A vida e a via no poeta António Vera

 

 

 

 

 

 

PAULO J. BRITO E ABREU


«Sou mais eu quando tu és a síntese de nós».
João Belo

 

A Sabedoria criou tudo de acordo com o número, o peso e a medida. E o premente é pois a mente. E pensar é pôr o penso na ferida narcísica. Dizer isto é gravar, portanto, e grafar: a 22 de Junho de 1923, é nado, em Lisboa, o Poeta António Vera. Viria a falecer, de feito, na mesma cidade, a 26 de Dezembro do ano 2012. E o manismo, aqui, é forma de humanismo: segundo o mentar, segundo o razoar do egrégio Augusto Comte (1798 – 1857 ), são os mortos, dessarte, que mandam nos vivos. Eles formam a Mnemósine, a cultura, o corpo da tradição. Quero eu aqui dizer: entre os alentos, ou elementos, da Tertúlia Rio de Prata, ocupa, António Vera, o preciso Paracleto e o precípuo lugar. Firmar isto, entanto, é remembrar: Ulisses Duarte ( 1923 – 2008 ), na plana, e António Manuel Couto Viana ( 1923 – 2010 ). E quanto, no canto, a Vera, ele era, portanto, o trunfo e triunfo. E mais do que inspirado, ele era inspirador. Quanto ao «modus faciendi» dessa Tertúlia, nós tínhamos, alheia a nós, a razão – nós líamos, por mor da Lira, o deleite e as delícias da imaginação. Quero eu mentar: ao razoar geométrico opõe, António Vera, o «esprit de finesse», à mera razão, ele antepõe a paixão. E de acordo, leal, com Wilhelm Dilthey ( 1833 – 1911 ), nós não explicamos o Poeta António Vera, nós compreendemos, decerto, António Vera, ou melhor, nós o prendemos, na preensão, no canto e de encontro ao nosso coração. Que a Poesia, pra Vera, é o Triplo V deveras, ela é a Via, a Verdade e a Vida, ela se inscreve, soficamente, nas Ciências da Cultura ou Ciências da Vida. E se a palavra «tertúlia» deriva, de feito, do termo «Tertuliano» ( 160-220 ), Poesia então é mantra, é franca Teologia, ela avoca, e desemboca, na esfera do Sagrado. Quero eu dizer: teólogo laico, na verve, António Vera; fracção do Pão, deveras, o Ágape, agora. Mudar a vida, musicá-la, e transformar o mundo: aqui eis, na Harmonia das Esferas, o escol e a escola do Poeta António Vera. E sua «schola» é portanto a ginástica da Alma, ela é recreio, o lazer, o princípio do prazer. Se ela é cura, dessarte, através da Palavra, eis, no ápice, a «communio», comunicação com Amor redunda em comunhão. Se o profeta, por isso, é provençal, se o provençal é Professor, o seminário é o sítio em que a Palavra é proferida, e as sementes são lançadas – e a estese é pois o estudo, e «nomina numina» diremos nós ora. E a razão, então, é qual a reza, e pensar é pois pesar a textura das palavras. E do exprimir, de feito, para o espremer, vai, na Esperança, um passo muito curto. E seguindo, em Psicodrama, a trama narrativa, nos grupos de encontro se amelhora, se avigora, e se enflora a Catarse. Sendo o Eros oração, e sendo, a assimilação, outra forma, leal, de incorporação. E ao invés do que acontece na eléctrica Internet, celebrava-se, em Banquete, o epigrama, o programa, a Epifania do rosto. E o nosso destinatário era o caro e caroal, era sempre e sempre e sempre a humana «persona». Sendo pois, o humano prândio, a participação, os florais, e esponsais, da terra com o Céu. Parafraseando, aqui, o Padre Manuel Bernardes (1644 – 1710 ), era o Pão da Parábola partido em pequeninos. E disseminando bem o «Logos», derramando-O, forte e firme, em as nossas entranhas. E revertendo aqui à escola, a cura pela Arte, ou Logoterapia, é outra forma, recta e escorreita, da Ludoterapia; e nessa Psicanálise, ou nessa Medicina, o jogral é o que joga, o «ludus» é razão do nosso estar-no-mundo. E aqui alçamos, alteamos, e nós alcantilamos, a análise existencial, de Ludwig Binswanger ( 1881 – 1966 ). Pois laborando, Binswanger, no Hospital do Burgholzli, ele foi um assistente do Carl Gustav Jung ( 1875 – 1961 ). E estamos, ó ledor, quase a findar. No fim do que dissemos, neste escorço, nos seja lícito relevar: os livros são os livres, eles pertencem, por isso, às Artes Liberais, o livro, para o Estagirita (384 a. C. – 322 a. C.), é qual ser vivo e animado. E é diversa, por isso, a amada Psicanálise, e Psicologia é de feito uma fala da Alma; aqui o avisamos e aqui o divisamos. A Poesia, por isso, é fasta Teofania; quando um Poeta dorme, ou quando um Poeta sonha, os Anjos sobem e descem por a escada de Jacob. Pois na Musa há simbiose, ou comunhão, entre o sujeito e objecto da contemplação. Um pouco mais longe e falaríamos da «compreensão empática», do americano Carl Rogers ( 1902 – 1987 ); na ciência da Psique, a simpatia, ou empatia, ela sara e ela cura a patologia. E eis, aqui, a retórica do inconsciente: no centenário de Vera, eu miro, e pois admiro, a sua tese e a estese. Que é preciso, Amor, é preciso ser infante. É preciso, pra ser Génio, digerir a diegese.


Tomar, 28/ 05/ 2023

SPES MESSIS IN SEMINE

PAULO JORGE BRITO E ABREU