Durante muito tempo pensou-se que os europeus conheceram a ciência árabe graças às cruzadas. Isto só é verdade em parte porque, desde o séc. IX (dois séculos antes da 1ª cruzada) os sábios ocidentais mantinham relações e conhecimento dos trabalhos dos seus colegas da Academia de Córdova. Esta universidade possuía uma das mais vastas bibliotecas do mundo, com mais de 250 000 volumes. Infelizmente, depois da conquista de Granada, a maior parte destes livros foram queimados pelo fanático inquisidor Ximenes.
Nesta época a Europa ainda estava mergulhada numa ignorância muitas vezes partilhada entre os monarcas e os seus súbditos. O conhecimento era propriedade do clero, que também era depositário da religião, das ciências e das letras; daí a existência dos conflitos entre os poderes temporal e espiritual.
No séc. XII a alquimia desenvolveu-se em França, Alemanha, Inglaterra, transitando para Espanha e Itália.
Não nos podemos esquecer que, uma parte dos conhecimentos da Antiguidade, foi transmitida directamente graças aos monges eruditos que, nos conventos recopiavam os textos clássicos. É a obra do monge Théophilo (séc. X) “Schedula diversarum artium” – O livro das diferentes artes – uma das mais preciosas da Idade Média, que passa por ser o escrito mais antigo do Ocidente cristão contendo uma receita alquímica.
A idade de ouro da alquimia ocidental situa-se nos sécs. XIII e XIV. O séc. XVI é o período onde começa a transição entre a alquimia e a química, com um rodopio da alquimia a insinuar-se timidamente nas vias da química. A oposição da razão à autoridade tradicional, a da experiência à especulação já antes se tinham manifestado, mas nunca se chegaram a impor como neste século.
A alquimia sofre a influência da revolução que se opera na ordem intelectual (literária, artística, científica) na Europa Ocidental. Do ponto de vista político, o séc. XVI é o século das guerras da religião, consequência directa da evolução das ideias e da sua exploração pelos governantes. O direito do livre exame e a liberdade de consciência abriram um campo ilimitado à razão e à experiência.
A Idade Média terminou, uma nova era começa, a era do Renascimento.
Durante muito tempo, a química não teve cultores, em Portugal.
Até ao séc. XVIII a história da ciência química não conta com nenhum nome português. No entanto, Portugal foi, certamente, país desejado e visitado por alguns alquimistas ambulantes estrangeiros que por cá se terão demorado, deixando atrás de si alguns discípulos, depositários dos seus ensinamentos, de cujas práticas se podem encontrar vestígios.
Com a lenta ocultação da arte alquímica, o seu desenvolvimento foi, durante longos anos, tarefa meritória de grande número de médicos-químicos.
É neste contexto das práticas químicas que alguns nomes de portugueses ilustres não podem ser esquecidos, pois por mérito próprio ombreiam com os seus mais distintos colegas da Europa de então. A título de exemplo citaremos Garcia de Orta, Amato Lusitano, Ribeiro Sanches, etc. todos eles médicos, assim como André Avelar, mestre em Artes e lente de matemática.
Passemos agora ao fundo bibliográfico da Escola Politécnica.
Para melhor nos situarmos, vou expor sucintamente a sua formação. O seu primeiro núcleo foi pertença da Livraria da Casa do Noviciado, no sítio da Cotovia, criado pela Companhia de Jesus em 1603. Quando a Companhia de Jesus foi extinta e expulsa de Portugal foi dado destino diverso aos seus domínios e bens. Assim nasceu o Colégio de Nobres, em 1761, no sítio da Cotovia, com os haveres que lhe haviam pertencido, logo a Livraria. Quando o Colégio de Nobres foi extinto, em 1837, sucedeu-lhe a Escola Politécnica, ficando instalada no mesmo edifício e fazendo parte do espólio recebido, entre outros pertences, uma Biblioteca, cujo fundo, tudo leva e crer, que fosse o da antiga Livraria.
Esta Livraria passou por várias vicissitudes nefastas:
¨ as suas obras fizeram parte do “Depósito Geral das Livrarias dos Conventos Extintos”, que em 1841 foram incorporadas na Biblioteca Nacional;
¨ durante o governo de D. Miguel foi, por este rei ordenada a transferência dos livros que ainda restavam no Colégio de Nobres, para a Livraria da Ajuda;
¨ além dos eventuais e pontuais desaparecimentos.
Como “herdeira” directa deste espólio é a Faculdade de Ciências, altura em que este fundo foi enriquecido com algumas aquisições que eventualmente apareceram em alfarrabistas e antiquários. Esta situação manteve-se até à data da transferência desta para a Cidade Universitária e todo o espólio bibliográfico até 1939, com algumas omissões, ficou depositado no Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, em 1997.
Para vosso conhecimento diremos que o catálogo bibliográfico do Livro Antigo mais recuado refere 10 400 obras, enquanto o número agora encontrado ronda o milhar. Será difícil concretizar o número exacto de monografias pois, é sempre possível aparecer mais uma obra numa colecção factícia ou não, ou até mesmo haver um ou outro exemplar “fugidos” ao levantamento.
Neste trabalho referimo-nos apenas a obras incluídas no Livro Antigo até ao séc. XVII e que, por sua vez, estejam, de algum modo, ligadas com as práticas alquímicas.
Não podemos deixar de referir autores como Garcia de Orta, nascido cerca de 1499. Estudou e doutorou-se em Filosofia e Medicina, em Salamanca. Regressado a Portugal, em 1523, só em 1530 conseguiu entrar no corpo docente universitário como regente da cadeira de Filosofia Natural. Embarcou para a Índia em 1533, fixando-se em Goa e publicando aí, em 1563 os “Colóquios dos Simples e das Drogas...”. A versão que enriquece este fundo é a tradução em latim dos Colóquios, por Carolus Clusius, publicado em Antuerpia, em 1574, com o título “Aromatum et simpliciaorum ... medicamentorum...”. Esta obra trata dos produtos naturais da Índia, de coisas medicinais desta, dissertando sobre algumas coisas tocantes à medicina prática.
|