A Representação do Negro na obra «Coragem não tem cor» de Marcia Kupstas

MÔNICA LUBIAN TOMAZONI & IVÂNIA CAMPIGOTTO AQUINO


RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar a representação do negro na obra Coragem não tem cor, da autora brasileira Marcia Kupstas. Para tanto, o estudo busca, igualmente, examinar e identificar os elementos inovadores que rompem com as concepções tradicionais da literatura, assim como a contribuição para a formação crítica do jovem leitor, a emancipação e a ampliação cultural.

Palavras-chave: Literatura Juvenil brasileira. Representação. Personagens negros. Marcia Kupstas.

ABSTRACT

This article aims to analyze the representation of black people in the literary work Coragem não tem cor, by Brazilian author Marcia Kupstas. For this purpose, the study also seeks to examine and identify the innovative elements that break with traditional concepts of literature, as well as the contribution to the critical formation of the Young reader, emancipation and cultural expansion.

Keywords: Brazilian youth literature. Representation. Black characters. Marcia Kupstas.


Na trajetória da formação histórica e literária do Brasil, marcada pela colonização, escravidão e autoritarismo, criou-se uma visão reducionista e desigual da figura do negro. Nesse processo, instalou-se um imaginário que viabilizou a incorporação de concepções racistas, repletas de preconceitos que, infelizmente, por muito tempo, atestaram a inferioridade das pessoas negras, a negação da mestiçagem, o princípio do branqueamento, e a depreciação da cultura afro-brasileira.

Em vista disso, a sociedade contemporânea tem buscado retificar essas noções, já que pertencemos a uma realidade multiétnica e plurirracial. Obviamente, ainda nos deparamos com uma mídia, literatura, enfim um ambiente artístico etnocêntrico, mas é possível perceber mesmo que sutilmente, algumas mudanças e inovações.

Sendo assim, este artigo tem como objetivo analisar a representação do negro e identificar os elementos que auxiliam na formação crítica do jovem leitor, no livro Coragem não tem cor, da autora brasileira Marcia Kupstas, publicado em 2013. Da mesma forma, busca-se examinar os elementos inovadores da narrativa, os quais comprovem a noção diferenciada da figura negra.

Os resultados das análises, leituras, reflexões realizadas encontram-se organizados em três partes: 1. Literatura Infantil e Juvenil; 2. O negro na literatura Infantil e Juvenil; 3. A representação do negro na obra e por fim as Considerações Finais.

 

LITERATURA INFANTIL E JUVENIL

A literatura infantil surgiu durante o século XVII, época em que as mudanças na estrutura da sociedade desencadearam repercussões no âmbito artístico que persistem até os dias atuais. Entraram em decadência os gêneros clássicos, como a tragédia e a epopeia, ascendendo em seu lugar o drama, o melodrama e o romance. Nesse contexto, seu aparecimento tem características próprias, pois decorre da ascensão da família burguesa, do novo status concedido à infância na sociedade e da reorganização da escola. Consequentemente, vincula-se a aspectos particulares da estrutura social urbana de classe média. Por sua vez, sua emergência deveu-se antes de tudo à associação com a pedagogia, pois as histórias eram escritas para se converterem em instrumento dela. Por tal razão, não alcançou um estatuto artístico, sendo-lhe negado a partir de então um reconhecimento em termos de valor estético, ou seja, a oportunidade de se integrar ao reduto seleto da literatura (ZILBERMAN, 1987).

A literatura infantil adota, então, traços educacionais, fazendo-se útil à formação da criança e capturando-a efetivamente, ao transformar o gosto pela leitura em uma condição para o consumo e para a aquisição de normas. Entretanto, na mesma proporção em que se auto impõe um alvo, a literatura infantil aponta um recebedor determinado, cabendo-lhe atender seus interesses. Assim, é sua linguagem narrativa que acaba organizando a percepção infantil do mundo, o que é negado à criança tanto por parte da escola como pela família. Logo, cabe ser literatura e não mais pedagogia (ZILBERMAN, 1987).

