Carta sobre a democracia verdadeira

 

NICOLAU SAIÃO

Caros confrades
Ultimamente tem pairado na sociedade lusitana – e sido enfatizado por cavalheiros que juntam à sua deficiente hombridade o cinismo de pacotilha, instrumentos conceptuais e propagandísticos com que visam lançar nas mentes dos cidadãos o medo e a desesperança – o receio de que esta nação multissecular não consiga achar nem rumo nem caminho no futuro salutar.
É uma manobra típica dos sectores totalitários, à guisa do que foi feito na sociedade mundial nos tempos imediatos a seguir à derrocada da sociedade dita soviética (onde, como bem o referiu Mário Cesariny num importante Comunicado internacional ” o que menos existia eram sovietes“, mas sim o social-fascismo imperialista e brutal, que exerceu a sua acção em países diversos (Checoslováquia, Hungria, Cuba, Alemanha de Leste, Roménia…e por aqui se fica). Paralelamente, eram desencadeadas contra pensadores, ensaístas e comunicadores sociais intelectualmente honestos e intemeratos, uma intensa acção contra-informativa, protagonizada por activistas – como agora se diz – que usavam sem rebuço a calúnia, a injúria e manobras intimidatórias ou impeditivas – discretas ou insolitamente nuas,  provindas da “experiência” afivelada através dos tempos pelas diversas kgbês geradas pela propaganda dos ergástulos em que pretendiam erguer-se os “manhãs que cantam” e que não eram mais que os gemidos que subiam do fundo dos cárceres.
No que concerne à maioria do povo português, que para mal dos demagogos e dos operadores sem tino e sem dignidade tem mantido – como por exemplo um António José Saraiva bem nos explicitou – um bom senso que nega os diversos Precs que visavam instaurar no país a impossibilidade de se ter uma democracia adulta (como o estalinista Cunhal pretendeu  que não houvesse numa tirada tristemente famosa), o caso é simples: tanto tem repudiado a acção de um alegado ladrão como Sócrates é tido em geral por observadores, como o cinismo truculento e iracundo do malhador A.Santos Silva, a manhosice fundibular dum António Costa que tratou com a nipocridia que se sabe um verdadeiro socialista como António José Seguro, ou a avidez cunhadista dum César eivado de prebendas; que tanto tem detestado a alegada corrupção dum Salgado como a hipocrisia babujante dum Vara ou dum Galamba. Ou as flutuações dum sistema judicial que em dados sectores procura vingar-se nos fracos ou nos que o criticam, mas deixa de fora, ou com sistemáticas penas suspensas malandrins de alto coturno, como os comentadores sérios e não-estipendiados geralmente referem.
Mas algo parece estar a mudar. De facto, o panorama atingira tal grau de decrepitude, a indignação do zé povinho era de tal ordem, que mesmo zoilos tiveram de recuar e morigerar-se.
Foi hoje nacionalmente referida uma acção que a muita gente mostrou que nada estará perdido se de facto se cumprir a frase canónica de que é o povo quem mais ordena. Que a indignação, bem ostentada pelo povo, pode fazer a diferença.
Refiro-me, é claro, à notícia amplamente divulgada há poucas horas de que Sócrates, Salgado  e outros de menor vulto irão mesmo ser julgados – higienizando-se assim a surpreendente decisão dum magistrado, que por comiseração nem vamos nomear – que tempo atrás agiu para que a acção do Ministério Público não colhesse razão positiva.
É o índice de que Portugal não apodreceu definitivamente?

Viva a Democracia verdadeira, viva Portugal!


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