A ALQUIMIA NO FUNDO BIBLIOGRÁFICO
DA ESCOLA  POLITÉCNICA (1)
PILAR PEREIRA

BASILE VALENTINE

A obra agora apresentada é composta pela selecção de três tratados de química, a saber:

I – Basil Valentine – “Prática” com doze chaves e um apêndice. A sua identidade permanece num controverso enigma. Sabe-se contudo que Basil Valentine, em 1413 viveu no Mosteiro de S. Pedro, em Erfurt, encantado com as suas experiências da arte médica e pensamento natural. As suas obras são altamente respeitadas.

II – Thomas Norton – “Crê em mim” ou “Ordinal”, escrito há 140 anos e traduzido em latim do manuscrito inglês, mantendo todas as frases e máximas.

III – Cremer – “Testamento”, inteiramente inédito até esta época.

Todos eles estão ornamentados com figuras habilmente gravadas em cobre, com o trabalho e estudo de Michael Maier. Foram impressos pela 1ª vez em Frankfurt, em 1618.

A gravura apresentada, que ilustra a folha de rosto, representa os três autores a trabalharem no seu laboratório.

Na folha de rosto do “Testamento”, de Cremer, a gravura ilustra o famoso comentário de Tomás de Aquino sobre a produção de metais com a mistura de dois vapores, enxofre e mercúrio : um seca, o outro humedece.

Tomás de Aquino diz que, provavelmente, o alquimista fabrica a verdadeira produção de metais a partir do Enxofre e Mercúrio por exalação da transpiração de certos corpos através da aplicação de calor proporcional, o qual é o agente natural.

Salienta que a maior dificuldade enfrentada pelo Artista é a operação oculta da “Virtude Celestial”.

O anónimo samaritano foi identificado por Daniel Stalcius como Michael Sendivogius Polonus.

A gravura mostra Saturno regando a Terra coberta de plantas do Sol e Lua. A substância do Erudito transforma-se primeiro em Enxofre Branco (a Árvore Lunar), depois em Enxofre Vermelho (a Árvore Solar), e é cautelosamente absorvida ou embebida gota a gota, com o fim de aperfeiçoar a qualidade e multiplicar a quantidade. Saturno, o jardineiro, indica a origem da qualidade da Água Mercurial, que é usada por ele.

Explicação alquímica do Mundo.

Do Inferno satânico ascende-se ao caos igneo. Dali, ao Mundo Natural : Terra, Água, Ar e Céu (considerado como habitação dos deuses) com o Homem entre o Ar e o Céu.

Mercúrio comunica com o Mundo arquetípico da divindade, bom e infinito.

A sétima chave (do tratado de Basil Valentine) representa o Sal dos Filósofos ou água eruptiva (Água dentro do triângulo de Fogo), o qual comanda o Caos, para Perfeição do Erudito. É o seu vaso ou Sigillum Hermetis que dissolve o metal e empresta o Corpo à Alma, segurando-A num amplexo tão apertado que, se as quatro Estações do Fogo estão correctamente aplicadas, é impossível fugir-lhe. A balança e a espada de dois gumes simbolizam respectivamente o peso da Natureza e o Fogo Secreto.

Terminamos esta apresentação com Robert Boyle, nascido em 1627. Estudou no famoso Colégio de Eton. Em 1641, atraído pelos estudos de Galileu, visita a Itália. De regresso a Inglaterra, com outros colegas criou a “Escola Invisível”. Era uma escola sem aulas e sem carteiras, uma associação de homens excepcionais, cuja obra foi extremamente fecunda para o progresso da Humanidade.

Entretanto, nos finais de 1663, por vontade do rei Carlos II, a Escola Invisível foi transformada em Royal Society. 

Boyle definiu a lei fundamental dos gases, mas também lançou as bases da química dando uma nova e válida definição do conceito de elemento e submeteu as crenças alquimistas a uma cerrada e inabalável crítica.

O ponto de partida da química como disciplina científica pode fazer-se coincidir com a publicação do livro mais famoso de Boyle – “Chymista Scepticus...” (O Químico Céptico), (Fig. 19) em 1680 ( 1ª ed. apareceu em 1679, com o título “Sceptical Chymist”). Foi desde então que o estudo das transformações da matéria deixou de se chamar alquimia, para passar a chamar-se química. Os elementos químicos foram definidos por Boyle como “substâncias incapazes de se decomporem”.

Pensamos ser bem merecida a inscrição tumular que define Boyle como “O Pai da Química”.

Apesar das suas descobertas e do seu formidável trabalho, Boyle não conseguiu libertar-se completamente das ideias do seu tempo. Continuou a acreditar na feitiçaria, na possibilidade de transformar os vários metais, de tal modo que, em 1689 exortou o Governo Britanico a revogar a lei contra a produção alquimista do ouro.

Na sua enorme boa fé considerava que, conseguindo transformar os metais “vis” em ouro, os químicos teriam podido demonstrar a teoria atómica.

Nesta questão não era suficientemente céptico, pois, para chegar à demonstração da estrutura atómica, seria necessário muito mais trabalho e outros conhecimentos para além dos que tinham conseguido adquirir os estudiosos de 1600.

II Colóquio Internacional Discursos e Práticas Alquímicas (1999)

IN: Discursos e Práticas Alquímicas. Volume II (2002) - Org. de José Manuel Anes, Maria Estela Guedes & Nuno Marques Peiriço. Hugin Editores, Lisboa, 330 pp. hugin@esoterica.pt

APOIOS
DOMINICANOS DE LISBOA