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BOLETIM DO NCH
Nº 14, 2005

Luís M. Arruda:
"Chá, uma bebida da China"

Paulo Rosa
Chá, uma bebida da China

Mirandela, João Azevedo Editor, 2004

 

Integrado na colecção Património Natural Açoriano, depois de Aves Nativas dos Açores, de Cetáceos dos Açores – Baleias, Golfinhos e Toninhas e de Tabaco – uma planta de outro mundo, aparece esta obra sobre o chá.

O termo chá, usado em Portugal, provém de um dos poucos vocábulos do cantonês, «Tchá», integrados na língua portuguesa. Correntemente, este termo é associado a qualquer preparado feito com uma porção de água, em ebulição, a que se adiciona uma determinada quantidade de folhas, flores, inflorescências ou mesmo uma planta inteira, e que é deixado de infusão, por mais ou menos tempo. Assim, temos chá de erva-doce, de erva-cidreira, de malvas, etc. Rigorosamente, estas preparações domésticas deviam ser designar por infusões e o termo chá devia ser reservado para aquelas preparadas com as folhas da planta do chá, o chazeiro, (Camellia sineris), que os chineses aperfeiçoaram ao longo de milénios recorrendo ao uso de técnicas requintadas.

O chazeiro é uma «camélia» semelhante àquelas cultivadas, frequentemente, nos jardins. Por ser uma espécie de grande variabilidade genética, hoje são exploradas cerca de 350 cultivares, de que os grupos «China» e «Assam» são as principais, e ainda muitos híbridos, que, além de permitirem a adaptação desta cultura a locais e condições muito diversas, asseguram uma composição variada dos produtos extraídos e consequente diversidade de cores, sabores e odores das infusões produzidas.

O hábito de beber chá teve origem na China, há mais de 3000 anos, e encontra-se, actualmente, difundido quer nos países Orientais quer nos Ocidentais sendo, a seguir à água, a segunda bebida mais consumida no mundo, ultrapassando mesmo o café e qualquer tipo de refrigerante ou bebida alcoólica (p. 11).

Foi o major escocês Robert Bruce que descobriu o chá em estado selvagem no Assam, região do Nordeste da Índia incluída na área de distribuição geográfica desta espécie botânica que se estende à regiões montanhosas do Sul da China, ao sopé dos Himalaias e aos bosques da Birmânia.

Todavia, não obstante o chá ter chegado ao Norte de África muito cedo, por via terrestre, através dos comerciantes árabes que percorriam a rota da seda, só foi conhecido na África ocidental e na Europa, por intermédio dos portugueses e dos ingleses, já depois da expansão marítima, cerca de 1550.

Aos Açores, nomeadamente a S. Miguel, o chá terá chegado ou a partir de plantas do Norte de Portugal, com origem em sementes que Gaspar Pereira de Castro, ex-emigrante no Brasil daqui trouxera, e propagara com pouco sucesso em Coura e em Ponte de Lima, no século XVII, ou mais certamente, por volta de 1820, a partir de sementes que Jacinto Leite, comandante da Guarda Real na corte de D. João VI, trouxera para o lugar das Calhetas, ou ainda por mão de um antigo criado de João Soares que inicialmente teriam sido semeadas no local de Santo António, para fins ornamentais, e depois no lugar das Capelas (cf. p. 40). Particularmente desde que a produção e exportação de laranja para o mercado inglês declinou, em 1872, a produção do chá prosperou em S. Miguel.

Neste livro, o leitor encontrará a história desta indústria micaelense e ainda informação sobre o solo e o clima preferido pelo chazeiro e as técnicas de colheita e de tratamento das suas folhas, necessárias a que elas cheguem até ao consumidor com boa qualidade. Se ainda não tiver, passará a dispor de informação que o habilite a escolher o chá mais conveniente a cada situação, como fazê-lo, onde fazê-lo e como toma-lo. As embalagens exibem, impressas, informações importantes, que com este livro terá oportunidade de aprender a descodificar, desde palavras como Lipton, Twining e Hysson, até expressões como Orange Pekoe e Broken Pekoe.

O volume está dividido em seis partes: 1. O espírito do Chá; 2. O chazeiro – uma Camélia Especial!; 3. Histórias do Chá; 4. Da Planta à Bebida – Uma Arte Milenar...; 5. O Chá ritualizado; &. Dentro da Chávena, o Chá. E Dentro do Chá, o que há?

Paulo Rosa, Mestre em Biologia Vegetal, é docente na Escola Universitária Vasco da Gama, em Coimbra, onde rege as disciplinas de Botânica e de Fisiologia Vegetal. Interessa-se também pelo estudo etnobotânico da flora portuguesa e de plantas exóticas ornamentais. Nuno Farinha e Fernando Correia, ilustradores científicos, que têm mantido a nível muito elevado a apresentação gráfica desta colecção Património Natural Açoriano, são os responsáveis pelo design e direcção de arte. A maquetização é de Gradientes & Texturas, Lda.

 
Luís M. Arruda – Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa, Universidade Católica Portuguesa, Palma de Cima. P-1649-023 Lisboa.