Carlos d’Abreu: o carme, no conto e a cultura de encontros

 

 

 

 

 

 

PAULO J. BRITO E ABREU


«A revolução social será moral ou não será nada.»
Charles Péguy

 

( dedico o meu labor à Cultura Transmontana do século XXI )

 

Querido leitor: eu tenho, na minha banca de trabalho, «desencantos e ( alguns ) gritos», do Carlos d’Abreu, é o primeiro poemário de Carlos d’Abreu ( Maçores, 15/ 09/ 1961 ). E se os livros, dessarte, são as Obras, cada nação será julgada por os livros que ela escrever; assim fala, e discreteia, a parte II do «Livro de Néfi» ( 2 Né. 29: 11 ). E é como aduz, deveras, a língua do Lácio: «spes messis in semine», «a esperança da colheita reside na semente», pois, gerador e generoso, este volume contém em gérmen todos os livros do Carlos d’Abreu. Como acontece, outrossim, com a Santa Kabbalah, letras e palavras, para Carlos d’Abreu, são entidades vivas; para Carlos d’Abreu, é tudo uma questão de metáforas, de mitos, e de prestes metonímias. Em cauto, dessarte, e culto andamento, nos alembra, no prólogo, o Norberto Veiga: para o estrénuo, para o estreme,  para o extremo Estagirita ( Estagira, 384 – Atenas, 322 a. C. ), é, a Poesia, mais elevada e filosófica do que a História. Quer ele dizer: em estese do Historiador, d’Abreu arquiva, solerte, o passado; enquanto Poeta, ou Profeta, ele vaticina o futuro. Que é força, aqui, é força dizê-lo: em leva, e multicor, o d’Abreu é Levante, ele parte ao reencontro de Clio e de Polímnia. E hemos, aqui, mister ou mistério da sincronicidade: abraçamos, e abrimos, o seu livro ao acaso – e deparamos, na lauda 165, com o poema dedicado a «Voltaire» ( Paris, 21/ 11/ 1694 – Paris, 30/ 05/ 1778 ) – ora era, precisamente, sobre o gigante de Ferney, que o Autor destas linhas escrevia, no lance, há dez minutos atrás. Quanto ao Carlos, ele realça, ou alteia, os chamados libertinos, os «livres-pensadores / que trabalham para dissipar as trevas / extinguir a superstição e o obscurantismo / combater os inimigos da Humanidade.» Seguindo e segundo Max Heindel ( Aarhus, Dinamarca, 23/ 07/ 1865 – Oceanside, Califórnia, 06/ 01/ 1919 ), a talho de foice, o termo «Mação» deriva de «phree messen», que significa, em egípcio, «Filhos da Luz». Três Antónios há deveras, que foram livres-pensadores: e nominamos, nitente, António Telmo (Almeida, 02/ 05/ 1927 – Évora, 21/ 08/ 2010), António Arnaut (Penela, Cumeeira, 28/ 01/ 1936 – Coimbra, 21/ 05/ 2018 ) e, no lance, António de Macedo ( Lisboa, 05/ 07/ 1931 – Lisboa, 05/ 10/ 2017 ). Todos eles acareados, agraciados, por a flama do Génio. Eis o ofício, figadal, da Luz contra as trevas, a batalha e a labuta do Carlos d’Abreu. Mas nessa batalha ele não se serve das armas, ele usa, graciano, as alas, as Almas do almo. Quero eu dizer: ao invés de Hitler (Braunau am Inn, 20/ 04/ 1889 – Berlim, 30/ 04/ 1945), Estaline (Gori, 18/ 12/ 1878 – Moscovo, 05/ 03/ 1953) e Putin ( Leninegrado, 07/ 10/ 1952 ), d’Abreu não verte, nem derrama, o sangue humanal; esse o seu trunfo e na faina o triunfo. Por vocábulos outros: d’Abreu não mata, ninguém, por amor ao seu Deus. Se a Poesia, para a materialeira, não serve para nada, redargue o espanhol, o Gabriel Celaya (Hernani, 18/ 03/ 1911- Madrid, 18/ 04/ 1991 ): «A poesia é uma arma carregada de futuro». «Como é velha a arte de enganar», poema, ou epigrama, da lauda 101, verrina os políticos que logram, verberando, os homens do povo: do politiqueiro para o pelotiqueiro vai, deveras, um passo muito curto. De tal modo, diremos ora: se o que move, a maioria dos políticos, é o amor do poder, aquilo que move, o nosso Carlos, é o poder do Amor. Ou melhor: ele é o «topos», ex-cêntrico, do «ek-stático ex-sistere». «Nada menos que todo um homem»: assim o clama, à guisa de Unamuno (Bilbau, 29/ 09/ 1864 – Salamanca, 31/ 12/ 1936), o Carlos d’Abreu. Que os políticos