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BOLETIM DO NCH
Nº 16, 2007

O contributo dos Capelinhos para a imagem turística do Faial : Ricardo Manuel Madruga da Costa

Quando em 1957, no extremo Oeste da ilha do Faial, após intensa crise sísmica, o mar soltou das entranhas a península que hoje, na linguagem comum, dá pelo nome de «Vulcão dos Capelinhos», é bem possível que os faialenses não imaginassem o enorme impacto que este formidável fenómeno vulcânico viria a ter nos mais diversos aspectos da vida faialense.

À luz das preocupações da época, é mesmo provável que a repercussão da paisagem resultante daquela erupção vulcânica veio a ter na actividade turística, constituísse um ténue vislumbre apenas pressentido pelas elites esclarecidas da época. A presença de cientistas nacionais e estrangeiros que logo acorreram à ilha do Faial e a percepção de que o acontecimento, de facto, despertava a atenção de sectores do meio académico por todo o mundo, era prenúncio de que o interesse poderia extravasar a curiosidade da comunidade científica. As reportagens que revistas como a reputada National Geographic Magazine e a Paris Match logo fizeram divulgar por todo o mundo, seriam, naturalmente, incentivo à descoberta da ilha que acabava de ser dilacerada pela natureza em sobressalto pouco comum, dando corpo a uma manifestação vulcânica submarina de proporções e características invulgares.

Meio século decorrido, ao manusearmos a colecção de guias (1) e revistas especializadas (2) que a Direcção Regional de Turismo mantém no seu arquivo, apercebemo-nos de que a presença dos Capelinhos nas reportagens publicadas sobre os Açores por esse mundo além, inclui invariavelmente imagens e referências muito sugestivas à paisagem que perdura na «ilha nova» como referência marcante, indelével, de um acontecimento que continua a causar a mais viva impressão nos visitantes. Ao acaso, respigamos de algumas das publicações referenciadas, impressões e testemunhos que traduzem o profundo sentimento que a visão extraordinária da paisagem dos Capelinhos sempre causa nos que a observam:

«…uma paisagem a lembrar as sequelas de um holocausto nuclear…»

Hubert de Santana, Toronto Star.

«…um local idêntico ao do Vulcão dos Capelinhos é extremamente raro…»

Richard Cox, Ambiance.

«…o lugar mais incrível do Faial é a Ponta dos Capelinhos onde teve lugar a erupção vulcânica de 1957».

Isabelle Barbot, Solo Rutas & Aventura.

«…em resultado da erupção de 1957/58, o vulcão dos Capelinhos, no extremo ocidental da ilha do Faial, revela uma paisagem lunar revestida de cinzas».

Claire Aubert, Alpinisme et Randonnée.

«A terra […] enlouqueceu e mutilou-se abrindo amplas feridas nas suas extremidades. Depois serenou, curou e escondeu as suas feridas sob um espantoso abrigo de cinzas, oferecendo então aos olhos assombrados das pessoas mais uma maravilha».

Rutas del Mundo .

«Aqui, o cenário é um misto de ficção científica e desolação. Sinto-me minúscula perante os sinais do último vulcão açoriano que, em 1957, cobriu as casas e campos de cinza. O farol em ruínas é testemunha silenciosa de como, ao longo dos milénios, nasceu o arquipélago».

Rotas & Destinos .

«Uma das mais violentas erupções vulcânicas submarinas observadas no mundo, ocorreu a cerca de 2 quilómetros da costa em 27 de Setembro de 1957».

Madère. Açores. Les Guides Bleus Illustrés.

Porquê este fascínio, esta espécie de deslumbramento em presença da desolação agreste dessa paisagem insólita?

