Não sou
membro do PT mas um cidadão que se interessa pelos destinos do nosso
pais, nos últimos sete anos moldados pelo governo Lula.
A campanha eleitoral se iniciará oficialmente dentro de pouco. Há o
grande risco de que predomine um espírito menor, diria quase infantil,
de uma campanha plebicistária entre os feitos do governo de FHC e
daquele de Lula. Seria a disputa tola entre o ontem e o anteontem ou
entre o atrasado e o velho, como preferem alguns ecologistas. Pois ambos
os contendores, na relação desenvolvimento e natureza, manejam o mesmo
paradigma, sob severa crítica mundial, por conter o veneno que nos pode
matar. Isso só serviria para distrair os eleitores dos verdadeiros
problemas que o Brasil e o mundo irão enfrentar.
Uma disputa eleitoral séria, à altura da fase planetária da humanidade e
da importância fundamental do Brasil dentro dela, não deveria estar
voltada para o passado a ser continuado mas, sim, para o futuro a ser
construido coletivamente. Quem apresenta o melhor projeto de Brasil para
o nosso povo e em sua relação para com a nascente sociedade mundial? Que
contribuição essencial podemos dar face aos cenários dramáticos que se
desenham no horizonte?
Permito-me apresentar três sugestões para animar a discussão interna do
PT. O lema do encontro nacional - A Grande Transformação - nos remete
Karl Polanyi com o clássico livro do mesmo título (1944) no qual mostra
como a sociedade virou uma sociedade de mercado, transformando tudo em
mercadoria. Não será essa a Grande Transformação pensada pelo PT. Para
que seja outra coisa, o partido deve assumir seriamente este fato
irrecusável: A Terra mudou porque já estamos dentro do aquecimento
global. A roda não pode mais ser parada, apenas diminuir-lhe a
velocidade. Se o termômetro da Terra subir para mais de dois graus
Celsius, nos próximos decênios, como previstos pelos melhores centro de
pesquisa, enfrentaremos no Brasil e no mundo a tribulação da desolação.
Muitos projetos já concluidos do PAC poderão ser anulados. Não incluir
em todos os planejamentos este dado é mostrar falta de inteligência
prática e irresponsabilidade histórica. Do contrário teremos que aceitar
a maldição de nossos filhos e filhas e de nossos netos e netas.
Outro dado não menos perturbador é: a insustentabilidade do
sistema-Terra. A partir de 23 de setembro de 2008 ficamos sabendo que o
planeta Terra ultrapassou em 30% sua capacidade de repor os bens e
serviços necessários para a vida. Estamos consumindo hoje o que
precisaremos amanhã. Se quisermos universalizar o nivel de consumo das
classes médias mundiais, incluidos os oitenta milhões de brasileiros,
precisaríamos já agora de três Terras iguais a esta. Este modelo de
crescimento, como parece subjacente ao PAC, mostra a sua inviabilidade a
médio e a longo prazo. Não é que deixemos de produzir. Devemos produzir
mas dentro de um outro paradigma menos depredador do sistema-Terra, com
um acordo de respeito à suportabilidade de cada ecossistema e com uma
ampla inclusão social, imbuidos todos de uma ética do cuidado, da
responsabilidade universal e da busca do bem viver para todos.
Por fim, o PT precisa conscientizar o fato de que o Brasil é,
seguramente, o pais-chave para o equilibrio do Planeta. Ele é a potência
das águas, o detentor das maiores florestas, as grandes sequestradoras
de dióxido de carbono e reguladoras dos climas, com imensa
biodiversidade e vastas terras agricultáveis, podendo ser a mesa posta
para as fomes do mundo inteiro, com capacidade incomparável de gerar
energias alternativas e com um povo altamente criativo, que fez um
ensaio civilizatório dos mais significativos, não imperialista, e com
uma visão encantada do mundo que lhe permite, no meio das contradições,
celebrar suas festas, torcer por seus times e dançar seus carnavais,
características essas decisivas para conferir um rosto humano à
mundialização em curso.
O futuro passa por nós. Não percebê-lo por ignorância ou distração é não
escutar os apelos da Mãe Terra e é defraudar seus filhos e filhas,
nossos irmãos e irmãs que apenas pedem singelamente viver com decência. |