As primeiras histórias procederam da tradição popular, a qual é a principal contribuinte para as narrativas conhecidas até hoje, como os contos de fadas. Aventuras como as de João e Maria, da Bela Adormecida, da Cinderela e da Chapeuzinho Vermelho eram contadas por e para adultos, até que alguns homens, como Charles Perrault (1628-1703), na França, e Jacob (1785-1863) e Wilhlem (1789-1859) Grimm, na Alemanha, as transcreveram e publicaram visando o público infantil. As histórias resgatadas e adaptadas por eles transformaram-se em sinônimos de literatura infantil, dificultando o retorno à condição original (ZILBERMAN, 2005).

No século XIX, os candidatos brasileiros a escritores para crianças não fugiram a essa regra. Um deles, Figueiredo Pimentel (1869-1914), decidiu se dedicar à literatura infantil, preferindo seguir o caminho sugerido pelos irmãos Grimm. Assim, publicou coletâneas de muito sucesso, como os Contos da Carochinha (1894), em que se encontram as histórias de fadas européias. Em vista disso, um grupo de leitores se concretiza, ainda que de modo incipiente, requerendo um produto original, que representasse o ambiente brasileiro. Um escritor que se destacou, sem dúvidas, foi Monteiro Lobato, o sucessor desse núcleo original, aquele que ainda hoje se lê e relê em virtude do patrimônio literário que legou.(ZILBERMAN, 2005).

Assim, para além do prazer/emoção estéticos, a literatura contemporânea almeja alertar ou transformar a consciência crítica de seu leitor/receptor. No encontro com a literatura (ou com a arte em geral), os homens têm a oportunidade de ampliar, transformar ou enriquecer sua própria experiência de vida, em um grau de intensidade não igualada por nenhuma outra atividade. Logo, a natureza da Literatura Infantil é a mesma da que se destina ao público adulto. As diferenças que a singularizam são determinadas pelo leitor/receptor, ou seja, a criança e o adolescente (COELHO, 2000).

Portanto, a literatura infantil é, antes de tudo, literatura. Ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, por meio da palavra; funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização (COELHO, 2000).

Visto isso, percebemos que a importância da literatura na vida das crianças e dos adolescentes é imensurável, ela os “introduz” na vida em sociedade, pois proporciona reflexões e questionamentos, tornando possível o crescimento pessoal e intelectual. Sendo assim, o estudo sobre essa arte torna-se essencial para os dias atuais.

 

O NEGRO NA LITERATURA INFANTIL E JUVENIL

 Historicamente, o negro, no Brasil, foi silenciado e considerado inferior, desde a subjugada migração da África e a escravização no território brasileiro, sua trajetória é marcada por sofrimento e desprezo. Embora a condição do negro, hoje, seja outra – não é mais escravo, isto é, não é propriedade de ninguém – ele permanece sendo considerado um “ser inferior”. Se durante a escravidão os negros eram vistos como “os de baixo”, atualmente se encontram na mesma posição mesmo que de maneira mais velada. A inferioridade anteriormente estabelecida por meio de costumes diferentes e da “situação natural de escravos”, passa nos dias atuais a ser definida a partir da cor. Os acontecimentos cotidianos tem muito a ver com o passado escravocrata, porém explicá-los com o argumento de que “os negros estão embaixo porque foram escravos” é uma tentativa de simplificação do problema e de isenção da culpa (VALENTE, 1987).

Os estudos do antropólogo, escritor e político brasileiro, Darcy Ribeiro (2004), resgatam fatos históricos do Brasil. Na obra, O povo brasileiro, o pesquisador afirma que “[…] a luta mais árdua do negro africano e de seus descendentes brasileiros, foi, e ainda é, a conquista de um lugar e de um papel de participante legítimo na sociedade nacional” (RIBEIRO, 2004, p. 220). O autor explica que, em virtude do escravismo, a contribuição cultural do negro foi pouco relevante na formação da cultura brasileira. Trazidos principalmente da costa ocidental da África, os negros foram capturados meio ao acaso nas centenas de povos tribais que falavam dialetos e línguas não inteligíveis uns aos outros. Encontravam-se dispersos na terra nova, ao lado de outros escravos, seus iguais na cor e na condição servil, mas diferentes na língua, na identificação tribal e frequentemente hostis pelos referidos conflitos de origem, os negros foram compelidos a incorporar‐se passivamente no universo cultural da nova sociedade. “Aí está a racionalidade do escravismo, tão oposta à condição humana que uma vez instituído só se mantém através de uma vigilância perpétua e da violência atroz da punição preventiva” (RIBEIRO, 2004, p. 119).

