Em todos os
paises se estão buscando saídas para a crise atual. Mais que crise, no
meu modo de ver, estamos diante de um ponto de mutação de paradigma que
está prestes a ocorrer. Mas está sendo protelado e impedido pela
arrogância, típica do Ocidente. O Ocidente está perplexo: como pode ele
estar no olho da crise, se possui o melhor saber, a melhor democracia, a
melhor consciência dos direitos, a melhor economia, a melhor técnica, o
melhor cinema, a maior força militar e a melhor religião?
Para a Bíblia e para os gregos essa maneira de pensar, constituía o
supremo pecado, pois as pessoas se colocavam no mesmo pedestal da
divindade. Eram logo castigadas ao desterrro ou condenadas à morte.
Chamavam essa atitude de hybris, quer dizer, de arrogância e de excesso.
Ouçamos Paul Krugman, Nobel de economia de 2008, no dia 3 de março no
New York Times:”Se você quer saber de onde veio a crise global, então
veja a coisa dessa forma: estamos vendo a vingança do excesso; foi assim
que nos atolamos nesse caos; e ainda estamos procurando uma saída”. Não
se dizia antes greed is good? A ganância que é excesso, é boa?
Arrolemos outra citação do insuspeito Samuel P. Huntington em O choque
de civilizações: ”É importante reconhecer que a intervenção ocidental
nos assuntos de outras civilizações provavelmente constitui a mais
perigosa fonte de instabilidade e de um possível conflito global num
mundo multicivilizacional”. Huntington explica que é a arrogância que o
move a estas intervenções. Os ocidentais pretendem saber tudo melhor.
Johan Galtung, norueguês, um dos mais proeminentes mediadores de
conflitos do mundo, trabalhou três anos tentando mediar a guerra no
Afeganistão. Afastou-se, decepcionado e irritado, denunciando: “a
arrogância ocidental impede qualquer acordo; este só é possível à
condição de os talibãs se submeterem totalmente aos critérios
ocidentais”.
Talvez a forma mais refinada de arrogância foi e é vivida pelo
Cristianismo, especialmente sob o atual Pontífice. Rebaixou as outras
Igrejas negando-lhes o titulo de Igrejas. Impugnou as demais religiões
como caminhos para Deus.
Mas tem antecessores mais severos: Alexandre VI (1492-1503) pela bula
Inter Caetera dirigida aos reis de Espanha determinava: “pela autoridade
do Deus Todo-Poderoso a nós concedida em São Pedro, assim como do
Vicariato de Jesus Cristo, vos doamos, concedemos e entregamos com todos
os seus domínios, cidades, fortalezas, lugares e vilas, as ilhas e as
terras firmes achadas e por achar”. Nicolou V (1447-1455) pela bula
Romanus Pontifex fazia o mesmo aos reis de Portugal. Concedia “a
faculdade plena e livre para invadir, conquistar, combater, vencer e
submeter a quaisquer sarracenos e pagãos em qualquer parte que estiverem
e reduzir à servidão perpétua as pessoas dos mesmos”.
Dá para ir
mais longe no excesso e na hybris? Apagou-se totalmente a memória do
Nazareno que pregava o amor incondicional e que todos somos irmãos e
irmãs.
A arrogância do Ocidente impede que os chefes de Estado, face à atual
crise, se abram à sabedoria dos povos e busquem uma solução a partir de
valores compartilhados e de uma visão integradora dos problemas da Casa
Comum, ferida ecologicamente. Nos discursos de Barack Obama ressoa a
arrogância tipicamente norteamericana de que os EUA ainda vão liderar o
mundo. É uma liderança montada sobre 700 bases militares espalhadas por
todo o mundo e munidas com armas de destruição em massa, capazes de
dizimar a espécie humana e deixar atrás de si uma Terra devastada. Essa
liderança arrogante não queremos. |