que insultam, com palavras e actos, a humana pessoa, eles não prezam, afinal, a língua novilatina: se é esquizofrénico, de feito, o filisteu, e se o «homo» vem do humo, o «indivíduo» é aquele, ou aquela, que não se divide, e dessarte é ser humilde, e assim o alembramos aos liliputianos. E ora muito e muito bem: já falámos, aqui, da Vénus Vinália que vem com a frol. E eis como descreve, o Poeta, o êxtase, dessarte, do enamoramento: «atingíramos agora / aquele metafísico estádio / com que os deuses do Olimpo / brindam todos os amores / por eles semeados / e depois / por poéticos espíritos, / cultivados.» Ou seja: todo o homem apaixonado é tocado, mais tarde ou mais cedo, por as Musas maviosas, e daí, para o Autor, a necessidade metafísica. Que «omnia vincit amor», «o amor tudo vence»: assim o diz, em «Éclogas» X, 69 ), o preste mantuano ( Andes, 15/ 10/ 70 a. C. – Brundísio, 21/ 09/ 19 a. C.). Carlos d’Abreu, a talho de foice, ele segue a tradição portugalaica: foi devido à paixão do Rei D. Sancho I ( Coimbra, 11/ 11/ 1154 – Santarém, 26/ 03/ 1211 ) por D. Maria Pais da Ribeira, a celebrada «Ribeirinha» da nossa Idade Média (c. 1170 – Grijó, 1258),  que foi forjada e formada, entre nós, a mais avita das Cantigas de Amigo: «Muito me tarda / O meu amigo na Guarda». Ela é, simultaneamente, uma das mais antigas poesias portuguesas: Poesia, dessarte, histórica??? Ou histérica, em vez disso??? Que em discurso parentético, governou, o segundo Rei de Portugal, de 1185 até à morte sua. É que o Amor, como o sonho, é um estado supra-real. E o surreal, para António Maria Lisboa ( Lisboa, 01/ 08/ 1928 – Lisboa, 11/ 11/ 1953 ), não é só do movimento surrealista, é do Poeta, preclaro, de todos os tempos. E apontemos, «verbi gratia», um Homero (IX? – VIII a. C.), um Camões (c. 1524 – 10/ 06/ 1580), e, denodado, um Dante Alighieri (Florença, 1265 – Ravena, 1321 ). E eis, aqui, o êxtase e furor, o «manikós Eros» da Afrodite Anadiómena, e não alembras, jucundo, o Jorge de Sena (Lisboa, 02/ 11 /1919 – Santa Bárbara, Califórnia, 04/ 06/ 1978 )? Que, etimologicamente, o apaixonado é deveras um entusiasmado, ele alberga, desse modo, um deus interior. É que os poemas do Carlos parecem factos, parecem feitos, em estado de transe. E é o que chamam, psicanalistas, não já um estado alterado, mas sim um estado, ampliado, de consciência. E seguindo, sempre e sempre, a Boa Nova de São Lucas  ( Lc. 8: 11 ), hemos nós correlação da Palavra com o sémen; o germinal, ou genial, é sempre o genital. E, à guisa parentética, o digamos, agora: concordamos, inteiramente, com Charles Péguy ( Orleães, 07/ 01/ 1873 – Le Plessis-l’Évêque, 05/ 09/ 1914 ): enquanto houver egoísmo, ou véu de Maya, no coração do homem, o socialismo, ou anarquismo, será impossível; isso o firmamos e nós de feito o afirmamos. E Charles Péguy, afinal, não faz mais do que seguir o Pierre-Joseph Proudhon ( Besançon, 15/ 01/ 1809 – Passy, Paris, 19/ 01/ 1865 ), o Pai do anarquismo: «O mundo só pela moral será libertado e salvo»; e eis a «Crítica da Razão Prática», do Kant curial ( Konigsberg, 22/ 04/ 1724 – Konigsberg, 12/ 02/ 1804 ). No que era seguido, o Proudhon, por o nosso, e muito nosso, Antero de Quental (Ponta Delgada, 18/ 04/ 1842 – Ponta Delgada, 11/ 09/ 1891). Teve Antero, como poucos, teve Antero a consciência do Amor universal, mas era dado, desde moço, à bílis negra e depressão. E à melancolia era dado o Fernando Pessoa (Lisboa, 13/06/1888 – Lisboa, 30/ 11/ 1935 ), à depressão era dado o Mário de Sá-Carneiro ( Lisboa, 19/ 05 /1890 – Paris, 26/ 04/ 1916 ). «A raça irritável dos poetas»: assim nos classifica, nas «Epístolas», o Horácio figadal ( Venúsia, 08/ 12/ 65 a. C. – Roma, 27/ 11/ 8 a. C.). Corrobora, continuando, o Autor e feitor do «Eclesiastes» ( Ecles. 