Na sua deambulação pelas ilhas, os visitantes que se deslocam aos Açores, estimulados pelas mais variadas motivações, confrontam-se com os fenómenos que a natureza vulcânica do arquipélago patenteia a cada passo; crateras, lagoas e caldeiras, tufos e basaltos rendilhando costas e enseadas, fumarolas e águas fervendo em turbilhão. Tudo na paisagem insular assinala com eloquente variedade a violência telúrica que no rolar dos milénios a superfície do Atlântico foi desvendando. Porém, afigura-se-me que a experiência do visitante ao «Vulcão dos Capelinhos», desperta um sentimento singular. A suavidade alisada da ilha ali nascida – que na escala do tempo apenas se mede por um meio século! – enraíza na falésia desnudada ostentando as cicatrizes vivas embutidas na modulação estratificada dos veios de pedra, como que rasgando o ventre da terra adormecida a sangrar de parto recente.

Inigualável, esta visão que transporta qualquer visitante sensível a um espectáculo que configura uma espécie de representação ao vivo da criação do mundo! Na verdade, para além do que o olhar revela e da impressão que os sentidos faz adivinhar, é a força da natureza áspera e rude que ali se mostra sem as roupagens que o tempo longo vai tecendo a alindar e a suavizar.

Nos «Capelinhos», o que a vista contempla sugere, na verdade, a visão primordial da terra a desvendar-se num momento inicial único, com a assinatura indelével do Criador.

(1) Foram consultadas as seguintes revistas, ordenadas de acordo com o ano da sua edição: (1984), Weekend. Dicembre, Milano; (1986), Abenteuer & Reisen. Sept./Oct. Germany ; (1994), Ambiance. Fev., Benelux; (1996), Rutas del Mundo. Out., s.l., Hymsa; (1998), Viajeros. Febrero, Espanha; (1998), Mundo Joven. Set./Oct., s.l.; (1999), Unterwasser das tauchmagazine. Abr., Germany; (1999), Solo Rutas & Aventura. Jan./Fev., Espanha; (1999), Paisajes. Maio, Espanha; (1999), Alpinisme et Randonnée, s.l; (2001), L’Illustré. n.º 14, Avril, France; (2001), Echo touristique. Juillet/Août, França; (2001), Escape. Noviembre, Barcelona; (2001), Todoturismo. Set., Espanha; (2002), Rotas & destinos. Maio, Lisboa; (2003), Toronto Star. April 5, Toronto; (2003), Travel (Suplemento The Times, July 5). United Kingdom; (2003), Hemmets Journal. 16 Out., Finlândia; Femme Actuelle. Mar./Abr., s.l.

(2) Foram consultados os seguintes guias ordenados de acordo com o ano da sua edição: (1986), Hansen, Jens Ploug, Açorerne. Ni øer i Atlanten . Denmark, Skarv Publicatiobns; (1987), Azoren kennen und lieben. Germany, LN – Touristikfürer; (1987), Müller, Michael, Portugal . Algarve-Lissabon-Nordport.-Azoren. Germany, Verlag Martin Velbinger; (1987), Abel, Wolfgang, Portugal . Azoren. Ein Landschafts-und Erlebnisführer. Germany, Oase; (1987/88), Portugal . Germany , Der Große Polyglott; (1988), Jessel, Hans; Bremen, Silke vom, Azoren Handbuch . Kiel, Conrad Stein Verlag; (1988), Müller, Ralf, Azoren . Switzerland, Walter-Verlag; (1993), Fisher, Thomas, Richtig reisen. Azoren . Germany, Du Mont; (1996), Ørum, Inge Lise, Turen går til Madeira og Açorerne. Aalborg , Politikens Forlag; (1997), Mühleisen, Stefan U.; Meding, Manfred, Azoren . München, Polyglott-Verlag; (1999), Schenkmanis, Ulf, Se Azorerna . Stockholm, Carlons Rese Guyide; (2000), Paulsen, Inge-Lise, Turem går til Açorerne . Denmark, Politikens Forlag; (s.d.), Körner, Tonia, Wandern auf den Azoren , Germany, Dumont aktiv.