A Literatura como possibilidade de formação e atuação na Educação Básica

 

MARGARETE BERTOLO BOCCIA
Margarete Bertolo Boccia (Brasil). Coordenadora do curso de Pedagogia . Unidade Vergueiro e EAD. Universidade Nove de Julho – UNINOVE


O presente texto tem por objetivo descrever o projeto desenvolvido por alunos do curso de Pedagogia, com alunos de uma escola pública estadual da Educação Básica – Ensino Fundamental I – 1º ao 5º ano. O projeto foi denominado Leitura Dramática e esteve inserido ao PIBID/UNINOVE (Programa Institucional de bolsa de Iniciação à docência) aprovado pela CAPES. Esse projeto visa proporcionar a aproximação entre os alunos das licenciaturas e as escolas públicas, com a possibilidade de atender a duas necessidades: melhorar a formação desses futuros professores e oferecer às escolas alunos interessados a possibilitarem aos alunos ali matriculados atividades práticas e novas perspectivas.

A literatura por meio da leitura de diversas obras possibilita ao sujeito exercer sua cidadania. A escola é o espaço para o desenvolvimento da leitura, mas a formação do aluno leitor ainda é objetivo a ser alcançado, mas ações e propostas que construam esse caminho, podem favorecer que o mesmo seja alcançado com maior rapidez.

O projeto “Leitura Dramática”, foi elaborado coletivamente entre equipe gestora, professoras supervisoras da escola, alunos pibidianos e coordenadoras de área da IES parceira. Em sua versão final, apresentou os seguintes objetivos:

  1. analisar como ocorre o processo de incentivo à leitura no ambiente escolar;
  2. buscar estratégias que ajudem nas atividades de leitura na sala de aula;
  3. oferecer leitura prazerosa aos alunos;
  4. aperfeiçoar a leitura fluente;
  5. resgatar, em classe, a prática de contar e ouvir histórias que possibilite o desenvolvimento das habilidades de ouvir com atenção e compreender o que está ouvindo;
  6. desenvolver através da dramaticidade a leitura e assim atingir o interesse, o encanto e a participação de todos.

O referencial teórico baseou-se em autores renomados da área da Literatura Infantil brasileira, como Abramovich (2006), Cunha (1991) e Coelho (2006).

Para a escolha dos livros, os alunos referenciaram-se em Coelho (2006) que apresenta dois pontos importantes de serem considerados, no momento da escolha de um livro a serem trabalhados com alunos: a escolha de um gênero literário adequado à idade dos alunos; e a verificação da adequação da linguagem. Complementa ainda que após a escolha, um planejamento deve ser estruturado: leitura prévia, identificação de elementos destaque (narrador, personagens, fatos, contexto, etc); compreensão da estrutura narrativa; dominar o enredo (introdução, transição da história, clímax e desfecho).

Nas palavras de Coelho (2006)

Constatada a importância da história como fonte de prazer para a criança e a contribuição que oferece ao seu desenvolvimento, não se pode correr o risco de improvisar. O sucesso da narrativa depende de vários fatores que se interligam, sendo fundamental a elaboração de um plano, um roteiro, no sentido de organizar o desempenho do narrador, garantindo-lhe segurança e assegurando-lhe naturalidade. O roteiro possibilita transformar o improviso em técnica, fundir a teoria à prática. O primeiro passo consiste em escolher o que contar (p. 13).

O preparo da atividade envolveu a escolha do livro, preparação de figurino, seleção de material para cenário, imagens para composição do fundo, etc.

A escolha dos alunos pibidianos foi por trabalharem o livro Menina Bonita do Laço de Fita, pois como ressalta Abramovich (2006) lidar com conteúdos próximos à realidade do aluno aproxima-os de sua condição humana.

A aluna pibidiana Camila[1] relata sua experiência no projeto:

Apresentamos uma dramatização do livro “Menina Bonita do Laço de Fita” da Autora “Ana Maria Machado”. Um livro muito bom para trabalhar com os alunos, as diferenças.

Apresentação foi realizada no 3° ano, o desenvolvimento da leitura foi realizada de modo bem lúdico, construímos os personagens para os alunos interagirem com a história.

Ao termino da leitura perguntamos às crianças o que acharam do livro, eles mesmo começaram a contar o que vivenciavam no seu dia-a-dia, e que todo mundo é diferente, mas é ser humano, não importando sua cor, religião, pais, idiomas e etc…(Aluna Pibidiana Camila)

Já a aluna Paula descreve com mais detalhes o processo de desenvolvimento do projeto e ainda, indica o objetivo dos alunos participantes:

Foi-nos proposto desenvolver uma leitura dramática, a qual seria apresentada aos alunos. Nos reunimos para decidir o livro que iriamos trabalhar, e escolhemos a história da menina bonita do laço de fita. Optamos por trabalhar com essa história por tratar sobre um assunto que achamos importante desenvolver na faixa etária dos alunos do terceiro ano, por abordar a questão da diversidade de culturas, gêneros e o preconceito de raças que há nas escolas. Após ler a história e discutimos a forma como apresentaríamos, começamos a desenhar os personagens principais com todos os detalhes em particular de cada um.