Sendo assim, desde a infância, nos deparamos com um mundo dominado pela supremacia branca que se reflete, por meio das mídias, como novelas, filmes, propagandas e, até mesmo, animações infantis. É observável que há uma predominância de personagens brancos, os quais, na maioria das vezes, exercem papéis de protagonistas. Dessa forma, o negro, geralmente, é deixado em segundo plano e é representado a partir de estereótipos, de modo a ser o vilão, o empregado, o malandro, etc.

As personagens brancas sempre foram, e são, frequentes nas narrativas, ocupam posição privilegiada e de destaque na sociedade. Por mais que, com o decorrer do tempo, essa realidade tenha se modificado, em certo grau, encontramos um número maior de obras literárias com protagonistas brancos, algo bastante questionável, uma vez que os negros representam, segundo uma pesquisa do IBGE (2014), 54% da população brasileira. Além disso, atualmente, essa realidade não é somente perceptível, mas, também, numerada, segundo uma pesquisa da Universidade de Brasília, de 2005, da estudiosa Regina Dalcastagné, os personagens negros da literatura contemporânea são 7,9% e possuem pouca voz: são apenas 5,8% dos protagonistas e 2,7% dos narradores. Os brancos são, em geral, mulheres donas de casa (9,8%), artistas (8,5%) ou escritores (6,9%). Os negros são bandidos ou contraventores (20,4%), empregados (as) domésticos (as) (12,2%) ou escravos (9,2%).

Na literatura infantil e juvenil não foi e não é diferente, essa começou a ser publicada ao final do século XIX e no início do século XX. Contudo, os personagens negros só aparecem a partir do final da década de 1920 e início da década de 1930, no século XX. Além disso, em virtude do contexto histórico em que as primeiras narrativas com personagens negros foram publicadas (uma sociedade recém-saída de um longo período de escravidão) as histórias buscavam evidenciar a condição subalterna do negro. Não existiam obras, nesse período, nas quais os povos afro-brasileiros fossem retratados de modo positivo. Inclusive, os personagens negros não sabiam ler, nem escrever, somente repetiam o que ouviam, isto é, não possuíam o conhecimento considerado erudito e eram representados de um modo estereotipado e depreciativo (JOVINO, 2006)

Somente a partir de 1975 encontramos uma produção de literatura infantil mais comprometida com uma outra representação da vida social brasileira; por isso, podemos conhecer nesse período obras em que a cultura e os personagens negros aparecem com mais frequência. O resultado dessa proposta de representação mais próxima da realidade social brasileira é um esforço desenvolvido por alguns autores para abordar temas até então considerados tabus e impróprios para crianças e adolescentes como, por exemplo, o preconceito racial (JOVINO, 2006).

Entretanto, o propósito de uma representação em concordância com a realidade nem sempre é alcançado, pois, embora muitas obras desse período tenham uma preocupação com a denúncia do preconceito e da discriminação racial, a maioria delas termina por apresentar personagens negros de um modo que reproduz algumas imagens e representações com as quais pretendia-se romper. Essas histórias, assim, acabavam criando uma hierarquia de exposição das personagens e das culturas negras, fixando-as em um lugar desprestigiado do ponto de vista racial social e estético. Nessa hierarquia, os melhores postos, as melhores condições, as belezas mais ressaltadas são sempre da personagem feminina mestiça e de pele clara (JOVINO, 2006).

Contemporaneamente, é possível afirmar que

[…] alguns dos textos dirigidos ao público infantil e juvenil buscam uma linha de ruptura com modelos de representação que inferiorizem, depreciem os negros e suas culturas. São obras que apresentam personagens negros em situações do cotidiano, resistindo e enfrentando, de diversas formas, o preconceito e a discriminação, resgatando sua identidade racial, representando papéis e funções sociais diferentes, valorizando as mitologias, as religiões e a tradição oral africana (JOVINO, 2006, p. 189).