1: 18 ): «Porque na muita sabedoria há muito enfado; e quem aumenta ciência aumenta tristeza.» É que, em um dos seus «Problemas» ( XXX, 1 ), assevera, dessarte, o certo Estagirita: «Por que razão todos aqueles que foram homens de excepção no que toca à filosofia, à ciência do Estado, à poesia ou às artes foram manifestamente melancólicos, e alguns mesmo ao ponto de serem afectados pelos males cuja origem reside na bílis negra? ( … ) Entre as personalidades mais recentes, Empédocles, Platão, Sócrates e numerosas pessoas ilustres. E é necessário acrescentar a maioria dos que se dedicaram à poesia.» Amigo leitor e amável leitora, a palavra «melancolia» vem do grego «mélas» = «negro», e de «Kholé» = «bílis», e significa, precisamente, «bílis negra» ou «atrabílis», «atrabílis» é também um «acesso de loucura». Ouçamos, a talho de foice, os «desencantos», ou descantes, do sápido Orfeu; neles avonda, e se avoca, a figura da Mãe: «no doce e morno aconchego do teu regaço / ( partiste em viagem sem retorno e eu órfão ) / mas sei que a minha tristeza seria menos merencória // se ao menos pudesse estar na nossa casa / ( a minha ante-câmara da morte ) / em vez de só e desagasalhado. // nela hei-de verter todas as lágrimas / para quando em abril for ao teu encontro / repetir os sorrisos de menino». Já tinha notado, em filosofema do Carlos d’Abreu, uma forte ligação à Madre e à Deméter; em grego avito, e antigo, Deméter é a Mãe da terra semeada. A deusa helena é semelhante à Ceres dos Latinos, da qual vem o cereal, a Ceres que nos dá o Pão nosso de cada dia. Que a Mãe ou mulher é a casa do homem; das Maias o trigo, a Mãe é o mar e o porto de abrigo. Em priscos, avoengos, Mistérios de Elêusis, o grão de trigo, ao morrer, é sepultado, dessarte, no imo da terra, e surde, solenemente, como planta, à luz do Sol intemporal. Em Boa Nova joanina, a ciência é como segue: «Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, ao cair na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto.» ( Jo. 12: 24 ). Sendo o Inferno, quero eu dizer, o mundo soterrâneo, que está na fonte, e origem, de toda a criação, seja ela física, moral ou mesmo intelectual. Que em forma de parábola, ou de alegoria, o drama, dessarte, dos Antigos Mistérios é feito à imagem da agricultura. Que em Portuguesa, dessarte, e beleza Literatura, realçamos e alçamos, com os olhos em fogo, a «Oração ao Pão» (1902), de Guerra Junqueiro ( Freixo de Espada à Cinta, 15/ 09/ 1850 – Lisboa, 07/ 07/ 1923 ), Junqueiro que foi nado, outrossim, em dia 15 de «September». Mas há mais, ainda mais: Agatha Christie, que foi glória e foi gabo das letras britânicas, foi nada em Torquay, em 15 de Setembro de 1890 – e faleceu, de facto, em Winterbrook House, em 12 de Janeiro de 1976. Em faina e afã, Dame Agatha Mary Clarissa escreveu mais, eu disse mais, de romances 70, e por sinal policiais. E estado-unidense de água primeira, ele é James Fenimore Cooper; ele nasceu, em Burlington, em 15 de Setembro de 1789, pra dar a Alma, ao Criador, em Cooperstown, Nova Iorque, em 14 de Setembro de 1851, e a Matemática é eterna, e são Numes, por isso, os sápidos números. O livro por o qual ele à História passou foi «O Último dos Moicanos», de 1826. E ora muito e muito bem: abrem, «desencantos», com «Tempo e poesia». E a prima, prima quadra do «liber» primeiro, ela é como segue: «Se tivesse tido o tempo / para saber que tempo teria / houvera dedicado todo o tempo / ao tempo da Poesia». Para sagrar e consagrar, na quadra segunda: «Porque Poesia é o tempo todo / é o universo intemporal / a que alguns chamam engodo / próprio da vida já outonal». Nessa ordem de ideias, Georg Wilhelm Friedrich Hegel ( Estugarda, 27/ 08/ 1770 – Berlim, 14/ 11/ 1831 ), o feitor e Autor de a «Fenomenologia do Espírito», tem este claro, este belo pensamento: «A coruja de Minerva só levanta o seu voo ao cair do crepúsculo.» E