À semelhança da iniciativa da reitoria de Sebastião Morão Correia, que no ano de 1953 trouxe a público o modesto registo impresso das comemorações do primeiro centenário do Liceu Nacional da Horta (1852-1952) – modéstia que a escassez dos recursos gráficos da época impunha – o meio século de vida que aquele estabelecimento de ensino, entretanto, acrescentou à sua respeitável existência mereceu, desta feita, cuidada e elegante memória evocativa da responsabilidade editorial da «Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta» e autoria de Carlos Lobão, antigo aluno e, hoje, docente da Escola Secundária Manuel de Arriaga, nome que a legislação reformadora fez suceder à antiga designação.
Fruto de uma investigação extensa e rigorosa, que as páginas de notas e a bibliografia claramente comprovam, em Liceu da Horta. Memória Institucional, Carlos Lobão revela ao leitor, em especial aos protagonistas que dão vida a estas páginas, a recordação de um tempo memorável para os que tiveram o privilégio de o viver, num trabalho que o púbico acolheu com muito agrado.
Os seus onze capítulos, antecedidos de competentes intervenções a introduzir o volume e o seu significado, a que tem de juntar-se uma bem elaborada síntese nas «Notas Finais» em jeito de conclusão, uma cronologia dos factos mais marcantes da existência do Liceu da Horta e uma selecção dos principais normativos que enquadram o ensino secundário desde 1836, finalizam com apêndices contendo a lista dos professores, funcionários e médicos escolares, fechando com a indispensável indicação das fontes e bibliografia em que é notória a preocupação de produzir trabalho de sólida fundamentação.
Ao longo das suas 194 páginas, em especial nos capítulos 1, 2, 3 e 5 desfila o historial da própria instituição e seu enquadramento na realidade mais vasta do país, assinalando-se as várias fases de evolução da estrutura física e seus equipamentos, à medida que as necessidades funcionais e o crescimento da população estudantil foram exigindo soluções renovadas. No capítulo 4 merece destaque a vertente pedagógica e as suas diversas implicações, nomeadamente no que toca à teia dos interesses privados exercidos num plano concorrencial com o liceu. As páginas do capítulo 10, incidindo sobre as actividades circum-escolares, complementam de alguma maneira a vertente pedagógica anteriormente referida. Conquanto autónoma em relação à instituição liceal, mas tão relevante e quase funcionando como uma extensão dos seus espaços recreativos, não teria sido descabida uma referência à «Acção Católica», tal a influência que exerceu sobre gerações de alunos que frequentaram o Liceu Nacional da Horta.
O elenco de reitores, dirigentes, o corpo docente e os funcionários, preenche os capítulos 6, 7 e 9, enquanto que o capítulo 8 é dedicado aos alunos, às suas instituições e à vida académica em geral, não descurando a análise de aspectos de índole socioeconómica que ajudam a caracterizar o universo dos adolescentes e jovens das comunidades que elegeram o Liceu da Horta como pólo de formação dos seus filhos. Neste capítulo, embora admitamos a existência de razões ponderáveis, estranha-se a não inclusão de uma listagem dos alunos, já que a mesma está elaborada e disponível na página da Internet da «Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta».
Por fim, no capítulo 11, dá-se conta da realização das comemorações do 1. o Centenário do Liceu Nacional da Horta em 1952.
A profusão das imagens reunidas por Carlos Lobão e criteriosamente distribuídas ao longo do texto, completa de forma muito agradável o trabalho realizado. Não sendo um repositório exaustivo de tudo quanto poderia ficar registado por via da imagem, será certamente uma parte significativa dos materiais a que o autor teve possibilidade de recorrer.
É importante sublinhar que este trabalho remete para um género de abordagem que se afasta, inequivocamente, da mera rememoração saudosista baseada no alinhamento de recortes acertados ao ritmo do tempo a que a obra se reporta. Na verdade, quer o autor do excelente prefácio quer o próprio autor desta memória, apontam para um esforço mais elaborado e profícuo; o de associar a agradável tarefa evocativa de um passado partilhado por uma comunidade de jovens em que se foi plasmando, como lembra Henrique Barreiros na «Nota de Apresentação», um forte sentido de pertença e de identidade de uma sucessão de gerações dessa constelação insular de proveniências várias que na Horta encontravam como que o lugar de confluência de sonhos e aspirações.
Por tudo o que fica dito, julgamos que esta memória é merecedora de aplauso e de louvor. De facto, a aparente simplicidade da tarefa esconde dificuldades significativas e implica uma enorme responsabilidade. Com efeito, a fixação evocativa de uma época – que no caso em apreço envolve também uma instituição tão relevante como o Liceu Nacional da Horta, a que se junta uma multidão de educadores e de alunos que o frequentaram no rolar de um tempo a que a nostalgia de uns e de outros, mais a saudade que estes e aqueles – os ainda vivos – acalentam na recordação dos que já partiram, tudo isto responsabiliza quem se incumbe de tarefa a um tempo tão aliciante e estimulante. É como um assumir de mandato para falar por todos, na obrigação estrita de fidelidade ao sentir colectivo dessas gerações que, na diversidade da vocação a que deram resposta e dos talentos que a sua experiência de vida foi revelando, marcaram e marcam ainda o seu tempo e o seu lugar, mesmo quando permaneceram ausentes.
Suportar este peso e lograr realizar com mérito uma tal tarefa, justifica o apreço do público a quem a obra se dirige.
Não será exagerado afirmar-se que o trabalho de Carlos Lobão cumpre com esmero os objectivos desta obra e, além disso, numa realização de digna sobriedade estética que ao leitor não deixará de causar agradável impressão.
Pela originalidade da abordagem e face ao modo particularmente feliz como concretizou este projecto de indubitável relevância cultural, Liceu da Horta. Memória Institucional, será, porventura, o mais conseguido dos trabalhos de Carlos Lobão.
Créditos são devidos à «Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta» pela iniciativa que se salda num excelente serviço prestado à comunidade açoriana e que é, afinal, um notável contributo para a história do ensino. Ricardo Manuel Madruga da Costa |