ouço a tua voz nas folhas do jardim
que ainda existe por detrás da casa,
as tuas frágeis sílabas gravadas nas flores,
que hoje dá na luz inclinada do terraço
onde os pássaros vêm pela manhã poisar
e cantar no estendal para comer...
e eu fico calada na memória das tuas gargalhadas
entre o baloiço onde brincavas e o som das ruas
onde te foste para sempre esconder.
ouço a sinfonia das gotas de água ao cair da tarde
as nuvens no seu manto negro de anoitecer...
subo então silenciosamente por uma escada feita de cinza e aves
até ao coração da água
que vem em mim morrer ...
fico ao longe solitária
seguindo as tuas lágrimas,
as minhas mãos cresceram tanto que saíram para fora da estrada...
agora posso tocar-te e falar-te sem tu veres…
recolher as estrelas que o vento me traga,
e as palavras que procuro
até adormecer,
enquanto os pássaros vêm aninhar-se no meu colo...
maria azenha |