Nos inícios do ano os vinte paises mais
ricos do mundo (G-20) se reuniram em Londres para encontrar saidas à
crise econômico-financeira mundial. A decisão de base foi continuar no
mesmo caminho anterior à crise mas com controles e regulações a partir
de uma presença maior do Estado na economia. Os controles seriam pelo
tempo necessário à superação da crise, a fim de evitar o colapso global
e as regulações para restaurar o crescimento e a prosperidade com a
mesma lógica que vigorou antes.
Esta opção implica continuar com a exploração dos recursos naturais que
devastam os ecossistemas e fazem aumentar o aquecimento global e o fosso
social entre ricos e pobres. Se isso prosperar dentro de pouco
enfrentaremos crise da mesma natureza, pois as causas não foram
eliminadas. Acresce ainda o fato de que os restantes 172 paises (ao todo
são 192) sequer foram ouvidos e consultados. Pensou-se em ajudá-las mas
com migalhas. Efetivamente, toda a Africa, o continente mais
vulnerável, seria socorrida com menos fundos que o governo dos EUA
aplicou para salvar a General Motor.
O impacto perverso da crise sobre os paises de baixo ingresso
apresenta-se aterrador. Estima-se que, enquanto durar a crise, mais de
100 milhões de pessoas caiam cada ano na extrema pobreza e um milhão de
postos de trabalho se perderão por mes. Tal fato fez com que o
Presidente da ONU, Miguel d’Escoto Brokmann, imbuido de alto sentido
humanitário e ético, convocasse uma reunião de alto nivel que reunisse
os 192 representantes dos povos para juntos discutirem entre si a crise
e buscarem soluções includentes. Isso ocorreu nos dias 24-26 de junho do
corrente ano nos espaços da ONU. Todos falaram. Era impactante ouvir o
clamor que vinha das entranhas da Humanidade: os ricos lamentando os
trilhões em perdas de seus negócios e os pobres denunciando o aumento da
miséria de seu povo.
Muitas vozes soaram claras: não bastam controles e regulações que
acabam beneficiando os que provocaram a crise. Faz-se urgente um novo
paradigma que redefina a relação para com a natureza com seus recursos
escassos, o propósito do crescimento e o tipo de civilização planetária
que queremos. Importa elaborar uma Declaração do Bem Comum da Humanidade
e da Terra que oriente etica e espiritualmente o sentido da vida neste
pequeno planeta.
Depois de um intenso trabalho previamente feito por uma comissão da
expertos, presidida pelo Nobel de economia Joseph Stiglitz e com as
colaborações vindas de quatro mesas redondas e da Assembléia Geral
concertou-se um documento detalhado que ganhou o consenso dos 192
represenantes dos povos. O perigo coletivo facilitou uma convergência
coletiva, uma raridade na história da ONU.
O documento prevê medidas imediatas especialmente para salvar os mais
vulneráveis sob coordenação de várias instituições internacionais,
articuladas entre si. Mas o mais importante é a apresentação de um
programa de reformas sistêmicas que prevê um sistema mundial de reservas
com direitos especiais de giro, reformas de gestão do FMI e do Banco
Mundial, regulações internacionais dos mercados financeiros e do
comércio de derivados e principalmente a criação de um Conselho de
Coordenação Econômica Mundial equivalente ao Conselho de Segurança.
Desta forma se presume garantir um desenvolvimento estável e
sustentável.
O fato desta cúpula mundial é gerador de esperança, pois a humanidade
começa a olhar para si como um todo e com um destino comum. Mas todas as
soluções se orientam ainda sob o signdo do desenvolvimento, o fator
principal gerador da crise do sistema-Terra. Ele tem que ser trocado por
um “modo sustentado geral de viver”, caso contrário assistiremos à
bifurcação da humanidade, entre os que desfrutam do desenvolvimento e os
que são vítimas dele. Não chegamos ainda ao novo paradigma de
convivência Terra-Humanidade, forjador de uma nova esperança.
O próximo futuro, dizia o Presidente da Assembléia, será pela utopia
necessária que precisamos constuir para permanecermos juntos na mesma
Casa Comum.
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