A violência dos deuses

FILOMENA BARATA
Filomena Batara. Arqueóloga. Técnica superior do Museu Nacional de Arqueologia (Lisboa).


A complexidade e ancestralidade do tema Violência não me permite senão tentar abordá-lo numa tentativa de fazer a arqueologia da sua representação entre algumas das divindades greco-romanas, em tempos bem mais próximos do que a sua origem, pois ela acompanha-nos, desde sempre, na nossa natureza animal.

Habituada que estou a tentar olhar a Mitologia na sua perspectiva mais ecológica, pois Divino e Natureza não se compartimentam nela, este repto fez-me equacionar velhos mitos conhecidos de outra forma, pelo que o meu contributo é apenas o de quem abraça um novo caminho: o da violência dos deuses e heróis.

Ao ler a Teogonia e os Trabalhos e Dias de Hesíodo, somos confrontados com a genealogia dos deuses que nos remete a uma sucessão de violências exercidas por Titãs e Deuses a fim de obterem a soberania. É através da violência que se consolida o poder de Urano, Cronos e Zeus.

Cronos/Saturno é, de algum modo, um expoente da violência, no momento da criação dos seres divinos. Era a principal divindade da primeira geração de titãs. Estava relacionado com a agricultura e também o tempo. Filho de Urano (Céu) e Gaia (Terra) era o mais jovem da primeira geração de titãs. Com uma foice dada por sua mãe, mutilou o pai, tomando o poder.