VITORINO DE SOUSA
Montada numa grande e bela borboleta,
a Musa Menina chegou e disse com voz de fada:
Meu Poeta:
Quando a tua Alma Clara foi fundada
todos Nós vimos nela a cor do Fogo Criador.
Mas, um dia, ela teve de descer à Terra
para ajudar a combater a Maldade.
Então, a Força Negra (que o Olho da Vida cerra)
aplicou nela, lentamente, mais de mil madeixas
usando a cor sombria do seu próprio desamor.
Percebes agora por que tanto te queixas?
Meu Poeta:
Na hora sagrada de estruturar a tua alma,
todos Nós a vimos a vibrar o Som Sensível.
Mas, um dia, ela teve descer à Terra
para ajudar a combater a Falsidade.
Então, a Força Negra (que a Luz desterra
usando o ruído que inda hoje é bem audível)
ensinou-lhe a “Arte De Não Perdoar”.
Percebes agora por que te sentes tão falível?
Meu Poeta:
Quando, finalmente, a tua alma ficou pronta,
todos Nós a vimos a entoar o Grande Canto.
Mas, um dia, ela teve de descer à Terra
para ajudar a combater a Ruindade.
Então, a Força Negra (que a Justiça enterra
pra que os justos não descubram a Verdade),
ensinou-lhe “A Arte Vil do Desencanto”.
Percebes agora o que corrói a tua vontade?
Se não te defendi de tamanha distorção
é porque eu – a tua Musa Menina – só inspiro
o que escreves, cumprindo a minha missão.
Meu amigo: Eu, que muito te dou, nada te tiro!
Posto isto, por que haveria eu de duvidar
do amor mais puro que desta vida retiro?
Ilustração em vídeo
https://youtu.be/oyW_5DO_ZNw
Vitorino de Sousa