fala-se, aqui, da introspecção. Pois pondo-se, deveras, à escuta da linguagem, a questa e a Demanda do Carlos d’Abreu é pois a seguinte: não e nanja o dominar, sim e sempre o celebrar. E este o nitente, e esta a natura da sua Poesia. Queremos dizer: no estado e no estudo da especulação, Carlos d’Abreu está atento, ele põe-se à escuta, das vozes recônditas que vêm do Ser, ele labuta, e porfia, no sentido do Ser. Que, em miráculo e maravilha, «especular», para os Latinos, era mirar o Firmamento com a ajuda dum espelho – e anela, o especular, o espectro, dessarte, e o espectacular. Que «a Poesia», para Novalis (Wiederstedt, Harz, 02/ 05/ 1772 – Weissenfels, 25/ 03/ 1801 ), «é o real absoluto. Este é o cerne da minha Filosofia». Pois Poetas, de feito, são Filósofos, Poesia e Filosofia marcham de mãos dadas – e hemos, na safra, Antero de Quental, Fernando Pessoa e o Carlos d’Abreu. Para lembrar, e remembrar, um Poeta esquecido, o Teixeira de Pascoaes ( Gatão, 02/ 11/ 1877 – Amarante, 14/ 12/ 1952). Ele cantou a Saudade, ou soledade, Mãe da raça lusitana – e pra Dórdio Guimarães (Porto, 10/ 03/ 1938 – Lisboa, 02/ 07/ 1997 ), a Ibéria é qual «Ubéria» ( 1978 ), e a Índia está pra Sintra como o mar está para o Marão. No seu poema «Camões», de 1825, mas publicado em França, «à cause» de aguazis, não resistimos a citar Almeida Garrett ( Porto, 04/ 02/ 1799 – Lisboa, 09/ 12/ 1854 ): «Saudade, gosto amargo de infelizes, / Delicioso pungir de acerbo espinho» – e foi assim que nasceu o Romantismo em Portugal. Bondoso, ponderado, e amável leitor: ao falarmos, sem falácia, de Carlos d’Abreu, tenhamos sempre em atenção: se vem, o liceu, de Apolo Lício, ensino superior ele é, deveras, ensino soberano, e leiamos, então, o poema «Universitas…»: «Percurso de constantes caminhares / de longo fim à vista. / Uma vez meta cumprida, o que ficou? // Talvez alguma informação / para além da descoberta / de muita interrogação. // Mais do que a Geografia / aproximou-nos a Utopia / duma Zabel pela Memória // Não fora as sociais pudicícias / e trova à provençal cantara: / seria de Amigo ou de Amor?» E demanda, Carlos d’Abreu, o «Philadelpho», a flor azul, dessarte, do franco-atirador. Esclareçamos, então, o ledo e o ledor: o poema com que abre, o Carlos, o andamento dos «Cantos», ele chama-se, no carme, «Cantiga d’amor». Fazendo jus ao seu curso de historiar e variar, este lai parece escrito numa doce Idade Média. Fundada, de feito, no século XII, a mais antiga Universidade do mundo, a de Bolonha, era «Universitas magistrorum scholarium», ou seja, a «universalidade de mestres e alunos», o «universo» de estudos, dessarte, e conhecimentos. Digamo-lo já: era, bem antes de Camões, o germe, o embrião, da moderna Enciclopédia, e «nomina numina» diremos nós ora. E estamos quase, ó ledor, quase a findar. Se na «República», de Platão, o «daimon» é uma espécie de anjo-da-guarda, se assevera, no «Banquete», que Eros é um «daimon», um intermediário, mediador, entre os homens e os deuses. E foi só a partir do Latim eclesiástico que passou a designar, «daemonium», «satanás, diabo, espírito maligno». Mas para Hesíodo ( séc. IX ou VIII a. C. ), por exemplo, o «daimon» é «semideus». E te alembras, ó ledor, que falámos, sem falácia, do «manikós Eros»??? Esta é a ( es )tese, afinal, «O Eros e a Lira em Carlos d’Abreu». O sonho, para este Vate, é qual hieróglifo de um deus. Tu podes ser, no estádio estético, tudo aquilo que anelares. E Beleza, para o Carlos, é o invisível, indizível, tornado sensível. Que o Escritor, embora laico, é um vivo sacerdote, o Poeta nos nutre com os pães da oblação, ou da proposição. Tens a glória e ovação??? Tens o louro e oratória, tens o «Logos», dessarte, partido em pequeninos. E se em mister, ou ministério, és o crente e o bem-querente, tens a luta, tens a Paz, tens o Pão pra toda a gente.


