Carlos Ramos da Silveira é um publicista
persistente e empenhado a quem a historiografia açoriana já é devedora de
apreciável contributo. Aliando os seus méritos de infatigável coleccionador
de peças de iconografia associada aos temas que cultiva, ao labor profícuo
de uma investigação rigorosa, Carlos Silveira tem trazido a público
trabalhos de valia para o conhecimento da contemporaneidade do arquipélago
dos Açores, com destaque particular para a ilha do Faial. Quem conheça as
obras que publicou anteriormente – todas elas abordando temáticas ligadas ao
papel relevante que as ilhas dos Açores ocuparam no desenvolvimento das
ligações aéreas transatlânticas, em que se destaca o papel pioneiro da Pan
American na realização dos primeiros voos comerciais ligando a América à
Europa, com escala pelo porto da Horta – não estranhará o livro que o autor
agora fez publicar. Com efeito, este livro surge quase como uma exigência. É
como que o fechar de um ciclo temático em que o Faial, em virtude da sua
localização e das condições do seu porto, granjeou uma projecção à escala
mundial. Afinal, o livro trata, como afirma Reis Leite na nota de
apresentação, do nosso importante contributo para o fenómeno da
globalização. Como na era de Quinhentos, em que o arquipélago se revelou
instrumental para o sucesso das rotas das Índias e Américas, o trabalho de
Carlos Ramos remete-nos agora para o historial dos factos e realizações que,
uma vez mais, reclamaram a intervenção prestimosa do arquipélago como
plataforma incontornável para viabilização dos avanços das tecnologias
desenvolvidas de modo mais determinado a partir da transição do século XIX
para o século XX.
Após um prólogo em que o autor sublinha as
características de excelência do porto faialense, evocando em breve esboço o
significado e impacto das realizações que decorreram da sua posição
privilegiada como nó das telecomunicações transatlânticas, uma primeira
parte elucida o leitor quanto às formas mais rudimentares de comunicações
que no Faial se praticaram. O segundo capítulo incide sobre as realizações
mais específicas no domínio da telegrafia eléctrica, oferecendo
esclarecedora análise quanto às condicionantes de ordem política subjacentes
às decisões que desenharam a rede transatlântica em que a Horta, a partir de
1893, se integrou. O capítulo termina com a identificação das iniciativas
pioneiras no domínio do lançamento dos cabos submarinos ao serviço das
telecomunicações, avultando o domínio da Inglaterra.
Um terceiro capítulo remete o leitor para as
questões envolvendo a coexistência da telegrafia sem fios com o cabo na ilha
do Faial, com particular referência à estação dos Cedros.
Num quarto capítulo e de forma mais
circunstanciada no que toca ao tema central do trabalho, como o título
sugere, o autor oferece-nos um detalhado roteiro da “Horta dos Cabos
Submarinos”, individualizando o historial de cada uma das empresas de
telecomunicações que se fixaram na Horta e que deram particular visibilidade
à ilha do Faial no período que decorre de 1893 a 1969.
Por fim, nos capítulos derradeiros do livro,
já numa perspectiva evocativa de factos e personagens que caracterizaram um
quotidiano marcado pela inovação e por uma vitalidade que a presença de
colónias estrangeiras dinamizou, Carlos Ramos da Silveira, traz à memória de
muitos dos seus leitores cuja recordação dos “cabos” ainda permanece viva e
transmite às novas gerações que das “companhias” apenas tem como referência
a presença respeitável dos imóveis que as alojaram, episódios de uma Horta
que os ditames da geografia e as circunstâncias situaram na vanguarda do seu
tempo nestes três quartos de século de percurso.
Um apêndice documental e uma sugestiva
bibliografia encerram o trabalho.
Obra que pela sua índole e estrutura revela
claros propósitos de divulgação orientada para um público alargado, nem por
isso deixa de observar critérios de rigor e um trabalho de pesquisa a
requerer aturado esforço. Com apresentação gráfica agradável e cuidada e num
formato adequado à valorização de extenso material fotográfico de grande
valor e raridade, é visível que Carlos Ramos da Silveira não se poupou a
trabalhos para levar a bom termo esta obra de grande interesse e utilidade.
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