O METEORITO BENDEGÓ (3) Somente em 1887, quando o Brasil já deixara de ser uma colônia de Portugal e o reinado do Imperador D. Pedro II, neto de D. João VI, estava chegando ao fim, conseguiu-se transportar o meteorito Bendegó da Bahia para o Rio de Janeiro onde se encontra até hoje, em exposição no Museu Nacional.
Foi-se a "pedra" mas ficou a lenda. Foi muito dura a jornada do meteorito sobre um carretão de quatro rodas puxada por 24 bois através de 106 km de caatinga em busca da estrada de ferro recém construída. Sete vezes o meteorito caiu da carreta. A travessia foi interrompida mais quatro vezes para substituição dos eixos do carro. Parecia que a pedra não queria mesmo deixar o Sertão, mas levaram-na à força, contra sua vontade Os moradores das margens do rio Bendegó até que estavam acostumados com a falta de chuvas naquela região, mas o ano que se seguiu à retirada do meteorito foi diferente. A seca de 1889 foi simplesmente terrível. A lembrança da resistência da "pedra" despertava temor nos sertanejos, a associação foi natural. A seca era castigo de Deus por terem removido a "pedra" do seu lugar, levando-a para Corte.
Que fazer? Vingança em primeiro lugar. O marco D. Pedro II construído no local onde o meteorito foi achado foi destruído. Suas placas de bronze foram enterradas e nunca mais se ouviu falar delas. A ata lavrada pelos engenheiros da vitoriosa expedição e colocada nas fundações do Marco foi simplesmente estraçalhada por aquele povo analfabeto que queria chuva e nada mais. Arrefecida a ira inicial os homens trataram de cavar o local onde a pedra foram originalmente encontrada em 1784. Tinham a esperança de encontrar outra igual a que os engenheiros levaram e assim restituir ao sertão seu talismã que faria chover, acabando a seca que estava matando seus bois e jumentos. Não acharam outra pedra, mas desencavaram grande quantidade de fragmentos oxidados de ferro que até hoje podem ser encontrados no local.
As chuvas vieram, aquela seca acabou e os homens que presenciaram a remoção do meteorito morreram, mas a lenda persiste até os dias atuais. A vida aqui é difícil assim meu filho, porque levaram embora a pedra do Bendegó, disse-me certa vez um calejado sertanejo quando eu fazia minhas pesquisas de campo para escrever o livrinho "Os Meteoritos e a História do Bendegó" justamente para desmistificar os relatos existentes.
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