Finalizadas as últimas preparações fizemos alguns ensaios e finalmente apresentamos. Contamos e encenamos a história, envolvendo os alunos na trama ao chama-los para participar no final, segurando alguns dos muitos coelhos, que eram personagens da história, ao que eles se mostraram entusiasmado em contribuir.

Nosso objetivo principal foi mostrar que existem raças diferentes, mas cada um tem a sua peculiaridade e beleza, que não existe ninguém melhor do que ninguém e que é necessário nos respeitarmos para vivermos numa sociedade justa e igualitária (Aluna Pibidiana Paula).

A escolha por desenvolverem o projeto a partir do caminho dramático pode ser respaldado por Cunha (1991) que afirma “o teatro tem sido, desde as culturas mais antigas, uma fonte de cultura e educação, tanto para quem interpreta como para os que o frequentam” (p.135); reforçando a importância para a formação desses futuros professores.

A coordenadora Cecília destaca o trabalho desenvolvido pelas alunas: 

As estagiárias foram muito criativas nos recursos propostos ao aplicarem a leitura dramática como: colaboração dos alunos da própria turma ao desenvolver a leitura; confecção de imagens dos personagens para a dramatização; utilização de fantoches; e a própria confecção dos fantoches que representassem os personagens da história (Coordenadora da Escola, professora Cecília).

Atendendo ao objetivo principal do programa PIBID e demonstrando o fortalecimento da integração entre escola e universidade, a coordenadora amplia seu relato indicando que as alunas não estiveram na escola, apenas desenvolvimento atividades práticas, mas também desenvolvendo o processo de reflexão-ação.

Ao final de cada leitura as estagiárias deveriam responder algumas questões, que possibilitassem uma análise de como foi o desenvolvimento da proposta, observando os pontos positivos e negativos de todo o andamento da atividade de leitura.

Portanto, foi muito positivo o desempenho de algumas estagiárias durante este semestre, estando sempre disponíveis para ajudar quando solicitadas e desenvolvendo atividades que ajudam o bom desempenho dos alunos no seu processo de aprendizagem. Assim, essa aproximação entre universidade e escola propícia de uma maneira dinâmica e participativa uma melhora na qualidade da educação (Coordenadora da Escola, professora Cecília).

Demonstrando que esse círculo virtuoso foi estabelecido, o relato da aluna Paula confirma:

Cumprir o estágio foi uma experiência de grande importância para minha formação, pois não tinha ideia de como funcionava uma escola pública de período integral.

[…] Creio que a escola só consegue alcançar êxito no aprendizado dos alunos quando todos independente de sua função, trabalham juntos tendo o educando como foco principal na missão da escola. Pude ver a rotina das crianças, dos professores e demais funcionários, cada um fazendo seu papel para o bom andamento da escola.

[…] Foi uma experiência riquíssima, pois pude fazer referência daquilo que estava aprendendo na faculdade com as vivencias do dia a dia na escola, o que me ajudou a compreender melhor algumas situações.

As professoras que mais tive contato me deram a oportunidade de vivenciar e entender como funciona uma sala de aula, por exemplo: a forma como ocorre o aprendizado, as dificuldades recorrentes, falta de apoio da família e a indisciplina, são fatores que influenciam no resultado final. Aprendi que como futura professora devo me comprometer com o aprendizado dos alunos, ter uma postura firme, mas não autoritária, pois os educandos são os primeiros a perceber quando o educador não se empenha naquilo que se propõe a fazer.

Acredito que contribui com a escola participando e colaborando naquilo que me foi proposto fazer e com certeza essa experiência agregou valores e aprendizados importantes que antes não possuía, os quais irá me tornar uma pessoa e futuramente profissional melhor (Aluna Pibidiana Paula).

O relato da aluna demonstra a importância de ter a experiência e o contato com alunos, direção, professoras e mais, o significado de articular o estudo com o vivenciado, ou seja, teoria e prática. Ressalta a percepção da importância do envolvimento com o processo de ensino e aprendizagem dos alunos da escola.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

O presente texto teve como objetivo apresentar a proposição e o desenvolvimento do projeto leitura dramática, que foi desenvolvido em uma escola estadual da rede pública de São Paulo, em parceria com a universidade, vinculados ao Programa PIBID, que objetiva a qualificação da formação de futuros professores.

A escola tem entre outros objetivos a formação de leitores, o desenvolvimento pelo gosto à leitura e era esse também os objetivos do projeto proposto à escola e aos alunos; acesso à literatura por meio de atividades de dramatização.

A literatura infantil pode ser considerada uma valiosa ferramenta para a construção de diferentes saberes; por meio da formação, estudo, fundamentação teórica construiu-se o projeto, desenvolveu-se a atividade como uma nova prática e desenvolvimento de um trabalho efetivo com a literatura infantil. Buscou-se a coerência entre o teoria e prática e, consolidou-se ainda uma proposta rica, como relatado, tanto para as alunas pibidianas estagiárias, para os alunos da escola, quanto para a equipe gestora.

 


Referências Bibliográficas: 

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil. Gostosuras e bobices. São Paulo: Editora Scipione, 2006.

COELHO, Betty. Contar Histórias – uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 2006.

CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil. Teoria e Prática. São Paulo: Ática, 1991.

[1] Todos os nomes utilizados são nomes fictícios