Aleister Crowley & Fernando Pessoa

Vanda Leitão (trad.) & Manuel de Almeida e Sousa (fotos) 


Textos publicados no Face Book por Manuel Almeida e Sousa, que também enviou links e prestou várias informações, entre elas a de ter feito de Aleister Crowley numa acção teatral de Victor Belem.

De momento, ignoramos quem é o autor do texto em inglês. Publicamos no entanto, no final desta página, um texto de Marco Pasi sobre 0 diário de Aleister Crowley dos dias passados em Lisboa.

Ver também, de Manuel Almeida e Sousa: Acção sobre o encontro de Aleister Crowley com Fernando Pessoa

Nota do Triplov


ALEISTER CROWLEY

Hino a Pã

Tradução de Fernando Pessoa

Vibra do cio subtil da luz,

Meu homem e afã!

Vem turbulento da noite a flux

De Pã ! Iô Pã !

Iô Pã ! Iô Pã ! Do mar de além

Vem da Sicília e da Arcádia vem!

Vem como Baco, com fauno e fera

E ninfa e sátiro à tua beira,

Num asno lácteo, do mar sem fim

A mim, a mim!

Vem com Apolo, nupcial na brisa

(Pegureira e pitonisa),

Vem com Artémis, leve e estranha,

E a coxa branca, Deus lindo, banha

Ao luar do bosque, em marmóreo monte,

Manhã malhada da âmbrea fonte!

Mergulha o roxo da prece ardente

No ádito rubro, no laço quente,

A alma que aterra em olhos de azul

O ver errar teu capricho exul

No bosque enredo, nos nós que espalma

A árvore viva que é espírito e alma

E corpo e mente — do mar sem fim

(Iô Pã! Iô Pã!),

Diabo ou deus, vem a mim, a mim!

Meu homem e afã!

Vem com trombeta estridente e fina

Pela colina!

Vem com tambor a rufar à beira

Da primavera !

Com frautas e avenas vem sem conto!

Não estou eu pronto?

Eu, que espero e me estorço e luto

Com ar sem ramos onde não nutro

Meu corpo, lasso do abraço em vão,

Áspide aguda, forte lião —

Vem, está vazia

Minha carne, fria

Do cio sozinho da demonia.

À espada corta o que ata e dói,

Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói!

Dá-me o sinal do Olho Aberto,

E da coxa áspera o toque erecto,

E a palavra do Louco e do Secreto,

Ó Pã! Iô Pã!

Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã,

Sou homem e afã:

Faze o teu querer sem vontade vã,

Deus grande! Meu Pã!

Io Pã ! Iô Pã ! Despertei na dobra

Do aperto da cobra.

A águia rasga com garra e fauce;

Os deuses vão-se;

As feras vêm. Iô Pã ! A matado,

Vou no corno levado

Do Unicornado.

Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã !

Sou teu, teu homem e teu afã,

Cabra das tuas, ouro, deus, clara

Carne em teu osso, flor na tua vara.

Com patas de aço os rochedos roço

De solstício severo a equinócio.

E raivo, e rasgo, e roussando fremo,

Sempiterno, mundo sem termo,

Homem, homúnculo, ménade, afã,

Na força de Pã.

Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã! Iô Pã!

 

O MESTRE THERION
(Aleister Crowley)
Tradução de Fernando Pessoa


 
THE GREAT BEAST
 
“In September 1930, Crowley arrived in Lisbon, with his current Scarlet Woman. The couple quarrelled and Crowley’s girlfriend left the country, leaving a deflated Great Beast behind. Crowley then enlisted Pessoa’s aid in faking a suicide. Leaving a forlorn lover’s note at the Boca do Inferno (Mouth of Hell) – a treacherous rock formation on the coast west of Lisbon – Crowley implied that he had taken his own life by leaping into the sea. Pessoa explained to the Lisbon papers the meaning of the various magical signs and symbols that adorned Crowley’s suicide note, and added the fact that he had actually seen Crowley’s ghost the following day. Crowley had in fact left Portugal via Spain, and enjoyed the reports of his death in the newspapers; he finally appeared weeks later at an exhibition of his paintings in Berlin. Given Pessoa’s frail ego, it was more than likely a blessing that his association with the Beast was brief.”
 
MAS HOJE A PLACA ESTÁ ABSOLUTAMEMTE ILEGÍVEL… SERÁ QUE A CÂMARA MUNICIPAL DE CASCAIS NÃO TEM DINHEIRO SUFICIENTE PARA “AVIVAR” AS LETRAS IMPRESSAS NO MÁRMORE?

 

 

  • A GRANDE BESTA
  •  
  • “Em Setembro de 1930, Crowley chegou a Lisboa com a “Mulher Escarlate”* que o acompanhava à época. O casal discutiu e a namorada de Crowley saiu do país, deixando atrás de si a Grande Besta desalentada. Então, Crowley pediu a Pessoa que o ajudasse a fingir um suicídio. Deixando um bilhete de amante abandonado na Boca do Inferno – uma formação rochosa traiçoeira na costa oeste de Lisboa – Crowley dava a entender que ia pôr termo à vida afogando-se no mar. Pessoa explicou aos jornais lisboetas o significado de vários símbolos mágicos que adornavam o bilhete de despedida de Crowley e acrescentou que tinha efectivamente avistado o seu fantasma no dia a seguir à sua morte. Na verdade, Crowley tinha saído de Portugal através de Espanha e divertia-se lendo as notícias sobre a sua morte publicadas nos jornais; acabou por aparecer semanas depois numa exposição de quadros seus em Berlim. Tendo em conta as fragilidades do ego de Pessoa, foi muito provavelmente uma bênção que a sua associação com a Grande Besta tenha sido breve.”
  • * Meretriz de Babilónia, uma figura feminina simbólica do Livro das Revelações /Apocalipse segundo S. Joáo.
    Trad. Vanda Leitão
Boca do Inferno, Cascais

 


Marco Pasi

The Aleister Crowley’s lost diary

aleister-crowley-diary (abre em pdf)

In: https://www.brown.edu/Departments/Portuguese_Brazilian_Studies/ejph/pessoaplural/Issue1/PDF/I1A07.pdf