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O HOMEM E O MAR
Vítor Rui Dores

 

João Gomes Vieira
O Homem e
o Mar
Artistas Portugueses do Marfim e do Osso dos Cetáceos
Açores e Madeira. Vidas e Obras
.
Lisboa, Edição de Autor, Intermezzo-Audiovisuais, Lda, 2003.
 

É este o título do último livro de João Gomes Vieira, ele próprio coleccionador e artesão de scrimshaw, e que, deste modo, dá sequência ao estudo iniciado em O Homem e o Mar - Embarcações dos Açores, também referenciado neste Boletim, completando-se esta investigação com uma próxima obra em fase de acabamento e cuja publicação ocorrerá no corrente ano: O Homem e o Mar – os Açorianos e a Pesca longínqua nos bancos da Terra Nova e Gronelândia. Todas estas edições são bilingues (português e inglês) e apresentam-se com inexcedível qualidade gráfica. Longe vai o tempo em que os dentes da baleia serviam para calçar portas ou janelas de guilhotina para arejamento das casas... Hoje, o scrimshaw é uma arte rara e apreciadíssima. A palavra é de origem inglesa e designa os objectos gravados em marfim de cachalote ou utilizando o osso mandibular desse cetáceo. Os mais comuns são os dentes, mas também se encontra uma infinidade de souvenirs: caixas, talas para corpetes de vestidos de senhora, dedais, dominós, cabos de sinete, cachimbos, boquilhas, punhos de bengala, dados, agulhas, carretilhas para recorte da massa tenra, etc.

Estamos perante uma “arte baleeira”, uma forma de artesanato artístico que teve as suas origens no século XIX, nas frotas de baleação, inicialmente formadas por marinheiros americanos mas logo depois integradas por numerosos açorianos e cabo-verdianos. O trabalho de scrimshaw correspondia a um misto de entretenimento nas horas de ócio (calmarias, tempo­rais, rotas corridas, estações, etc.) e a uma expressão de saudosismo, o que bem se compreende se nos lembrarmos que os veleiros de caça às baleias chegavam a estar dois, três e quatro anos sem voltar ao porto de armamento. Os principais temas figurativos da arte dos baleeiros incluíam cenas alusivas às embarcações, à caça propriamente dita e aos cetáceos, mas também figuras humanas, que vão desde os lobos do mar às distantes e ausentes namoradas ou esposas. As técnicas mais utilizadas eram a incisão ou a gravação, sendo os entalhes pigmentados. Já no século XX surgiram os motivos insculturados, por vezes em alto-relevo.

Com informado Prefácio do professor Fernando António Baptista Pereira e um belíssimo ensaio do professor Rui de Sousa Martins, a obra em apreço é um exaustivo inventário dos marfinistas portugueses, desde os primórdios da arte baleeira até à actualidade, em cuidadosas e documentadas biografias feitas a partir de um consciencioso trabalho de campo que João Gomes

Vieira empreendeu nos Açores, Madeira, América e Continente, que nos revelam as origens geográficas dos artífices assim como as características e duração da sua actividade. Mas o autor não fica por aqui, uma vez que completa a sua lista dos marfinistas portugueses ou luso-descendentes com interessantíssimos capítulos sobre a própria técnica de execução e decoração e com uma vasta panóplia de excelentes ilustrações.

 

Victor Rui Dores - Conservatório Regional da Horta. Rua Marcelino Lima. 9900-122 Horta.