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TOMÁS DUARTE JÚNIOR
Um Depoimento
José Pacheco de Almeida

Almeida, J. P. (2004), Tomás Duarte, Júnior - Um depoimento. Boletim do Núcleo Cultural da Horta , 13: 71-72.
 

Convivi com o Dr. Tomás Duarte, Júnior, ao longo de cinquenta anos, desde a minha juventude, até à sua morte, em Agosto de 2003, e habituei-me a tê-lo como uma referência de companheirismo, saber, sentido de responsabilidade, rigor, empenhamento e preocupação em relação aos familiares, amigos e humanidade em geral.

Fizemos muita coisa em comum, nas áreas do trabalho, da reflexão sobre a vida e o homem, da economia, da origem e destino da humanidade, da justiça social, da solidariedade, e em tantos outros domínios que nos tocavam e nos aproximaram. Viajámos juntos para uma multiplicidade de países da Europa, América, Ásia e África, umas vezes em trabalho e noutras ocasiões em férias, mas sempre atentos aos povos e culturas, e à caminhada feita, em cada novo destino que nos era dado conhecer. Homem de cultura, amigo dos seus amigos, e apaixonado pela terra que o viu nascer, o Dr. Tomás Duarte, Júnior, nunca esqueceu as suas raízes, na Madalena, ilha do Pico, e o conjunto Pico Faial onde cresceu e se fez homem.

Personalidade multifacetada e talentosa, deu o seu melhor aos Açores, como gestor, político e cidadão exemplar, deixando marcas da sua passagem pelo Pico, Faial e Açores, que o tempo não apagará.

Convivi com ele nas áreas desportiva, sendo ele dirigente do Fayal Sport Club, decano dos clubes desportivos açoreanos, social, nas Sociedade Amor da Pátria e Grémio artista Faialense, dos jornais, no Correio da Horta, na intervenção cívica, no decurso das Semanas de Estudo dos Açores, na década de sessenta, na política, no Governo Regional dos Açores e na Assembleia Legislativa Regional, e em tantos outros domínios onde partilhámos ideias, recolhendo eu ensinamentos.

Sempre sereno, e exemplar chefe de família, foi um cidadão do mundo, sendo capaz de conciliar a ciência e o pragmatismo com uma profunda fé cristã, que sempre marcou o seu viver, e fez dele um exemplo para muitos. Tem diversos trabalhos publicados sobre o Pico e o Faial, e deu um contributo notável aos Açores, no domínio dos transportes marítimos e aéreos, e do turismo, no desempenho do seu mandato como Secretário Regional dos Transportes e Turismo, de 1984 a 1988.

Desenvolveu importante trabalho na Assembleia Legislativa Regional, de 1988 a 1992, tendo sido eleito pela sua ilha natal, o Pico, que procurou colocar na primeira linha do desenvolvimento dos Açores, sem prejuízo da defesa que sempre assumiu do desenvolvimento harmónico dos Açores, de Santa Maria ao Corvo. Como gestor deu uma boa parte da sua vida de trabalho à Bensaúde, na Horta, e em Ponta Delgada assumiu, entre outras funções, a de Director Executivo da SATA, de 1969 a 1973. Graduado pela Universidade dos Açores em Administração e Contabilidade, e em Gestão e Organização de Empresas, procurou sempre ir mais longe, e ver com maior clareza os desafios que se colocavam aos açorianos, e à humanidade em geral.

Organizado e perfecionista, foi um investigador a quem o Pico e o Faial ficaram a dever muito do que sabemos de algumas das figuras marcantes das ilhas do Canal, do povoamento até aos nossos dias. Defensor da natureza e ambientalista convicto, desenvolveu um trabalho admirável na protecção da paisagem da vinha e dos maroiços no Pico, sendo impulsionador do Museu do Vinho, e da Festa das Vindimas.

Integrou a equipa que preparou a candidatura da Paisagem Protegida da Vinha do Pico a Património da UNESCO, e a sua casa museu sobre o porto velho da Madalena do Pico, acolhe um notável conjunto etnográfico que a família guarda e conserva, mas que merece ser transformada numa memória viva do viver ilhéu, na ilha montanha, que possa ser visitada, em sua homenagem, numa obrigatória revisitação do nosso passado colectivo.