Além disso, nas obras infanto-juvenis contemporâneas, podemos encontrar textos baseados na tradição oral africana, por exemplo, adaptações feitas a partir dos mitos, das lendas e de contos. Da mesma forma, encontramos histórias que nos permitem ver uma ressignificação das personagens negras. Elas passam a ser personagens protagonistas, cujas ilustrações se mostram mais diversificadas e menos estereotipadas, fugindo da representação do primeiro momento, em que aparecia sempre de lenço e avental. Nas narrativas aparecem e passam por faixas etárias diferentes: crianças, adolescentes, mulheres negras. Podemos notar uma valorização de um outro tipo de beleza e estética, distinto do segundo período em que se valorizava a beleza com traços brancos. As personagens negras são representadas com tranças de estilo africano, penteados e trajes variados. Podemos citar como exemplo as histórias dos escritores Joel Rufino dos Santos, Geni Guimarães, Ana Maria Machado, Júlio Emílio Bráz, entre outros (JOVINO, 2006). E, igualmente, a obra literária de Marcia Kupstas, Coragem não tem cor, – nosso objeto de estudo, que será analisada posteriormente.

 

A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NA OBRA

A palavra “representação”, etimologicamente, deriva da forma latina representatione – ato ou efeito de representar (-se); reprodução daquilo que se pensa, um conteúdo concreto apreendido pelos sentidos, pela imaginação, pela memória ou pelo pensamento (FERREIRA, 1999). Para o teórico francês Roger Chartier (1991), a representação é o instrumento pelo qual um indivíduo, ou um grupo de indivíduos, dá/constrói/produz/cria um significado para o mundo social. É um processo de significação proposital, carregado de interesses, correspondente a uma determinada estratégia de um agente ou de um grupo social. Construir representações é tanto uma prática cultural quanto sociopolítica. A representação, conforme o autor destaca, é um componente essencial dos discursos. Sobre esses, cabe ressaltar, nunca são neutros ou isentos: são práticas sociais dotadas de intencionalidade e correspondem a interesses específicos.

Na visão do estudioso, a representação é o produto do resultado de uma prática. Logo, a literatura, por exemplo, é representação porque é o produto de uma prática simbólica que se transforma em outras representações. Assim, um fato nunca é o fato. Seja qual for o discurso ou o meio, o que temos é a representação do fato. A representação é uma referência e temos que nos aproximar dela, para nos aproximarmos de determinada situação. A representação do real, ou do imaginário, é, em si, elemento de  transformação do real e de atribuição de sentido ao mundo.

Em vista disso, a representação da cultura, ideias, visões de uma sociedade pode se dar a partir dos personagens, já que, segundo Khéde (1986), eles, como elementos ativos dentro da narrativa, representam valores através dos quais a sociedade se constitui. Esses são importantes na vida literária dos leitores, podendo marcá-los tanto de maneira positiva quanto negativa. A representação do negro, como já visto neste trabalho, perpetuou-se ao longo do tempo de uma forma desditosa e desigual em relação à representatividade branca. Negros como protagonistas raramente apareciam e quando se faziam presentes notava-se uma visão subalterna, estigmatizada.

Zila Bernd (1992) explica que o caráter político da representação fica ainda mais evidente quando se confere à presença desse enunciador o poder de distinguir entre um discurso sobre o negro e um discurso do negro, este último correspondendo ao desejo de renovar a representação convencional e, por vezes, preconceituosa, estabelecida no decorrer dos anos.

Essa mesma visão é relatada de forma mais ampla por Domício Proença Filho
(2004), quando diz que a literatura brasileira apresenta dois tratamentos em relação ao negro. O primeiro é a condição negra como objeto, em uma visão distanciada; e, o segundo, o negro como sujeito, em uma atitude compromissada, gerando a literatura sobre o negro e do negro. No primeiro caso, tem-se um discurso cujos produtos “com poucas exceções, indiciam ideologias, atitudes e estereótipos da estética branca dominante” (FILHO, 2004, p. 161), ou seja, são representações que negam ou aprisionam a identidade do grupo em uma posição que lhe é socialmente desfavorável, logo, são consideradas representações ilegítimas porque configuram uma identificação negativa. No segundo, é o oposto, os textos realizam uma operação estética de positivação do que era desvalorizado pelo olhar estranho ao grupo, isto é, a reivindicação da diferença, preenchendo lacunas, denunciando e desconstruindo os estereótipos.

