vinte e cinco poemas
vinte e cinco navios
vinte e cinco palavras
ao cair lento da tarde
gente que vem e vai
que semeia a terra com sol
gente com flores nos dentes
com um farnel de pássaros ao ombro
e um cajado herdado de nossos pais
gente que canta e dança com as gaivotas
sempre a treinar sempre a dançar
no sonho de se transformar em mar
vinte e cinco navios
vinte e cinco poemas
nos teus olhos pretos
vinte e cinco lanças deitadas ao luar
de cada vez que vais de cada vez que partes
vinte e cinco folhas atiradas ao vento
vinte e cinco navios que apascentam o mar
vinte e cinco traços riscados na sombra
vinte e cinco gritos atirados à espuma
uma candeia acesa na mão das bruxas
com vinte e cinco pedras às costas
para cantar
vinte e cinco poemas
que caem a pique nas ruas
vinte e cinco crianças à roda
de mãos dadas com as cidades do mundo
abril não volta abril está à porta
e eu digo: até breve
para que o sol subindo a liberdade
anseie beijar vinte e cinco bocas
cheias de fome
com vinte e cinco pedras dentro
com vinte e cinco poetas
com vinte e cinco navios
com vinte e cinco músicas no rio
meus olhos estão húmidos
a verdade não se amarra
nas escolas nos países
em toda a parte do mundo
dizem e lembram
que abril está a chegar
abril são as tuas lágrimas que eu enxugo
abril é o mundo.
maria azenha |