RIVALDO CHINEM
Rivaldo Chinem (Brasil). Autor vários livros, como “Terror Policial” com Tim Lopes (Global), Sentença – Padres e Posseiros do Araguaia” (Paz eTerra), “Imprensa Alternativa – Jornalismo de Oposição e Inovação” (Ática), “Comunicação Corporativa” (Escala, com prefácio de Heródoto Barbeiro), “Marketing e Divulgação da Pequena Empresa” (Senac) na 5ª.edição,
“Assessoria de Imprensa – como fazer” (Summus) na 3ª. Edição, “Jornalismo de Guerrilha – a imprensa alternativa brasileira da censura à Internet” editora Disal, Comunicação empresarial – teoria e o dia-a-dia das Assessorias de Comunicação” , editora Horizonte, “Introdução à comunicação empresarial”, editora Saraiva, “Comunicação Corporativa” editora Escala com prefácio de Heródoto Barbeiro ; e «Comunicação empresarial – uma nova visão da empresa moderna»; (Discovery Publicações).
O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo – 1788-1797, de Adelto Gonçalves, com prefácio de Kenneth Maxwell, texto de apresentação de Carlos Guilherme Mota e fotos de Luiz Nascimento. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 408 páginas, R$ 70,00, 2019. Site: www.imprensaoficial.com.br
SÃO PAULO – Como jornalista ele sabe escrever um texto direto e agradável, mas é também não só um estudioso da Literatura Portuguesa como um historiador rigoroso, pois sempre que pode está imerso nos arquivos. Dificilmente faz citações com base em livros impressos porque, se um historiador do século XIX, por exemplo, fez alguma citação errada, o equívoco acaba por ser repetido indefinidamente.
O fundamental, sabe, é ir direto às fontes, aos documentos da época, que estão nos arquivos de Portugal e do Brasil. E evitar um olhar anacrônico sobre fatos e comportamentos dos homens nos séculos passados, apresentando personagens históricos como bufões, pois é daí que surge essa ênfase no pitoresco, naquilo que hoje pode soar como engraçado e atrair leitores incautos. Adelto Gonçalves acaba de publicar O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo – 1788-1797, pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (Imesp). Adelto é autor ainda de alguns romances, todos muito bem escritos, altamente criativos. Seu depoimento:
“O livro procura analisar os nove anos do governo Lorena (1788-1797), mostrando a atuação do governador e capitão-general d. Bernardo José Maria da Silveira e Lorena (1756-1818) para conciliar os interesses da metrópole com as reivindicações das lideranças locais que, não raro, viam com reservas os representantes da Coroa. É de se lembrar que Lorena recebeu uma capitania mais organizada do que os seus antecessores e soube, sobretudo, aproveitar-se disso para colocá-la numa situação mais favorável em relação às demais da América portuguesa. Em pouco tempo, a capitania paulista ganhou maior importância política e econômica, como prova o papel de destaque que teve na gestação do processo que resultou na separação do Brasil de Portugal”.
“É de se ressaltar que o período anterior sempre foi apontado por contemporâneos e historiadores mais antigos como de extrema miséria e de obscurantismo na história da América portuguesa, que coincide com a perda de sua autonomia em 1748, depois de ter alcançado uma situação destaque, à época da capitania vicentina, como centro propulsor da penetração para o interior de América, o que se deu a partir da descoberta das minas de ouro. Este trabalho contesta e relativiza essa visão, mostrando que essa ideia, provavelmente, fazia parte de uma estratégia política das elites contemporâneas para reivindicar melhorias, pois esse quadro não se justifica”.
“Ao contrário do que a historiografia tradicional sempre defendeu, a capitania de São Paulo não vivia isolada nem tampouco estava despovoada, sobrevivendo de uma economia de subsistência, à época da chegada do governador d. Luís Antônio de Sousa Botelho, o morgado de Mateus (1722-1798), em 1765, quando deixou de ficar adjudicada à capitania do Rio de Janeiro. Esse período que se iniciara em 1748 sempre foi visto por historiadores mais antigos, como Roberto Simonsen (1889-1948) e Caio Prado Júnior (1907-1990), como de completa decadência e isolamento em relação às demais regiões da América portuguesa, em comparação com as capitanias do Nordeste e da zona de mineração, que apresentavam padrões de crescimento superiores”.
“Hoje, esse conceito tem sido revisto ou relativizado, ao reconhecer-se que, se São Paulo não dispunha de uma economia pautada na grande lavoura monocultura e escravista nem na extração mineral, teve participação decisiva no avanço em direção ao Oeste e à descoberta das minas de ouro ao final do século XVII, além de, geograficamente, localizar-se no entroncamento de importantes circuitos regionais, terrestres e fluviais. E que esse fator continuou a pesar decisivamente no rumo do desenvolvimento da capitania”.
“Lorena era muito ligado ao capitalista Jacinto Fernandes Bandeira, grande negociante de Lisboa, que tinha livre acesso ao governo no Reino e passara a cuidar de seus negócios particulares em Portugal. Em contrapartida, Lorena facilitava os negócios de Bandeira com a América portuguesa. Ou seja: a venalidade constituía uma prática corriqueira, pois, embora por lei o governador e capitão-general não pudesse fazer negócios particulares, acabava para fazê-lo por interpostas pessoas. Lorena seguia também a orientação do ministro Martinho de Melo e Castro, do Ultramar, que procurava diminuir a influência dos traficantes fluminenses de escravos, que já haviam estabelecido relações altamente lucrativas nas possessões portuguesas na África. Não obteria êxito porque, a essa altura, já houvera uma inversão na relação reino-colônia: ou seja, a América portuguesa já era economicamente mais poderosa que Portugal”.
“Da vida privada de Lorena, há registros posteriores, ditados pela tradição oral, mas não corroborados por documentos de arquivo, segundo os quais ele e sua comitiva eram gente que não poupava a violência quando falsas promessas e astúcias não bastavam para a corrupção de donzelas incautas. Diziam que, à noite, ele costumava invadir sorrateiramente os quintais das propriedades próximas à casa do governo atrás de donzelas. Tendo 32 anos de idade ao chegar a São Paulo, Lorena era solteiro e logo manteria duas amantes paulistas que atuariam como intermediárias em muitos negócios do governo. Depois de São Paulo, Lorena foi governador e capitão-general de Minas Gerais e, em 1807, tornou-se vice-rei da Índia, ficando lá até 1816. Voltou para o Rio de Janeiro, onde morreu em 1818”.
Texto publicado originalmente no site MegaBrasil (www.megabrasil.com.br).