NOTA BENE

I

Por ter nascido em Mântua, chama-se, ao Virgílio, o preste «mantuano». O mais afamado dos Poetas latinos é o Autor da «Eneida», das «Bucólicas» e, outrossim, das «Geórgicas». E nós, de feito, o sinalamos: na «Divina Comédia», de Dante Alighieri, foi Virgílio quem guiou, o preste italiano, na viagem, figadal, por o Inferno e Purgatório. Ao referir-se, então, a Virgílio, assevera, deveras, o Dante: «Tu duca, tu signore e tu maestro», isto é, «Meu guia, meu Senhor e meu mestre». Ou indo, agora,  à Literatura, no lance, comparada, «As armas e os barões assinalados»: assim enceta, Camões, «Os Lusíadas» da Luz. E quase 16 séculos antes, «Arma virumque cano»,  «Eu canto a arma e o barão»: assim começa, Virgílio, o seu poema de «Eneida». Quanto ao mais, quer Ésquilo, quer Virgílio, quer Homero, são criadores, de feito, das teogonias e deuses… E como o vemos, «verbi gratia», em Giambattista Vico  ( Nápoles, 23/ 06/ 1668 – Nápoles, 23/ 01/ 1744 ) e Augusto Comte ( Montpellier, 19/ 01/ 1798 – Paris, 05/ 09/ 1857 ), a infância dum povo corresponde, sempre e sempre, ao seu estado teológico. Que aduzia o Virgílio: é fácil, de feito, a descida aos Infernos, o difícil, deveras, é volver à vida lauta. De Carlos d’Abreu diremos o mesmo que diziam, de Dante, as mulheres de Verona, ao vê-lo passar: «Olha este que vai ao Inferno e volta de lá quando lhe apetece.»

II

O primevo «Liceu», fundado por Aristóteles, ele deve o seu nome ao seguinte e ao requinte: é que ele era sito num bosque dedicado a Apolo Lício, o defensor dos rebanhos contra os lobos da ignorância. O Professor de liceu deverá ser, dessarte, qual o bem-querente iniciador, o promotor e Bom Pastor.

III

«Os Poetas nascem, mas os oradores se fazem», é um prolóquio ou preceito da sabedoria latina. Se o engenho vem dos genes, com a Arte aperfeiçoa-se o trabalho intelectual. Por isso a Poesia é ingénita deveras, o dom da Poesia é inato no homem. Ora o dom, etimologicamente, é o que deve ser doado. E o Poeta, como a grávida mulher, é o que vive, simbolicamente, em estado de Graça – e são grados os garantes, e são grátis os livros do Carlos d’Abreu……………………………………..


Tomar, Cidade Templária, 23/ 06/ 2023

SIC ITUR AD ASTRA

CENTRO DE LITERATURA E FILOSOFIA COMPARADAS

PAULO JORGE BRITO E ABREU