte
dá uma ilustração. Peirce deu uma interpretação cinemática definindo o
ponto de cúspide como sendo o sítio estacionário numa curva onde
um ponto que se desloca vê o seu movimento invertido. De acordo com a
terminologia de Peirce o gráfico seguinte pode interpretar-se como um
sinsigno icónico-remático pela sua natureza de diagrama mas também
legisigno icónico-remático porque comporta uma lei. |
|
diagrama do ponto de cúspide através do movimento da estrela |
Essa
interpretação cinemática não é a única, um ponto de cúspide também pode
ser obtido como projecção da curva de contorno da superfície de
Riemann-Hugoniot, mais geralmente conhecida como a catástrofe da ruga,
que se exemplifica na sucessão de gráficos da figura abaixo. Neste
contexto a cúspide adquire o género feminino, passa a ser a designação
da curva associada ao ponto, no âmbito da teoria das Catástrofes de René
Thom. Neste quadro existe uma função potencial que governa un sistema
que se expressa numa dinâmica de gradiente e os pontos onde o gradiente
se anula são os equilíbrios, que podem ser estáveis ou instáveis, sendo
estes últimos lugares de transição arrumando-se todos numa variedade de
equilíbrios. |
|
cúspide obtida como projecção da curva de contorno da ruga |
A lei que
lhe sucede, dentro da lista de catástrofes elementares elaborada
por Thom, designa-se por cauda de andorinha. É a figura da
deixis (Petitot, 1983) e inspirou o último quadro de Dali.
Arnold (1986) refere que no espaço 3-Dimensional as únicas
singularidades estáveis dentro do conceito de causticas são a cúspide e
a cauda de andorinha, todas as outras dissolvendo-se perante pequenas
perturbações. Se a cuspide permite a esquematização da crise
(Mourão e Casquilho, 2000), que possa a cauda de andorinha anunciar
novos tempos. |
|
cauda de andorinha (Banchoff) |
Referências |
Adriano D.
Rodrigues. 1996. Dimensões Pragmáticas do Sentido. Edições
Cosmos, Lisboa.
Elizabeth Walther-Bense. 2000. A Teoria
Geral dos Signos. Editora Perspectiva. São Paulo.
Jean Petitot.
1983. Théorie des catastrophes et structures
sémio-narratives in Sémiotique et théorie des catastrophes.
Actes Semiotiques, V, 47-48
José Augusto
Mourão e José Casquilho. 2000. Catástrofes fiduciárias: o valor
ondulatório do dinheiro. Comunicação e Sociedade, Cadernos do
Noroeste, vol 14 (1-2), 193-204.
Michel Demazure. 1989.
Catastrophes et Bifurcations. Éditions Ellipses, Paris.
Thomas F. Banchoff.
1990. Beyond the Third Dimension.
Scientific American Library. New York.
Vladimir I. Arnold.
1986. Catastrophe Theory. Springer-Verlag, New York. |
|
|