MANUEL SENGO
Manuel Domingos Sengo – Nascido a 12/04/1954 em Urros, Concelho de Torre de Moncorvo . Residente em Lamego-Portugal. Participação nas obras literárias: Lamego 2023 Era Uma Vez,V Coletânea de Poesia Lusófona em Paris 2023, In Versus Veritas XVII/XVIII, Antologias 2023/24, III Coletânea Poética Terras de Gândara 2024, Autor da Obra de Poesia Caminhar nos Silêncios 2024.
PARA ONDE
A criança deseja ser adolescente e adulto
Nessa idade tem medos e coragem para crescer
Raramente olha para trás tem pressa de caminhar
Descobre jardins, e montanhas minúsculas para brincar
Olha os cumes distantes do mundo imaginário
Vê riachos e ribeiros como jovens a correr para o mar
Compara os caudais e as correntes em tempo seco ou com chuva
É esta proporção que o interroga sobre a grandeza das coisas
Quando tenta perceber o limite da dimensão do crescimento
Olha a floresta que lhe parece sempre igual
Sem dar por ela dizem já és um homem
Olha e confirma
É exatamente como os outros homens
Com uma diferença ainda não perdeu a criança e jovem que foi
Continua a acompanhar a sua transformação
Conclui que tem que aceitar essa condição
Tal como a água das fontes, riachos, ribeiros e rios
Chegam ao mar em correntes fortes e calmas amadurecidas
Também o ele tem que caminhar sem saber para onde
A água se transforma viaja na Terra, no mar e no ar
Tal como a água vagueia sem voltar
A criança se evapora na puberdade
O HOMEM na sua caminhada continua a acreditar
RAZÃO VITAL
Ando e procuro encontrar
Sempre sem pressa para chegar
Umas vezes a correr outras devagar
O objetivo é conseguir
Saber se posso continuar
Às vezes nada procuro
Entre os pratos da balança
Apenas cumprir o programado
Outras enfrentar o imprevisto
Nem sempre chegar é desejo
De procurar o desconhecido
Com andar calmo e conhecer
O que procurar no infinito
Sem pressa de ter pressa
Na vida busco o caminho
Da razão vital de equilíbrio
FINITO
A vida é um fio enrolado
Como o cordão umbilical
Quando a ligação se corta
A dar vida independente
Neste ciclo terreno
Que dá asas para voar
Com cantigas de vida
Quando esticado parte
Em amores de silêncio infinito
O poema mais belo e finito
Envolto na poeira do tempo
PEDRAS DE XISTO
Junto ao ribeiro a elegância do voo das libelinhas
O verde intenso do junco rodeado de flores silvestres
A diversidade das aves que suavemente poisavam para bebericar
As mulheres a lavar na água límpida e a roupa a corar
Tudo é vida retratada na tela mais bela e realista
As abelhas a bailar e beijar mil flores
Como recompensa levavam o pólen e o néctar
Para a colmeia distante no fabrico do manjar dos deuses
Fico hipnotizado e prisioneiro no tempo com estas imagens
Com o sol primaveril a iluminar a esperança duma criança
A diversidade da dança das borboletas com mil e uma cores
Recordo o cuidado e arte das mãos das mulheres na esfrega da roupa
Em pedras de xisto polidas com o tempo do uso ancestral
Os meus olhos viam o invisível da vida na substância da água
E as cores vivas e intensas que a natureza deu aos pássaros
Cada um pincelado como aguarelas vivas em movimento
E a diversidade da melodia dos seus cantares
Com o assobio do solista vestido de preto e bico amarelo
A sobressair na orquestra do cântico das rãs
A alegrar a canseira espelhada no rosto das mulheres
Com cestas cheias de roupa lavada e branqueada ao sol
As conversas alegres de agradecimento ao tempo
Por permitir a conclusão da missão de mulher pela fresca da manhã
Era este brilho no olhar de cada uma que libertava o melhor perfume
Os meus olhos guardam imagens sacras intemporais
De mulheres de perfil vertical e equilíbrio com a carga na cabeça
Apoiada na rodilha de bacias e cestos que pareciam colados ao corpo
Sem ilusão recordo a dura realidade das mulheres
Numa pintura de nobreza e cores dos diamantes femininos
Realçada nas gotas de água cristalinas
A brilhante perfeição transparente no mundo das esferas de sabão
Que voavam para o céu ao bater a roupa nas pedras de xisto do Arroio
VIDA
Vive sorridente e feliz quem consegue
ver os momentos menos bons como passageiros
Quando vê em cada dia uma dádiva de poder saborear a vida
Quando consegue ver diferenças nos dias que parecem iguais
Vive a felicidade quando gosta de si mesmo, e aprecia
os que o rodeiam
Sente a vida em todos os animais e seres vivos na Terra
Vive melhor se tiver coragem para ajudar os mais fragilizados
Quando entende que respirar é mais saudável se evitar a poluição
Quando agradece a neve, nevoeiro, sincelo, chuva, sol, calor
ou o frio da geada
Quando entende a natureza e respeita o habitat de todos os animais
Quando bebe água percebe a importância das fontes rios e mares
Quando entende as cantigas do vento
no trabalho que nos alimenta
Vive ao perceber as noites com luar e o sorriso das estrelas
Quando vê luz nas tristes com profunda escuridão
