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BOLETIM DO NCH
Nº 15, 2006
Dedicado a Pedro da Silveira

(2005) JOÃO A. GOMES VIEIRA, FAMÍLIA DABNEY. THE DABNEY FAMILY 1804/1892. FAYAL - AZORES. MEMÓRIA DE UM LEGADO. MEMORY OF A LEGACY. Lisboa, Ed. Intermezzo - Audiovisuais, Lda
Ricardo Manuel Madruga da Costa – rmmc2@sapo.pt.
 

Com assinalável ousadia e uma per sistência que tem de merecer público louvor, João A. Gomes Vieira trouxe a público, no mês de Agosto de 2005, nova edição de temática açoriana integrada num ciclo ao qual, sugestivamente, deu o nome de O HOMEM E O MAR. O álbum que agora edita é dedicado ao precioso legado que a família Dabney, ao longo da era de Oitocentos, foi fixando em imagens fotográficas focando algumas ilhas dos Açores, aliando à sensibilidade e ao gosto uma extraordinária intuição quanto à escolha dos temas e das perspectivas. Há neste repositório como que uma intencionalidade na orientação da objectiva e na escolha dos motivos e isto numa dimensão que leva a acreditar que não se trata de mero acaso ou de um ocasional rasgo de felicidade por parte do autor de cada fotografia. A lenta passagem das páginas na contemplação desta magnífica memória insular, abre-nos as portas de um mundo que as descrições literárias permitiam aperceber vagamente, mas que agora se revelam num verdadeiro deslumbramento.

Já eram conhecidos os chamados “álbuns dos Dabney” depositados na Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta cujo conteúdo já havia sido parcialmente divulgado. Todavia, a utilização de recursos técnicos ao nível do tratamento digitalizado e da edição de imagens, revela-nos a realidade de um modo totalmente diverso. Por outro lado, graças ao empenho de João Gomes Vieira junto dos responsáveis do Whaling Museum de New Bedford, estamos agora perante novos motivos, formando um conjunto extraordinariamente rico em que se nos revelam aspectos de sete das nove ilhas do arquipélago, ainda que o Faial, como será compreensível, predomine. Para além de um texto de enquadramento em que Gomes Vieira, recorrendo a uma extensa bibliografia já existente, parte da qual consta no final do livro, procura situar a presença da família Dabney no Faial ao longo de quase todo o século XIX, perspectivando essa presença segundo os vários interesses que a “família” foi desenvolvendo a par do estatuto consular “herdado” de geração em geração com episódicas e pouco significativas interrupções, o álbum abre com um excelente texto do Professor Doutor Rui de Sousa Martins, docente da Universidade dos Açores e responsá vel pelo seu Centro de Estudos Etnológicos. Neste texto, para além de uma análise de natureza antropológica que tem muito em conta a “intimidade” dos Dabney com a realidade física e humana das ilhas e que explica a sua capacidade de intuir o que de essencial e de relevante havia a fixar pela objectiva, Rui de Sousa Martins dá ao leitor igualmente a visão do viajante em visita ocasional ou propositada pelas conhecidas Ilhas Ocidentais – as Western Islands . O cruzamento deste manancial ainda mal estudado da literatura de viagens que ao Faial se refere, com o conteúdo fotográfico legado pelos Dabney resulta, na óptica de Rui Martins, num rico repositório capaz de fazer as delícias do estudioso interessado em apurar as “representações etnológicas” que respeitam à ilha do Faial. Por outro lado, como sublinha, este acervo fotográfico surge como excelente complemento dos Annals of the Dabney Family in Fayal , com dois volumes já traduzidos para português. Após sistematizar a organização dos álbuns e a tipologia do seu conteúdo, o útil ensaio de Rui de Sousa Martins termina com uma breve síntese de algumas das várias representações que a criteriosa observação das fotografias permite extrair e que, como pode deduzir-se do seu estudo, estruturam um verdadeiro corpus identitário. O resto da obra, preenchendo cerca de 200 das 260 páginas da edição, constitui o álbum fotográfico em que as ilhas do Faial, Pico, S. Jorge, Graciosa, Terceira, S. Miguel e Santa Maria estão representadas, embora o Faial ocupe lugar de relevo com mais de 50% das imagens. Uma obra de luxo, pela forma e pelo conteúdo, havendo a referir ainda uma breve mas sugestiva apresentação de Mário Frayão e um prefácio da Secretária Regional do Ambiente e do Mar. Como reparo, deixa-se para final a ideia de que teria sido desejável uma mais cuidada legendagem das fotografias e a inserção da caracterização técnica de cada uma delas no que toca ao respectivo original.

RICARDO MANUEL MADRUGA