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VINHO DO PICO
Victor Rui Dores

Tomaz Duarte
O Vinho do Pico

Horta, Edição do Autor, 2001

Levantamento exaustivo de quanto se escreveu sobre a vinha e o vinho do Pico, havendo a salientar o “Álbum fotográfico” aqui incluído, de inegável valor iconográfico. Com possível proveniência da ilha da Madeira e/ou da ilha de Chipre, sabe-se que as vinhas do Pico foram muitíssimo bem cuidadas por frades franciscanos, carmelitas e, mais tarde, pelos jesuítas e capuchinhos. A cultura dessas vinhas, durante o ciclo do famoso “verdelho”, esteve na base de todo um notável património que marcou, de forma indelével, a ilha montanha.

Um século antes do ciclo da laranja, foi o vinho do Pico que conseguiu “internacionalizar o Comércio Açoriano”, segundo o autor. Durante a primeira metade do século XIX este vinho correu mundo, tendo sido muito apreciado no Reino, ilha da Madeira, Brasil, Índias Ocidentais e Orientais... Foi também consumido por essa Europa fora: Inglaterra, Alemanha e, embora a escassez de documentação dificulte o esclarecimento, terá mesmo chegado à mesa dos Czares da Rússia. Autores como Chateaubriand, Garrett e Tolstoi renderam-se ao “rescendente Pico”.

Até que chegou o fatídico ano de 1852 que trouxe à ilha do Pico uma desgraça com o nome de oidium e, 20 anos depois, haveria de surgir uma outra praga chamada filoxera. E foi o descalabro económico para proprietários, morgados, barões, viscondes, fidalgos e outros “senhores” da ilha do Faial... E pior ainda para a plebe que vivia do vinho: feitores, quinteiros, vinhateiros, caseiros, rendeiros, carreiros, tanoeiros e outros trabalhadores rurais.

E depois veio a casta americana isabella, o nosso “vinho de cheiro”. E depois foi a reconversão das vinhas. E foi a introdução de novas castas europeias de que haveria de resultar as marcas “Terras de Lava”, “Basalto” e, mais recentemente, o generoso “Lajido”.

Tomaz Duarte traça, deste modo, um quadro admirável sobre a história do vinho do Pico, no tempo e no espaço. E fá-lo recorrendo a documentos, fontes bibliográficas, estatísticas e estimativas, conhecimentos históricos, testemunhos orais, exercícios de memória e observação atenta do real. Para ilustrar as suas narrações históricas ligadas à vinha e aos usos e costumes das vindimas, cita passagens literárias de autores como Rodrigo Guerra, Nunes da Rosa, Florêncio Terra e Ernesto Rebello.

Mas este historiador, recentemente falecido, não se limita a relatar factos históricos: interpreta-os e analisa-os, com rigor, paixão e sentido crítico, através de uma escrita que possuindo grande fluidez narrativa, é vernácula, iluminada e radiosa. A não perder. Victor Rui Dores

 
Victor Rui Dores – Conservatório Regional da Horta. Rua Marcelino Lima. 9900-122 Horta.