Costa, R. M. M. (2007), The beginnings of the press in Faial one hundred and fifty years ago. A brief sketch. Boletim do Núcleo Cultural da Horta , 16: 173-174.
O brilho das «luzes» em Portugal revelou-se tardio e não será de estranhar que o impacto das novas ideias da Europa iluminista tenha sido ainda mais retardado no que respeita às ilhas dos Açores, permitindo a persistência de um imobilismo arcaizante. Por isso, talvez, também o tardio aparecimento da imprensa no arquipélago a que poderá estar associado também o atribulado período de instabilidade política posterior à paz de 1834, nomeadamente a fase repressiva do regime ocorrido após a Maria da Fonte em 1846.
No entanto, ao longo dos séculos XVIII e XIX, devido à sua posição a meio do Atlântico e no cruzamento das principais rotas marítimas, a ilha do Faial em particular, terá sido permeável ao fluir das correntes de pensamento propiciadoras da formação de uma consciência cívica a que a queda do Antigo Regime e a gradual afirmação dos princípios liberais dariam lugar. É mesmo no decorrer das lutas liberais que surge a imprensa nos Açores com a publicação da Chronica da Terceira no ano de 1830. Um pouco mais tarde, em Ponta Delgada, com a edição do Açoreano Oriental em 1835 tem lugar um novo projecto jornalístico e estas iniciativas não terão deixado de constituir estímulos a que idêntica vontade despontasse na ilha do Faial. Num período em que o espírito associativista faz o seu percurso e numa época onde afloram elites intelectuais interessadas e activas, não se estranhará que a sociedade faialense tenha visto surgir a primeira iniciativa editorial de um jornal com a publicação do Incentivo no ano de 1857, acontecimento que a Regeneração e a liberdade de imprensa reassumida terão facilitado. Sob a direcção e iniciativa do faialense João José da Graça (1836-1893) – o «advogado Graça» – estava lançada a imprensa na ilha do Faial e, pode afirmar-se, este primeiro jornal frutificou de forma exuberante, multiplicando-se, a breve prazo, os títulos de vários periódicos, muitos deles sob a direcção do introdutor da imprensa no Faial. É mesmo surpreendente a proliferação de títulos trazidos a público na segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, como é também surpreendente constatar que não houve aspecto da vida colectiva que não merecesse uma iniciativa jornalística a ele dedicado de forma especial. No desporto, na política, na mera informação e, sobretudo, no campo literário, a Horta foi testemunha de realizações jornalísticas muito diversas e de grande qualidade. Como tem sido sublinhado, enraizando nas iniciativas pioneiras do jornalismo da ilha do Faial, floresceram os valores da intelectualidade que transformou a imagem do burgo faialense no mais dinâmico dos pólos culturais dos Açores em finais de Oitocentos e no primeiro quartel do século XX. No conto, na poesia, na crónica, no ensaio, vamos surpreender inúmeros talentos cuja afirmação na comunidade está, invariavelmente, associada ao labor e empenho num qualquer jornal.
O papel da imprensa faialense a partir daquele arranque pioneiro de há 150 anos, na dinâmica social, política, desportiva e, em particular, no plano das iniciativas de natureza cultural e associativa, é inquestionável, aindaque a avaliação do seu impacto aguarde estudo a aprofundar a abordagem que sobre o tema o Dr. Tomás da Rosa deixou em importante evocação conferência pronunciada no decorrer da III Semana de Estudos dos Açores. O que é certo é que o que fomos e o que somos; muito do que de peculiar se aponta no carácter distinto no viver colectivo das gentes da ilha do Faial, tem a ver com o impulso resultante da influência do movimento das ideias e do impacto cultural que a imprensa nascida nos meados de Oitocentos foi capaz de gerar.
Assinalar no Boletim do Núcleo Cultural da Horta esta efeméride é, de algum modo, homenagear algumas figuras com estreita ligação à plêiade da primeira geração fundadora do Incentivo e de outros títulos que logo se lhe seguiram, como Florêncio Terra e Marcelino Lima, colaboradores da primeira hora nas páginas deste Boletim, já que podem ser consideradas herdeiras directas dos protagonistas desse primeiro impulso criativo nascido com a introdução da imprensa no Faial em 1857. |