Caminhar no musgo

SÉRGIO NINGUÉM


caminhar no musgo da necessidade

com a sujidade toda

 

ver as feridas nas montanhas

pelas castanhas evidências

 

que me tornaram consciência

conheço a sobrevivência pelo rastejar

 

 

*

o som de uma caneta a cair sobre

o papel-sangue feito luz

 

sob o efeito do silêncio, a contra-luz

do sol abundante a bater nos abutres

 

na tinta restante das noites sofridas

e em feridas com um azul-frio

 

 

*

ao entardecer

amacio aquele breve sussurro

que flui zumbido

pelo interior do corpo

em braza fatigado

 

 

*

eu vi o pente que abriu a ferida

e penteou as ondas do mar

 

 

*

conheço as ruas poluídas

sei do sol nas esquinas

não sossego com as feridas longínquas


SÉRGIO NINGUÉM

Sérgio Ninguém (1976, Maia, Portugal). É poeta e editor do magazine de poesia Eufeme e da editora com o mesmo nome. Tem poemas publicados e traduções em diversas revistas e blogues. Publicou “pedra” em 2016 e “as ruínas são lobos que choram” em 2017. 


Blog pessoal: http://vestigiosdepoesia.blogspot.com/

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