Conceição Evaristo (2000) argumenta também que, ao falar de sujeito na  literatura negra, não é mencionado um sujeito particular, construído segundo uma visão românticoburguesa, mas de um indivíduo que está abraçado ao coletivo. A literatura, como afirma Culler (1999), fornece materiais ricos para complicar as explicações políticas e sociológicas acerca do papel que esses fatores desempenham na construção da identidade. A arte literária estimula mecanismos de identificação positiva que podem ser usados para a ação política, em outras palavras, para os membros de grupos historicamente oprimidos ou marginalizados. A literatura proporciona a identificação com um grupo em potencial e trabalha no sentido de fazer do grupo um grupo, mostrando-lhes quem ou que poderiam ser (CULLER,1999).

Dessarte, podemos afirmar que a obra Coragem não tem cor, da autora Marcia
Kupstas, trabalha com o personagem negro de forma positiva e emancipatória, já que centraliza sua figura na narrativa, incitando a reflexão acerca do racismo em diversos momentos. Percebemos, inicialmente, a singularidade da obra a partir da sua capa com os textos visuais, em que nos são apresentados os personagens principais da história com traços bem definidos, expressões faciais marcantes, persuasivas, olhares fixos, etc:

MARCIA KUPSTAS
Coragem não tem cor
São Paulo: Ática, 2013.

Assim, levando-se em conta que a leitura de um livro inicia desde a capa, acreditamos que esta inova e valoriza a representação do negro e fará com que os leitores dessa etnia se identifiquem e se sintam representados, enxergados. Da mesma forma que os não negros poderão romper com os paradigmas enraizados e, quem sabe se questionarem o porquê da invisibilidade negra na literatura, tendo em vista que raramente há personagens negros na capa de um livro.

No enredo, são destacadas as características dos dois irmãos, Benjamim: “É um bom menino. Estudioso. Um tanto frágil” (KUPSTAS, 2013, p. 13-14). Lúcio: “Podia parecer com irmão na altura e no formato do rosto, mas tinha puxado a cor mais escura de pele e a dureza de alma de Norberto, o pai deles. Aquela mesma noção de justiça” (KUPSTAS, 2013, p.14). Vemos que esses elementos particularizam os meninos, não há uma estigmatização e eles são considerados personagens importantes, com personalidades fortes, destaques.

Antonio Candido (1970), diz que a arte literária confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e combate, concedendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas. Na obra, aparecem, implicitamente e explicitamente, denúncias sociais, tendo como base comentários, expressões do contexto racista em que vivemos, algo de extrema relevância, já que o livro é voltado ao público juvenil, o qual está em processo de formação, revendo
ideologias, ensinamentos, tradições e, sem dúvidas, preconceitos.

No início da história, observamos que o reitor não quer aceitar Lúcio e Benjamim na escola porque eles são negros, embora ele alegue várias vezes: “Não sou racista, não sou mesmo racista. E concluiu amargamente, sou realista” (KUPSTAS, 2013, p. 19). Porém, fica claro que a questão é racismo, pois não havia muitas crianças negras estudando no colégio “uma meia dúzia, entre os 1200 alunos” (KUPSTAS, 2013, p.19). Além disso, muitos alunos se dirigem aos irmãos com expressões pejorativas: “francês preto”, “crioulo”,
etc. A partir desses elementos, o jovem leitor começará a questionar-se sobre como o negro é tratado em nossa sociedade, o quanto isso é agressivo e que muitas vezes passa despercebido.

Importante ressaltar que toda política de representação requer uma estética da identidade, a fim de que os indivíduos e os grupos se reconheçam como iguais em suas diferenças. Da mesma forma que toda política da identidade requer uma estética da representação para que os indivíduos e os grupos se reconheçam como tais em suas diferenças (MARTINS, COSSON, 2008). “O processo de formação da identidade não apenas coloca em primeiro plano algumas diferenças e negligência outras; toma uma diferença ou divisão interna e a projeta como uma diferença entre os indivíduos ou grupos”
(CULLER, 1999, p. 114).

