Claudio Willer em breve apresentará a sua tese de doutoramento sobre gnosticismo e literatura à Universidade de São Paulo. Ele conhece os ensaios de Francisco Teixeira, menciona-os na tese. Considera muito bom este livro, “Gnosticismo, Humanidade e Salvação”, sétimo a ser publicado pela Apenas Livros, na colecção “Lápis de Carvão”.
Fiquei contente com o apreço de Claudio Willer, ensaísta e poeta do campo surrealista, por isso bem inteirado dos aspectos esotéricos da cultura. É o que documenta o ensaio que publicou ao lado de Richard Khaitzine, debaixo do título comum “Poesia, língua das aves”, número 4 desta mesma colecção. Richard Khaitzine é um especialista da língua das aves, o modo de falar dos poetas e dos alquimistas. Aliás, o modo de falar dos intelectuais em tempos de repressão das ideias.
Não será necessário mencionar um por um os mais de vinte autores que douram uma série de opúsculos de modesta aparência – desde António de Macedo a José Medeiros e desde Amorim da Costa a José Manuel Anes. Bastará dizer que o ouro provém da Tradição, e em especial da tradição alquímica. Esta colecção, com a cor da obra ao rubro, e nome alusivo à união das duas ordens maçónicas, a Maçonaria Florestal e a Maçonaria da Pedra, colige as comunicações ao Colóquio Internacional “Discursos e Práticas Alquímicas”, organizado todos os anos por José Augusto Mourão e por mim.
As comunicações que tratam de assuntos apenas literários ou científicos têm lugar na colecção verde, “Naturarte”. Ambas no clássico formato de cordel da Apenas Livros Editora.
A colecção vermelha, “Lápis de Carvão”, interessa para a formação do maçon. Tal como o alquimista, o maçon tem de se trabalhar a si mesmo como bruta pedra ou como rude toro de madeira, até chegar ao polimento da obra de arte. Não é fácil libertarmo-nos dos vícios e erros, tanto mais que certas impurezas se devem à biologia e não ao carácter. E tanto mais que grande parte das impurezas se deve mais à incultura do que ao mau coração. Mas, se fosse fácil, a tarefa não teria valor nenhum. Por contribuir para ela, e porque é um repositório da Tradição, a série de opúsculos “Lápis de Carvão” merece apreço e patrocínio.
A série está a constituir-se também como registo de pesquisa sobre a temática maçónica, em especial Maçonaria Florestal.
Foi muito grato ouvir da boca do Grão-Mestre da Alta Venda Carbonária do Brasil, Walmir Battu, que o TriploV, portal de onde trasladamos os textos para papel, é uma referência mundial para a Carbonária. Os livros que vão saindo no Brasil já nos começam a referir como fonte de informação. Oxalá a série “Lápis de Carvão” tenha a mesma utilidade, pois os textos publicados estão todos em linha no TriploV. É o caso do número 8, “A la Carbonara”, com três ensaios sobre os carvoeiros: um, meu, tem por título “Magia e Rito Florestal em Herberto Helder”. O segundo vem de França, “Charbonnerie et Franc-Maçonnerie” e assina-o J.-C. Cabanel. O terceiro é uma prancha de Sílvio Benítez López, Bom Primo do Paraguay: “Los Carbonários – Una História de la Masonería Florestal”.
Os três autores nem sempre concordam entre si, portanto só posso garantir que os textos são bons e que merecem leitura. Bem sabemos como é polémica, intrigante e mal conhecida a Maçonaria Florestal Carbonária. Apenas Sócrates prometeria que textos discordantes sobre a mesma nota nos deixavam esclarecidos…