O METEORITO BENDEGÓ (1)
WILTON CARVALHO
PALESTRA PROFERIDA NA ABERTURA DO
III COLÓQUIO INTERNACIONAL DISCURSOS E PRÁTICAS ALQUIMICAS,
EM LISBOA, PORTUGAL, EM 29/06/2001
Senhoras e Senhores,
Vim de longe para lhes falar sobre uma pedra extraterrestre. Uma pedra cheia de encantamento e misticismo. Uma História e uma lenda dos sertões do Brasil. Uma pedra que na verdade é uma grande massa de ferro com 5.360 quilos, descoberta em 1784 no interior do Brasil e que não está aqui em Lisboa graças ao seu descomunal peso.
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METEORITO BENDEGÓ NO PEDESTAL ORIGINAL
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Uma pedra que os índios brasileiros chamavam Quitá, ou Quilá ou, talvez, Cuitá e que nós batizamos de meteorito Bendegó. Cuitá. Pedaço de ferro caído do céu, na linguagem dos índios , segundo a interpretação do escritor e folclorista brasileiro Afrânio Peixoto.
Diz a ciência que são passados 122 mil anos desde que esse visitante sideral aqui chegou.
Índios não deveriam existir naquela época para ver o pedaço de ferro
cair do céu e nem desenhar enigmáticos traços e estrelas em um
rochedo, nas proximidades do local onde ele foi achado entre os cactos
do árido sertão da Bahia.
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DESENHO PEDRA RISCADA POR VON MARTIUS
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A pintura rupestre encantou von Martius e Debret que incluíram em seus relatos de viagens o estranho desenho. Será que o sofisticado método radioativo de datação da queda dessa pedra é de fato infalível? Ou será que o poema do índio aculturado Manoel Joaquim de Sá, escrito no século XIX, reflete uma verdade mais recente?
Aquela pedra Quilá
Na infância de minha avó (*)
Uma medonha faísca
Fez no espaço uma risca
E caíu no Bendegó
O estampido e o pó
Retumbou e quis sufocar
E indo a esse lugar
Grande concurso de gente,
Achava-se ainda quente
Aquela pedra Quilá.
Com a maior segurança
Deus a pôs neste lugar;
Ninguém a pode abalar,
Nem dar-lhe certa mudança.
E porque tem circunstância,
Com esta certeza vá,
Que nesta terra não há,
Só si for a Virgem pura.
Tem ciência e está segura
Aquela pedra Quilá.
O defunto capitão-mór
Bernardo Carvalho da Cunha
Nesse tempo se dispunha
Trazê-la do Bendegó;
Achou-a firme qual nó,
Como ainda hoje está:
Carro e bois levou de cá
Com toda sua companhia,
Não trouxe como devia,
Aquela pedra Quilá.
Depois que ele morreu,
Ainda veio um viandante
Ver se era diamante,
Porém não a conheceu,
O malho nela bateu.
"Esta pedra não é má
porém jeito nenhum dá."
No mesmo dia voltou,
E intacta ficou
Aquela pedra Quilá.
Monte
Santo (Bahia) 13 de junho 1782.
o
índio Manoel Joaquim de Sá oferece ao
seu amigo português Antonio de Souza Freire,
morador
de Pau Grande.
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