Sou
profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com
o “silêncio obsequioso”
pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser
preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o
“Brasil Nunca Mais” onde se denunciavam as torturas, usando
exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime
autoritário.
Esta
história de vida, me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual
enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama
ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um
enfrentamento de idéias e de interpretações e o uso legítimo da
liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa
que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra
acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa
guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a
mentira direta.
Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando
vêem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam
como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para
todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os
donos do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, de O Globo, da
revista Veja na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais
falso e xulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco
histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que
não aceita um Presidente que vem deste povo. Mais que informar e
fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da
imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de
oposição.
Na
sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos,
editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido à mais
alta autoridade do pais, ao Presidente Lula. Nele vêem apenas um peão a
ser tratado com o chicote da palavra que humilha.
Mas
há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista.
Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande
tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar,
a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados
com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas,
pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial.
Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.
Como
o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e
Reforma) “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi
sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e nãocontemporânea. A
liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura
de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é.
Nunca viu suas virtudes nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de
tudo, Jeca Tatu, negou seus direitos, arrasou sua vida e logo que o viu
crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação, conspirou para
colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe
pertence (p.16)”.
Pois
esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os
pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles
tem pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma
trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma
questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém
de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidene de todos os
brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.
Os
donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se
deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais
organizados de onde vem Lula e tantas outras lideranças. Não há mais
lugar para coroneis e de “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula
afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa
midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente
arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a
porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura
da palabra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes
de informação e de opinião.
O
povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em
si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo,
operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se
fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que
beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram
pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e
de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter
luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais
salário, em fim, a melhorar de vida.
Outro conceito innovador foi o desenvolvimento com inclusão soicial e
distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento
que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com
salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando
satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar
melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e
de práticas ecológicas. Mas importa reconhecer que Lula foi fiel à sua
promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais
marginalizados.
O
que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de
melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia
comercial que assiste, assustada, o fortalecimento da soberania popular
que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator
dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada
vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço
à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes
opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A
democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento
dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA faz questão de não
ver, protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra
mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.
O
que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma
é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial,
neoglobalizado e no fundo, retrógrado e velhista ou o Brasil novo com
sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora
despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca
tínhamos visto antes.
Esse
Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma.
Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão
triunfar a despeito das má vontade deste setor endurecido da midia
comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho
novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de
brasileiros. |