Geralmente, na literatura, o homem adulto branco é tomado como um padrão para a humanidade, é ele quem usualmente recebe nome e sobrenome, ocupa posição central nas ilustrações e nas histórias, deslocando a mulher, o índio e o negro para a condição de exceção. (MARTINS, COSSON, 2008). É possível dizer que a obra de Kupstas rompe com esse padrão, pois os personagens principais são dois negros de periferia e uma menina de classe média que participa e enfrenta os conflitos. Na narrativa nos é dito nome e sobrenome
dos protagonistas, a história familiar, as características da mãe, etc., sob uma ótica positiva: “O mais velho se chama Lúcio Daveaux de Assis, tem 18 anos […]” (KUPSTAS, 2013, p. 16); “ O caçula é o Benjamim Daveaux de Assis, tem 16 anos […]” (KUPSTAS, 2013, p.17); “[…] Edna com 39 anos e aparência responsável […]” (KUPSTAS, 2013, p. 14).

Sousa (2001) diz que as imagens suscitadas tanto pelas ilustrações quanto pelas descrições e ações da personagem negra podem ser empregadas de maneira construtiva, de modo que contribua para a autoestima das crianças negras, tal como para a sensibilização das não negras.

Por conseguinte, é relevante dizer que a literatura é um instrumento de extrema importância na construção da identidade do jovem. O estudioso Erik Erikson (1972), afirma que o senso de identidade é desenvolvido durante todo o ciclo de vida, no qual cada indivíduo passa por uma série de períodos de desenvolvimento distintos.

Em termos psicológicos, a formação da identidade emprega um processo de reflexão e observação simultâneas, um processo que ocorre em todos os níveis do funcionamento mental, pelo qual o indivíduo julga a si próprio à luz daquilo que percebe ser a maneira como os outros o julgam, em comparação com eles próprios e com uma tipologia que é significativa para eles; enquanto que ele julga a maneira como eles o julgam, à luz do modo como percebe a si próprio em comparação com os demais e com os tipos que se tornam importantes para ele (ERIKSON, 1972, p. 21).

Logo, a construção da identidade é pessoal e social, acontecendo de forma interativa, a partir de trocas entre o indivíduo e o meio no qual está inserido. Esse autor reforça, ainda, que a identidade não deve ser vista como algo estático e imutável, como se fosse uma armadura para a personalidade, mas como algo em constante desenvolvimento (MARIOSA, REIS, 2011).

Sendo assim, a literatura infantil e juvenil, como arte suscitadora de tantos
questionamentos, pode influenciar de forma definitiva no processo de construção de identidade das crianças e dos adolescentes. Essa serve, muitas vezes, como fonte de significados existenciais que poderão ser aplicados ao mundo real. Conforme Abramovich (1989), para que o indivíduo possa formar a sua própria identidade, ele precisa recriar a realidade e imaginá-la. E nisto a literatura contribui demasiadamente.

Tendo em vista nosso atual cenário, em que observamos diariamente práticas
implícitas e explícitas do racismo, podemos afirmar, novamente, que a obra deste estudo contribui para a formação de uma identidade negra igualitária e distinta das visões deturpadas e enraizadas da nossa sociedade.

Durante a narrativa, vemos os conflitos vivenciados pelos protagonistas, os quais ganham uma bolsa de estudos em uma escola de elite e desde que iniciam são discriminados por outros colegas. Um dos irmãos, Benjamim, chega a ser acusado de roubo, o que foi fruto de uma armação de dois estudantes. Porém, ao final ele consegue comprovar sua inocência.
Inclusive, fica em primeiro lugar na média da classe, e Lúcio recebe uma vaga de estágio profissionalizante em outra escola.

Vale destacar que os personagens possuem características fortes, são inteligentes e não permitem serem tratados de forma depreciativa. São esforçados e visualizam o contexto de forma crítica. Benjamim: “[..] já está praticamente aprovado para o segundo ano na escola pública, e olhe que ainda estamos em setembro, fechou todas as matérias antes do último
bimestre” (KUPSTAS, 2013, p. 17); “Lúcio distinguiu quatro espécies de professores. Em silêncio sem confiar até mesmo no irmão, avaliou e classificou o corpo docente […]” (KUPSTAS, 2013, p. 34); “Não sei se você sabe, mas não é preto que se fala. É negro. Raça negra. Tenho sim, sangue negro nas veias, com orgulho. E também sangue de índio, de italiano… até de francês” (KUPSTAS, 2013, p. 45);

