Carta sobre os fogos

NICOLAU SAIÃO
Carta sobre os fogos


Maria Estela
   Escrevo-lhe esta carta, depois de durante um serão e uma manhã de reflexão me ter questionado sob o signo da indignação que a breve trecho se vazou num raciocinado deprezo pelo ambiente de irresponsabilidade e de manipulação que o presente governo, liderado por um indivíduo que ascendeu ao Poder – que é isso, foi o que lhe interessa e interessou e jamais o bem da Pátria – por uma habilidade a que observadores têm apelidado de arteirice e outros, menos delicados, de pura velhacaria política.
  A pouco e pouco a verdadeira face do antigo braço direito desse homem exemplar – dum dado sector – que é José Sócrates, tem estado a desvelar-se. E o que se passou de há dois meses para cá, culminando na presente tragédia dos fogos, mostra bem o real perfil do homem que em plena tragédia de Pedrógrão Grande, enquanto as familias das vítimas penavam o seu desgosto, foi para férias no doce estrangeiro com a justificação de que elas já estavam marcadas! 
   É o mesmo indivíduo, que alguns senis sem caracter e novéis oportunistas tentam apresentar como progressista, que agora vem referir que não tem uma varinha mágica para obstar à nova hecatombe! E que diz despejadamente que os factos poderão normalmente repetir-se!
  (Não lhe ocorre que nós não queremos varinhas mágicas – que apenas desejamos a competencia que ele devia ter e não tem? Bem como os seus apaniguados directos?).
  É o político doublé de apparatchiki pretensamente socialista que alcandorou à visícula do Poder avatares do estalinismo e do trotskismo mais totalitário, nas suas intenções obnóxias camufladas de fracturantes, é o mesmo que, no rescaldo da titarada de Tancos, na sequencia da desgraça de Pedrógão, mandou de imediato que se efectivasse uma investigação para aquilatar da permanencia ou não da sua popularidade – essa popularidade que acarinha com truques de quem vasa tostões nos bolsos desguardados de portugueses que tiveram que se esmifrar devido à incompetencia e ao desleixo do seu antigo chefe de fila, a quem serviu devotadamente.
  E é o mesmo homem que, numa tirada digna dum animador de feira, sem pudor e sem freio nos vem dizer que, porque somos (na sua dele jaculatória de falaz demagogo) adultos, temos de aguentar os desmandos desta trupe de simulacros de “responsáveis”, sem que  nos manifestemos – pois de contrário estaríamos a cair num aproveitamento político!
  Como referi num escrito anterior sobre este habilidoso politiqueiro, os desmandos irão pontuar o seu consulado, a sua gerência começada sob os auspícios duma elevação manhosa ao poder – que hoje é patente que, bem na linha de outros seus semelhantes-correligionários e homólogos, está crivada de truques e de ilusionismos perigosos.
    Se é assim ou não, o tempo nos fará ver – com olhos de ver – a nefasta razão.
    Saúda-a com a estima e o abraço de sempre o seu
     ns