A.M. GALOPIM DE CARVALHO
FCUL
Começo por dizer que não estou só nesta afirmação. Há pouco mais de um ano, o Primeiro Ministro António Costa, na cerimónia de entrega do Prémio Manuel António da Mota, no Palácio da Bolsa, no Porto, disse, preto no branco: “De uma vez por todas, o país tem de compreender que o maior défice que temos não é o das finanças. O maior défice que temos é o défice que acumulámos de ignorância, de desconhecimento, de ausência de educação, de ausência de formação e de ausência de preparação”.
Como já escrevi, à semelhança do que se passou com a Primeira República, a classe política, no seu todo, a quem os Capitães de Abril, há 44 anos, generosa, honradamente e de “mão beijada”, entregaram os nossos destinos, mais interessada nas lutas pelo poder, esqueceu-se completamente de facultar aos cidadãos civismo, cultura democrática e cultura humanística. Entre os sectores da vida nacional que nada beneficiaram com esta abertura à democracia está a Educação. E, aqui, a ESCOLA FALHOU COMPLETAMENTE.
As muitas dezenas de comentários, desencadeados pelos meus escritos no Facebook sobre este tema, suscitaram um muito interessante debate, que me ajudou a consolidar a minha opinião sobre um grave problema que nos atinge e que urge enfrentar.
É, pois, minha convicção que:
Como no antigamente, a par de bons, muito bons e excelentes professores, muitos deles desmotivados, há outros, francamente maus, instalados na confortável situação de emprego garantido até à reforma.
A preparação científica e pedagógica dos professores não pode deixar de ser devida e profundamente avaliada, através de processos de avaliação a sério, criteriosamente regulados, por avaliadores devidamente credenciados.
Os sindicatos, nivelando, por igual, os bons e os maus professores, têm grande responsabilidade numa parte importante da degradação do nosso ensino público.
Os professores têm de saber muito mais do que o estipulado no programa da disciplina que devem ter por missão ensinar, não se podendo limitar a meros transmissores dos manuais de ensino.
Os professores necessitam absolutamente de tempo, e tempo é coisa que, no presente, não têm. É, pois, essencial libertá-los de todas as tarefas que não sejam as de ensinar.
É necessário e urgente repor, como inerência de cargo, a dignificação e o respeito pelo professor, duas condições que lhes foram retiradas com o advento da liberdade que os militares de Abril nos ofereceram e que a democracia não soube aproveitar.
É necessário e urgente que a Escola recupere todas as competências fundamentais à disciplina, aqui entendida como a obrigatoriedade de respeitar as normas estabelecidas democraticamente, o que evita o autoritarismo, conferindo a autoridade a quem a deve ter.
É necessário e urgente rever toda a política dos manuais de ensino, em especial no que diz respeito à creditação científica e pedagógica dos autores e revisores.
É preciso repensar a política de exames, a começar pela creditação científica e pedagógica dos professores escolhidos para conceber e redigir os questionários.
É necessário resolver o gravíssimo problema da colocação de professores, com vidas insuportáveis material e emocionalmente, a dezenas de quilómetros de casa, separados das famílias.
A remuneração dos professores tem de ser compatível com a sua superior importância na sociedade.
É preciso e urgente que o Ministério da Educação se torne numa das principais preocupações dos governos, não só na escolha dos titulares, como nas respectivas dotações orçamentais.
É urgente olhar para a realidade do nosso ensino e haver vontade e força política (despida de constrangimentos partidários), ao estilo de um “ACORDO DE REGIME”, capaz de promover uma profunda avaliação e consequente reformulação desta nossa “máquina ministerial”, poderosa e, de há muito, instalada.
Lisboa 5 de julho de 2018