E Benjamim, o que pensava ele? Ele via seu bairro e as pessoas dali de um jeito e com uma força que nunca vira antes: pelos olhos daquelas moças tão lindas e tão ricas. E, no caso da mais velha, tão fútil e preconceituosa… Aquilo o confundia. Como deveria se sentir? Humilhado, por viver em terra miserável, sem sinal de árvores ou vegetação, qualquer mínimo espaço ocupado por cimentados e puxadinhos, onde se entocava aquela gente feia e escura? Ou revoltado com o que fizeram com eles, eles todos que moravam ali, gente e bicho, que mereciam viver nas mesmas casas que seus amigos de escola e ter as mesmas oportunidades? O que deveria pensar? […] Dentro do carro macio e amortecido, Benjamim via sua vida correndo do lado de fora como nunca vira antes. A revolta crescia… (KUPSTAS, 2013, p. 55)

“No meu bairro, essa escuridão é sinal de pobreza, descaso da administração
pública… Aqui é o que? Status? Esconderijo?; pensou Lúcio” (KUPSTAS, 2013, p. 73).; “O olho de Lúcio era, de certa forma, treinado para captar intenções […]” (KUPSTAS, 2013, p. 83).; “- Ah, mãe! – Benja também parecia encabulado. – A senhora é uma lutadora. Desde que o pai morreu, enfrenta tudo com tanta coragem” (KUPSTAS, 2013, p. 85); Benjamim conversando com Vicki: “- Não deixa de ser injusto, não é? Essa história toda aconteceu por causa dela, os roubos, as acusações… E, porque ela é uma Sposito, tá limpo. Fica só na
bronca e no tratamento, a vida continua, ela sai dessa numa boa” (KUPSTAS, 2013, p. 146).

Com base nesses apontamentos, percebemos que a figura do negro está sendo trabalhada de forma emancipatória, constrói uma identidade marcante, autêntica e autônoma. O negro é centralizado na narrativa, é um ser atuante que participa de forma crítica em todos os conflitos. Contribuindo na ampliação das concepções do leitor e incentivando a reflexão acerca das desigualdades sofridas pelos irmãos.

Pensando no imaginário infantil como possibilidade para a construção de um novo imaginário coletivo, Ribeiro (1996) considera que os atos imaginativos antecipam mudanças em nossas atitudes e ações. Uma vez que as imagens que moram em nossas mentes desde a infância motivam nossos pensamentos durante a vida e podem colaborar (se não forem
estereotipadas, inferiorizadas) para a autoestima e aceitabilidade das diferenças, visando uma vida adulta satisfatória. Para tanto, essas imagens precisam ser diversificadas, mostrar a força, a cultura de todos.

Na obra de Kupstas, a partir das distintas descrições que nos são  apresentadas, é possível criar uma imagem positiva da figura negra, tanto em questões físicas, pessoais, entre outras: “Nunca vira Benjamim daquele jeito. Normalmente, o amigo era calmo. Manso e sedutor, com olhos que sabia tão expressivos […]” (KUPSTAS, 2013, p. 50); “[…] O Benjamim é um amigo maravilhoso e vai continuar meu amigo, sim! ” (KUPSTAS, 2013, p. 94); Lúcio, “[…] Mantinha um riso nos lábios sempre úmidos, brilhantes. Não baixava a
vista; ao contrário olhava ligeiro e dissimulado para todos os lados, analisando […]” (idem, p. 21); “O mais novo chegava a ter olhos verdes, acentuando a sua ascendência europeia”(idem, p.17). A origem francesa dos meninos negros é bem evidenciada, algo que geralmente parece exclusividade apenas de pessoas brancas (descendência europeia). Isso nos faz recordar que, no Brasil, praticamente todos somos mestiços, em uma mistura de muitas etnias, não devendo a palavra raça, ser utilizada de maneira equivocada, limitante e
pejorativa.

