Integrado na colecção Património Natural Açoriano, depois de Aves Nativas dos Açores, de Cetáceos dos Açores – Baleias, Golfinhos e Toninhas e de Tabaco – uma planta de outro mundo, aparece esta obra sobre o chá.
O termo chá, usado em Portugal, provém de um dos poucos vocábulos do cantonês, «Tchá», integrados na língua portuguesa. Correntemente, este termo é associado a qualquer preparado feito com uma porção de água, em ebulição, a que se adiciona uma determinada quantidade de folhas, flores, inflorescências ou mesmo uma planta inteira, e que é deixado de infusão, por mais ou menos tempo. Assim, temos chá de erva-doce, de erva-cidreira, de malvas, etc. Rigorosamente, estas preparações domésticas deviam ser designar por infusões e o termo chá devia ser reservado para aquelas preparadas com as folhas da planta do chá, o chazeiro, (Camellia sineris), que os chineses aperfeiçoaram ao longo de milénios recorrendo ao uso de técnicas requintadas.
O chazeiro é uma «camélia» semelhante àquelas cultivadas, frequentemente, nos jardins. Por ser uma espécie de grande variabilidade genética, hoje são exploradas cerca de 350 cultivares, de que os grupos «China» e «Assam» são as principais, e ainda muitos híbridos, que, além de permitirem a adaptação desta cultura a locais e condições muito diversas, asseguram uma composição variada dos produtos extraídos e consequente diversidade de cores, sabores e odores das infusões produzidas.
O hábito de beber chá teve origem na China, há mais de 3000 anos, e encontra-se, actualmente, difundido quer nos países Orientais quer nos Ocidentais sendo, a seguir à água, a segunda bebida mais consumida no mundo, ultrapassando mesmo o café e qualquer tipo de refrigerante ou bebida alcoólica (p. 11).
Foi o major escocês Robert Bruce que descobriu o chá em estado selvagem no Assam, região do Nordeste da Índia incluída na área de distribuição geográfica desta espécie botânica que se estende à regiões montanhosas do Sul da China, ao sopé dos Himalaias e aos bosques da Birmânia.
Todavia, não obstante o chá ter chegado ao Norte de África muito cedo, por via terrestre, através dos comerciantes árabes que percorriam a rota da seda, só foi conhecido na África ocidental e na Europa, por intermédio dos portugueses e dos ingleses, já depois da expansão marítima, cerca de 1550.
Aos Açores, nomeadamente a S. Miguel, o chá terá chegado ou a partir de plantas do Norte de Portugal, com origem em sementes que Gaspar Pereira de Castro, ex-emigrante no Brasil daqui trouxera, e propagara com pouco sucesso em Coura e em Ponte de Lima, no século XVII, ou mais certamente, por volta de 1820, a partir de sementes que Jacinto Leite, comandante da Guarda Real na corte de D. João VI, trouxera para o lugar das Calhetas, ou ainda por mão de um antigo criado de João Soares que inicialmente teriam sido semeadas no local de Santo António, para fins ornamentais, e depois no lugar das Capelas (cf. p. 40). Particularmente desde que a produção e exportação de laranja para o mercado inglês declinou, em 1872, a produção do chá prosperou em S. Miguel.
Neste livro, o leitor encontrará a história desta indústria micaelense e ainda informação sobre o solo e o clima preferido pelo chazeiro e as técnicas de colheita e de tratamento das suas folhas, necessárias a que elas cheguem até ao consumidor com boa qualidade. Se ainda não tiver, passará a dispor de informação que o habilite a escolher o chá mais conveniente a cada situação, como fazê-lo, onde fazê-lo e como toma-lo. As embalagens exibem, impressas, informações importantes, que com este livro terá oportunidade de aprender a descodificar, desde palavras como Lipton, Twining e Hysson, até expressões como Orange Pekoe e Broken Pekoe.
O volume está dividido em seis partes: 1. O espírito do Chá; 2. O chazeiro – uma Camélia Especial!; 3. Histórias do Chá; 4. Da Planta à Bebida – Uma Arte Milenar...; 5. O Chá ritualizado; &. Dentro da Chávena, o Chá. E Dentro do Chá, o que há?
Paulo Rosa, Mestre em Biologia Vegetal, é docente na Escola Universitária Vasco da Gama, em Coimbra, onde rege as disciplinas de Botânica e de Fisiologia Vegetal. Interessa-se também pelo estudo etnobotânico da flora portuguesa e de plantas exóticas ornamentais. Nuno Farinha e Fernando Correia, ilustradores científicos, que têm mantido a nível muito elevado a apresentação gráfica desta colecção Património Natural Açoriano, são os responsáveis pelo design e direcção de arte. A maquetização é de Gradientes & Texturas, Lda.
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