Sabe entender que tudo passa e regressa o sol com raios de luz
Compreender que a vida tem ciclos de chegada e partida
Sentir a vida no simples respirar na solidão
E no encantamento da companhia daqueles que ama
Vida é a alegria de respirar em todos os momentos de tristeza
Com o dobro de oportunidades de sentir paz, amor e ser feliz
DEUSES
O amor fingido que vejo
A reinar por aí
É um monstro que não queria ver
Que magoa e arruína qualquer ser
Como é possível disfarçar
O que se vê sem falar
Amar tem que ser leal
Sem fazer sofrer
Ao esconder o sentimento
No trilho do sofrimento
A arte de fingir agride
Amar é defender e progride
Paixão pode ser desordem ou
desilusão
Nem os deuses souberam lidar
com o desejo
Nas suas paixões pelos mortais
ONDAS
São as ondas que me levam
Ao mundo imaginário
Com o auxílio do vento
Numa mansidão do largo horizonte
Na imensidão que a vista alcança
Dentro da concha do céu e do mar
É nesta caminhada humana
Cinzenta e azul distante
Que se enfrenta a fúria das águas
A revolta do vento raios e trovões
Esta ansiedade de vencer e chegar
Para lá do mar e do céu se espera
Um mundo de aventuras de sonho
O homem inquieto procura respostas
No enfrentamento de Mar, Céu e Terra
Em ondas serenas, bravas e gigantes
No equilíbrio de amor e aventura nas
ondas da vida
LÁGRIMAS DE AMOR
Os meus olhos brilham com as espigas de trigo curvadas
Na paisagem ondulante de esperanças gradas
Como celeiro sem grão nem palha e lágrimas pesadas
Os campos agradecem o sol e a chuva de regas abençoadas
Em paisagens de sonho pelo homem desenhadas
Neste mar que balança com os raios e cores douradas
A encantar lábios de cor escarlate sedentos de paixão
Embriagados com o perfume das camomilas em flor
O vento sorri e dança suavemente em rodopio
Nas ondulações suaves dos trigais em união
Desperta paixões famintas do néctar das papoilas de opio
Com o olhar turvo das praganas do tempo
Gemidos do trigo no moinho e da massa no forno do pão
Como amante de searas férteis secam lágrimas de amor
SABES
Sabes que a máscara dos outros não é tua
Tu tens o teu rosto que identifica o teu caráter
A razão dos outros não é tua nem a mentira
Porque tens sempre coragem de falar verdade
O delinquente não és tu quando os outros cometem crimes
Andas de cabeça erguida sem qualquer receio
Quando erras sabes reconhecer e vais corrigir
Há outros que nunca reconhecem o seu erro
Sempre assumes a responsabilidade pelo que fazes
Caminhas a direito porque não te escondes
Tens a certeza que o teu rosto e ações são a tua identidade
Falas com a certeza do que dizes porque sabes
O teu silêncio diz que não tens opinião sobre o assunto
Porque o desconheces totalmente e vais estudar
A tua opinião é sobre a razão das regras e leis sociais
Conheces perfeitamente os valores da moral e ética
Distingues a verdade da mentira porque és justo
Conheces o significado e a magia de um abraço
Porque sentes o calor, sabes abraçar com afetos
Na Guerra há sofrimento e destruição tu amas e constróis
A humanidade tem muitos credos e religiões
Sabes que existem no mundo ditaduras e tiranos
Sabes que vivem mulheres com o rosto escondido
Sabes que a igualdade vai continuar sempre diferente
Sabes utilizar a razão e bom senso em alta tensão
Sabes dizer sim ou não porque és autêntico
Sabes porque conheces a paz, o amor e a liberdade
SOMBRA DE ESPÍRITO
Tenho em mim uma sombra interior
De gestos invisíveis e palavras mudas
Discreta apenas eu a sinto e percebo
Controla a paciência e pensamentos
Está sempre consciente e atenta
Na imensidão da liberdade solitária
Desliza como água no caudal e margem
À noite é luz das estrelas ao luar
No silêncio acompanha o meu andar
Como conselheira da visão exterior
Sorri como companheira do prazer
Chora minhas lágrimas sem gemer
Vive com o bater de meu coração
Sombra de espírito e minha conduta
FAZ
Faz tu um poema sentido
Escreve palavras de mel
Recorda o néctar vivido
Determina bem o teu papel
Procura as flores da vida
Fecunda e colhe frutos
Em amor bem construída
Nunca parecem muitos
Nesta aventura da idade
Que se liberta a semente
Com alegria e felicidade
Gera mais vida felizmente
Faz com amor o teu poema
Que é próprio da natureza
Decidir é sempre um dilema
Vais amar o fruto de certeza
CAMINHANTE
Sou um caminhante
no tempo
Conto as noites e dias
E também as horas
Muitas vezes vagueei
Nos caminhos que escolhi
Sei o início da viagem
Felizmente não sei o fim
Nos trilhos sonhei
Nos melhores acordei
Foram semanas
Foram meses a sentir
Foram anos de tempo contado
A maioria a dormir
O restante acordado
Muitos momentos a sorrir
Muitas vezes acertei
Outras tantas errei
Neste equilíbrio espero
Continuar na balança sem pesar
Em tempo de inversão
Na curva do caminho
Sinto muita vibração
Neste percurso feliz
Na arte de viver como aprendiz
Neste tempo sem medida
A vida é mais curta que comprida