Analisando igualmente os personagens secundários, como a família dos meninos, notamos, novamente, que a autora foge dos estereótipos que costumamos observar na literatura, devido à personalidade aventureira e boêmia do avô, desvinculada da tradicional imagem do imigrante branco europeu trabalhador. “Pierre Daveaux largou a vida certinha e os estudos do seu país desenvolvido para vagabundear pelo planeta[…] Fascinou-se com o  ‘jeitinho’, o artesanato e a miscigenação brasileiros e colaborou no que pôde nesses aspectos da cultura nacional” (KUPSTAS, 2013, p. 13). A mãe dos meninos, Edna, moradora de um bairro periférico, com uma família desestruturada, não é uma faxineira, ou uma serviçal analfabeta, é uma funcionária pública concursada, que sempre trabalhou e buscou o melhor para seus filhos. “Edna funcionária pública concursada, que se orgulhava de nunca ter feito uma dívida no próprio nome […]” (KUPSTAS, 2013, p.13).

Por outro lado, contrariando aos personagens da mãe e dos irmãos, a avó e irmã mais velha não possuem a mesma garra e determinação dos  protagonistas. Lenira, a irmã mais velha, parou de estudar e acabou engravidando ainda jovem, e a avó depois de uma vida turbulenta volta a morar com Edna, dependendo financeiramente dela. “Você nunca quis saber de escola, Lenira […] Cansei de avisar pra nunca largar estudos, pra se dedicar não cabular aula” (KUPSTAS, 2013, p. 67); “[…] a ex- quase eterna esposa Yolanda (essa foi outra que o largou, se aventurou, fracassou e também acabou na guarda de Edna) […]” (KUPSTAS,2013,p. 13).

Por conseguinte, vemos que as representações não são unilaterais  e absolutas, essas se referem a seres humanos, legitimando ainda mais a constituição humana e heterogênea dos personagens. Isso faz com que a história se torne mais complexa e despadronizada, ou seja, não há uma tentativa leviana de tornar todas as figuras negras heroicas, louváveis ou protagonistas de suas vidas, mas de representá-las nos devidos patamares que cada personalidade corresponderá. Incitando a refletir que livre dos impedimentos racistas e da falta de oportunidades, o negro também deve e pode ter escolhas de ser quem e como quiser.

Portanto, há uma interação com o leitor (negro ou não), com histórias,  questões ilustrações que vão ao encontro da temática étnico-racial, que contribuem para uma nova estética e literatura do sobre/com o ser negro. Como diz Negrão (1990), não basta retirar do texto os preconceitos e as discriminações, mas, também, criar personagens negras, com sentimentos, características, vivências próprias. Dessa forma, possivelmente, teremos uma arte literária plural, democrática, representativa, que contribua no papel humanizador da literatura, formando seres éticos, justos e menos etnocêntricos.

 

Considerações finais 

Ao concluirmos esse trabalho acadêmico, e diante do conteúdo que foi evidenciado e discutido, podemos afirmar que alcançamos nossos objetivos. Pretendíamos analisar a representação do negro na obra e constatar se essa estava sendo trabalhada de maneira positiva, inovadora e emancipatória.

Após verificarmos as diversas situações vivenciadas pelos protagonistas, notamos que esses se configuram como paradigmas de um novo modelo de representação do negro na literatura juvenil contemporânea. Distintos aspectos encontrados na obra de Kupstas confirmam essa afirmação, tais como o fato de os personagens negros serem protagonistas da narrativa, com personalidades próprias, singulares, apreciativas, o rompimento dos estereótipos, seja por meio do enaltecimento da estética negra, da garra, da determinação, e inteligência dos sujeitos ficcionais, etc.

Além disso, há um cuidado, com respeito ao negro e a sua identidade, somos levados a refletir sobre sua condição, causando um impacto constante entre o real e o ficcional. Como afirma Coelho (2000), para além do prazer estético, a literatura contemporânea visa alertar ou transformar a consciência crítica de seu leitor/receptor.

Sendo assim, podemos dizer que essa narrativa rompe com a corrente tradicional do pensamento literário, o qual muitas vezes estigmatiza, reduz e deprecia a figura do negro. Logo, tendo em vista a natureza formativa do jovem leitor, a obra pode desempenhar um papel de combate ao racismo, na medida em que inova e incita a reflexão através dos personagens da ficção. Do mesmo modo que o conteúdo presente pode estimular o adolescente, o jovem negro a sentir orgulho de sua etnia, rompendo com a ideologia do embranquecimento e da negação da sua cultura.


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