Antologia internacional “Emergência Climática”

 

NICOLAU SAIÃO


 Nicolau Saião – Poeta, pittore, saggista, traduttore e attorerelatore. Premio nazionale “Rivelazione 90” dell’Associazione Portoghese degli Scrittori con il libro “Gli oggetti inquinanti”. Altri: “Flauto di Pan”, “Le occhiate perse”, “Passaggio di livello” (teatro), “Le voci assenti” (cronache e saggi), “La scrittura e il suo contrario”.


   A editora italiana Edizioni Universum, dirigida por Giovanni Campisi, deu a lume há poucos dias a antologia internacional “Emergência Climática”, no sentido de chamar a atenção, de forma alargada, para os problemas ecológicos a que está submetida “a nossa mãe Terra” (sic) e visando mais uma vez despertar, mediante um poemário significativo, a necessidade de todos pugnarmos pela melhoria do relacionamento com a Natureza, que urge ser protegida de forma empenhada e real.

  Esta antologia, com poemas no original e traduzidos em várias línguas europeias (italiano, inglês, francês, espanhol, grego, austríaco…) foi prefaciada por Enza Agnelli. Quarenta e um autores, distribuídos pelos idiomas que escolheram para as traduções, compõem o poemário, que depois de lançado em Itália está a ser difundido em vários países – europeus, africanos e do Novo Mundo.

   Convidado a participar na antologia, fi-lo mediante o meu poema “Árvore”, constante no “Os objectos inquietantes” e que agora aqui vos deixo de juntura com a tradução, por Giovanni Campisi, na língua italiana.

 

ÁRVORE

 

Gostava de ter árvores como alguns têm flores.

Árvores, muitas árvores: laranjeiras, pinheiros, uma oliveira ao pé

do mar, se eu tivesse uma casa a sotavento das dunas

como as que se adivinham em certos quadros de Cézanne

se a luz é muito clara e permanece

com velhos nomes gregos que não sei.

Nespereiras, limoeiros, uma que outra ameixoeira

parecendo, vistas de longe, ser

de uma substância estranha e desconhecida.

Não me importava, até, de em tardes de calor

ter dentro do meu quarto um abrunheiro donde pendesse

um decente e fraternal cadáver.

 

A verdade é que não me assusto facilmente

e tenho confiança no reino vegetal.

 

Malus sieboldi, catoneaster dielsiana, vós sois

os mais exactos filhos do mundo.

 

Gostaria de me rodear, um dia, de videiras

– essas árvores turvas da esperança –

e quando digo rodear sei o que digo, pois

queria que se enrolassem nos meus rins, nas espáduas

me descessem pelas pernas e lançassem

perto do meu sexo folhas novas

e que, ao lusco-fusco, enquanto no céu passam

os pequenos satélites mortais e luminosos que o desespero

do Homem lá coloca, por surpresa se transformassem

em plantas de gesso de frutos impensáveis.

 

Chego a perturbar-me por vezes se vejo

uma árvore junto a um hospital

 

Não sei porquê creio que me lembro mais

ou sinto mais

agudamente os níveis dolorosos das origens

do cristal, da carne

os esponjosos tecidos da sombra e da frescura

das cores da morte pronta para o grande tumulto.

 

Que medo, em certas noites, ver

de noite uma árvore

 

Sei perfeitamente que uma árvore é um símbolo

obscuro da nossa vida, principalmente da nossa vida

que não houve. Mas mesmo assim

dentro das ruas, dentro das casas

as árvores têm um outro entendimento

um mistério muito delas

– e não completamente inventados –

pois não desprezam a agonia dos homens, o choro dos homens

o seu riso, a sua fome, os sinais todos

que o Homem podia e devia ter.

 

As árvores começam e acabam sem amor

e sem ódio.


 

ALBERO
Tra. Giovanni Campisi

 

Vorrei avere alberi come alcuni hanno fiori.

Alberi, tanti alberi: aranci, pini, un ulivo in riva al mare,

se avessi una casa a ridosso delle dune

come quelle in certi quadri di Cézanne

s’intuisce se la luce è molto forte e resta

con nomi greci antichi che non conosco.

Nespole giapponesi, limoni, uno più di altri il susino,

che da lontano sembravano di una sostanza strana e sconosciuta.

Non mi importava nemmeno che nei pomeriggi caldi

avessi in camera un albero di prugnolo

su cui pendeva un cadavere decente e fraterno.

 

La verità è che non mi spavento facilmente

e ho fiducia nel regno vegetale.

 

Malus sieboldi, cotoneaster dielsiano,

siete i figli più precisi al mondo.

 

Vorrei circondarmi, un giorno, di viti

– quegli alberi fiochi della speranza –

e quando dico circondare so cosa intendo,

perché volevo che si avvolgessero intorno ai miei reni,

sulle mie spalle, scendessero

lungo le mie gambe e gettassero

nuove foglie vicino al mio sesso

e che,al crepuscolo, mentre in cielo passano

i piccoli satelliti mortali e luminosi che la disperazione

dell’Uomo vi depone, a sorpresa si trasformassero

in piante di gesso dai frutti impensabili.

 

A volte mi arrabbio se vedo

un albero vicino a un ospedale

 

Non so perché penso di ricordare o sentire più

acutamente i livelli dolorosi delle origini del cristallo, della carne

i tessuti spugnosi dell’ombra e della freschezza

dei colori della morte pronti per il grande tumulto.

 

Che paura, in certe notti, vedere

un albero di notte.

 

So perfettamente che un albero è un oscuro

simbolo della nostra vita, soprattutto della nostra vita

che non esisteva. Ma anche così,

dentro le strade, dentro le case,

gli alberi hanno un’altra comprensione,

un mistero in più di loro

– e non del tutto inventato –

perché non disprezzano l’agonia degli uomini,

il grido degli uomini,

il loro riso, la loro fame, tutti i segni

che l’Uomo poteva e doveva avere.

 

Gli alberi iniziano e finiscono senza amore

né odio.